Podia começar pelo clássico "diz-me do que falas, dir-te-ei quem és e o que vales". Neste caso porém, sem querer comparar bípedes em princípio inteligentes com quadrúpedes em princípio broncos, parece-me mais adequado o anexim alentejano "o porco só pensa na bolota". Isto porque, pasme-se, "A qualidade das refeições escolares foi objecto de análise no executivo municipal", diz a Rádio Hertz. Que acrescenta esta conclusão de mão cheia dos senhores edis tomarenses: "A alimentação não tem a qualidade que se deveria exigir."
Noutros termos e se bem entendi, num concelho onde abundam os problemas magnos em todos os sectores, sete maduros à volta de uma mesa, alguns dos quais generosamente estipendiados e fazendo disso modo de vida, resolveram entreter-se a conversar sobre a sua, lá bem no fundo, principal preocupação -cuidar da barriguinha. Porque, guiado pelos hábitos da casa, não acredito que tenham analisado ou sequer debatido a coisa. Isso tem regras e exigiria bastante trabalho prévio. Limitaram-se por isso a debitar generosas generalidades, entremeadas com vacuidades polivalentes.
A prova do que afirmo é que, lendo a notícia da Hertz, nem sequer se fica a saber porque é que a comida escolar não tem a qualidade que se deveria exigir". Gordura a mais? Tempero a menos? Excesso de sal? Pouco peixe? Carne fraca? Pouca variedade? Mau aspecto? Confecção deficiente? Pouca quantidade? Tudo perguntas sem resposta. Os encarregados de educação e as adoráveis criancinhas queixam-se. Mas de quê?
Gente vivida, de grande pedalada, que rompeu vários fundilhos nos bancos das universidades e nas cadeiras das bibliotecas, ou em casa a olhar para o ecrã, os directores dos agrupamentos escolares não tiveram qualquer dificuldade para ir logo ao âmago da questão: No fundo, terão deduzido, o que os senhores autarcas querem é ir enchendo os bandulhos respectivos. naturalmente com comida da melhor qualidade possível. E bem regada!
Vai daí convidaram os membros do executivo para uma ou várias almoçaradas à custa dos contribuintes. Belo tiro, sim senhor! Que mata diversas peças. Umas de pele bem grossa, outras de bico amarelo.
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