domingo, 11 de dezembro de 2016

Núvens negras no horizonte

Marcelo vai distribuindo afectos, Costa respira optimismo, Catarina e Jerónimo apregoam vantagens para os trabalhadores, Até parece que vai tudo bem. Que Passos Coelho se enganou redondamente, ao anunciar que vinha aí o diabo. Vinha e já não vem? Infelizmente a comunicação social portuguesa tarda em dar uma, quanto mais várias respostas. Donde a necessidade de procurar alhures. É o que tenho tentado fazer.
Numa longa peça bem ao seu estilo, o conceituado Le Monde ocupa toda uma página sob o título "Os mercados financeiros preferem ver o futuro cor de rosa". Segue-se uma apresentação e depois nove curtos capítulos, 4 favoráveis e 5 desfavoráveis. Os 4 favoráveis, marcados com uma flechinha verde são: 1 - A conjuntura económica mundial que vai melhorando; 2 - Os mercados acreditam nas promessas de Trump; 3 - A retoma orçamental recomeçou; 4 - Começou a"grande rotação" (para os menos conhecedores destas coisas, a "grande rotação" acontece quando os investidores decidem vender as obrigações que detêm para comprar acções, que começam a proporcionar maiores ganhos em bolsa).
Os 5 capítulos desfavoráveis, ou pelo menos problemáticos, marcados com flechinhas vermelhas, são os seguintes: 1- A subida do dólar pode vir a fragilizar os países emergentes; 2 - As promessas de Trump podem não passar no Congresso americano; 3 - Continua a incerteza sobre o impacto das medidas do BCE; 4 - O risco político pode voltar a surgir na Europa; 5 - O receio de uma crise bancária continua presente.

Deutsche Bank enfrenta uma das maiores crises da sua história. Fotografia: REUTERS/Kai Pfaffenbach
A sede do Deutsch bank (Foto Reuters)

Dado o interesse para os portugueses, passo a traduzir o referido capítulo 5:
"Ainda não decorreram dez anos sobre a crise de 2007, mas eis que a Zona Euro começa de novo a tremer por causa dos seus bancos, temendo que estes venham a comprometer a estabilidade. A limpeza sem concessões das respectivos contas e o desaparecimento dos bancos "zombies" não foram levados ao seu termo com o vigor necessário. Subsistem bolsas de fragilidade, que agora se tornam evidentes, quando se trata de financiar a retoma da economia. Essas bolsas são três. Duas em Portugal e em Itália, dois países em que todo o sector bancário, subcapitalizado, sufoca sob o peso da crise e das imparidades. Uma na Alemanha, cujos problemas se cristalizam no número um, o Deutsch Bank, com um volume de negócios que representa 10% do PIB da Zona Euro.
A Itália é, de longe, o primeiro problema bancário dos europeus. Porque a instabilidade resultante da vitória do não no recente referendo de 4 de Dezembro, sobre a reforma da Constituição, hipoteca a recapitalização, que é vital, dos seus bancos, entre os quais avulta o Monte dei Paschi di Siena. O processo de saneamento dos créditos duvidosos dos bancos italianos (360 mil milhões de euros) vai também sofrer atrasos." 
Marie Charrel, Anne Michel e Audrey Tonnelier, Le Monde, Economie et Entreprise, 10/12/2016, página 2.
Tradução e adaptação de António Rebelo 

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