terça-feira, 6 de dezembro de 2016

O PCP, a CDU e os eleitores tomarenses

Conforme pode ser confirmado aqui, átomos iguais repelem-se enquanto átomos diferentes se atraem. Não se trata portanto de nenhuma teoria pessoal. Faz parte das leis da física. Procurei confirmar essa constatação à primeira vista absurda porque, lendo usualmente bastante, acabo de me informar sobre o XX Congresso do PCP.
Tudo afinadíssimo, a correr sem sobressaltos ou sequer estados de alma. Os congressistas foram convocados e estavam ali com tarefas bem claras e bem explicadas. Aplaudir os camaradas dirigentes, votar conforme as instruções recebidas e aceitar as verdades do partido. No fundo, bem vistas as coisas e mal comparado, tal como nas missas católicas. Reinou o entusiasmo e a unanimidade, sendo certo que, tanto num caso como outro, só vai quem quer e é convocado. Num caso pelo sopro divino, no outro pelo Comité central.
A provar que tudo correu como previsto = a muito bem, Jerónimo de Sousa foi reeleito secretário-geral, com mais de 98% do votos. Apesar dos rasgados elogios ao falecido herói Fidel Castro e da proclamação solene de que o partido continua a ser comunista e tem muito orgulho nisso. O que afinal nem surpreende, uma vez que se trata praticamente do único sobrevivente na Europa ocidental ainda com alguma expressão, num mundo político que já foi. Uma relíquia ainda bem viva, felizmente. E digo felizmente, porque sem as suas reivindicações no seio da geringonça...

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Essa fidelidade dos militantes e dirigentes do PCP a princípios e valores que a prática já demonstrou que não servem mais nos tempos que correm, é naturalmente de louvar pelo que  representa de constância nas ideias. Assim uma espécie de fé laica num futuro melhor, que é inevitável, segundo continuam a sustentar. Com tal comportamento político e sem eventualmente o desejarem sequer, são afinal extremamente parecidos com os eleitores tomarenses em geral. Na minha maneira de ver, como é óbvio.
Com efeito, tanto tomarenses como comunistas proclamam, como todos sabemos, que quem não é por eles é contra eles; que eles é que têm razão, os outros estão todos enganados; que  eles é que são sérios, competentes e desinteressados, os outros só querem é tacho; que eles é que são serenos e educados, os outros são todos demasiado agrestes e pouco polidos; que eles é que são fiéis, os outros são vira-casacas, e assim sucessivamente. Com a sua longa experiência, os comunistas conseguem até resumir tudo numa curta sentença; "Quem não é do partido nem compagnon de route, só pode ser anti-comunista". E os tomaristas, alicerçados numa experiência de séculos, são ainda mais sintéticos: "Nunca fez nada por Tomar!" Esquecem-se depois todos de explicar dois detalhes: O que é, em bom rigor, fazer alguma coisa por Tomar? Com tantos que decerto já fizeram muito por Tomar, e continuam fazendo, porque estamos cada vez pior? Uma vez que há pensadores a garantir que a melhor resposta a várias perguntas ainda é uma outra pergunta englobadora, ela aqui vai, essa dita interrogação metodológica: Se tomarenses e comunistas pensam praticamente do mesmo modo, e agem em conformidade, qual a explicação para os fracos resultados do PCP, coligado na CDU, no concelho de Tomar? Mais precisamente, porquê pouco mais de 1.800 votos, mesmo com um candidato tão bom como Bruno Graça, que já não precisa de provar nada a ninguém, porque tem obra feita, como dizem os próprios comunistas?
Foi então que me lembrei da física nuclear, dos átomos que se atraem e dos que, pelo contrário, se repelem. Ou seja, em síntese, os iguais repelem-se, mas os contrários atraem-se, como foi dito no início destas linhas. Donde se pode concluir que em política, pelo menos no concelho de Tomar, sucede algo praticamente idêntico. Na sua esmagadora maioria, os eleitores tomarenses, conquanto não sendo filiados no PCP ou  sequer seus simpatizantes, partilham afinal as mesmas práticas e as mesmas ideias. Por isso  e só por isso se repelem, não votando CDU, como seria normal. Por isso e só por isso, têm escolhido tão magníficos presidentes e tão excelentes equipas, que tão bons resultados têm alcançado. Por isso e só por isso, estamos aqui em Tomar cada vez melhor, rumo a uma sociedade sem classes, com apenas duas camadas sociais -os funcionários públicos e os reformados. E vivó progresso, que o futuro é já ali atrás!

Actualização

Terminada a leitura, acha que fui injusto? Anti-comunista? Direitista? Pouco ou nada tomarense?
Então faça o favor de ler esta peça, escrita por quem viveu e trabalhou longos anos em Moscovo.
Lida a opinião de José Milhazes, já compreende melhor o meu ponto de vista? Ainda não está convencido? Pois tenha então a bondade e a paciência para ler isto. É um bocado extenso, mas creio que vale a pena. Mesmo que você seja do PCP.

anfrarebelo@gmail.com


1 comentário:

  1. Eu até era para ler, mas como já sei quem é (ou são) o Observador, esse jornal que não é jornal, desisti logo. Ler o Observador é como ler um jornal de um clube desportivo, só lá vamos para ler de que forma apresentam a sua "realidade", não a geral.

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