quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Maneiras de ver

Por causa do encerramento do parque de campismo e das placas de sinalização que a câmara ainda não retirou, resolvi dar a volta à cidade como se fosse um turista. Ou seja, agi como se fosse o outro, de forma a olhar de fora para dentro. Exactamente o inverso do que usa fazer o Leonardo Capricho, que olha sempre de dentro para fora. Como se a câmara fosse o umbigo do Mundo. Fá-lo por capricho, claro. Marcado pela agora célebre Unidade de queimados, suprema afronta para quem se julgava parte integrante da casta dos intocáveis. Porque o nome do Leonardo que serviu de modelo é Capri, Leonardo di Capri. E Capri é uma belíssima ilha. Logo, essa do capricho tem muito que se lhe diga.
Eu, por exemplo, se tivesse que adoptar um pseudo, escolheria também um Leonardo. Mas não o di Capri. Antes o da Vinci, ou o Cohen, Leonard Cohen. Para dar música ao pessoal. Como venho fazendo.
Nessa ronda pelas entradas da urbe na pele de um turista, fiquei bastante triste com alguns detalhes do que vi, mas também me ri com outros. Afinal, constatei, é sempre o mesmo problema. Há muitas maneiras de ver, porém todas subordinadas a um de dois posicionamentos -de dentro para fora, como faz o  Capricho, como fazem quase todos os políticos instalados; e o inverso, de fora para dentro, procurando sempre entender o outro e portanto todos os outros. Aquilo a que usualmente se chama abertura de espírito.
Mas vamos lá então à minha ronda como turista. Aos aspectos tristes e aos caricatos.
O incauto turista que resolva usar o caminho de ferro para chegar a Tomar e não preveja um GPS ou no mínimo um guia impresso, ao sair da gare está perdido:


Como se constata, não existe sinalização alguma. Nem sequer uma reles seta a apontar para o centro da cidade. Uma cidade cujos autarcas, apesar destas falhas clamorosas, continuam a proclamar que é uma cidade de turismo. Pois...


Se o desditoso visitante, vindo de sul, optou pelo carro próprio ou de aluguer sem condutor, tendo resolvido sair em Santa Cita, teve manifestamente pouca sorte. Ao chegar ao primeiro cruzamento urbano, a sinalização é abundante mas praticamente inútil para turistas, com duas excepções: Santa Maria dos Olivais e S. Francisco. Quanto ao resto, minha nossa senhora! Falta o essencial, mas abunda o redundante: Terminais, Tribunal, Comunidade intermunicipal, Escolas, Cemitério, Casa mortuária, são indicações úteis para quem?  
Convento de Cristo? Turismo? Centro histórico? Isso só interessa aos turistas. Não aos do Império dos sentados. Por isso é melhor não pôr.

Para não cansar o leitor, continua no próximo capítulo. Amanhã também é dia.

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