Vimos no texto anterior que os ciganos tomarenses, habitantes do miserável e chocante acampamento do Flecheiro, são sedentários. Há mais de 40 anos, acrescente-se. Carece por isso de sentido prático procurar obter fundos comunitários para a instalação de um parque destinado a nómadas. Além de não se ver bem onde poderia ser instalado a contento dos interessados.
Sedentários portanto, os ciganos continuam a ser em grande parte casos sociais, por manifesta marginalidade em todos os sentidos. Nem a sociedade se esforça muito para os integrar, nem eles no fundo se querem integrar. Para alterar positivamente tal estado de coisas, acabando de vez com o triste espectáculo do Flecheiro, é por isso indispensável e urgente proporcionar-lhes antes de mais alojamento digno. Cujos encargos mensais terão naturalmente de pagar. Em último caso mediante desconto coercivo no rendimento de subsistência.
Tanto Bruxelas como Lisboa ou a banca comercial, dispõem de recursos para a construção de habitações sociais. Ponto é que a autarquia tomarense se deixe de blábláblá de circunstância e passe a trabalhar eficazmente no sentido de resolver o problema dos ciganos da borda do Nabão. Assim: 1 - Não sendo legalmente possível, porque discriminatório, projectar e edificar um bairro só para os ciganos; 2 - Não sendo realista pretender alojar toda a comunidade nas habitações urbanas actualmente existentes; 3 - Conhecidos os pruridos racistas não assumidos da população tomarense de menores recursos materiais e intelectuais, que a impelem a rejeitar os ciganos; há várias soluções disponíveis, mas só uma é a melhor.
Tenho para mim que essa melhor solução do problema cigano nabantino é o realojamento no Bairro 1º de Maio. Não no actual, que manifestamente há muitos anos que está a pedir uma reabilitação de fundo. Não só para facultar condições actuais de habitabilidade, mas também para pôr cobro a chocantes situações de abuso e manifesta ilegalidade (agregados cujo rendimento é superior ao fixado para a ocupação de alojamentos sociais, gente que tem casa noutro lado e subaluga a do bairro ou a mantém fechada por que é barata, quintais ocupados com construções ilegais sem condições mínimas de segurança...)
Creio que andaria bem a autarquia encomendando um projecto para a construção de 200 habitações sociais, em edifícios de 3 pisos (r/c + 2), nos actuais quintais, que nada justifica nos nossos dias. Uma vez concluído esse novo conjunto, nele seriam realojados todos os membros da comunidade cigana do Flecheiro que assim o desejem, bem como os actuais moradores do bairro que satisfaçam as condições legalmente fixadas para beneficiarem de habitação social.
Concluído o realojamento, o velho bairro 1º de Maio que agora existe seria demolido e os terrenos assim tornados livres transformados em lugares de estacionamento e espaços verdes. Quanto à favela do Flecheiro, ao que parece a actual gerência camarária tem um projecto. Terá mesmo? Ou será, mais uma vez, apenas 31 de boca?
Sucintamente é isto. Haverá coragem? Haverá empenhamento? Haverá capacidade? Logo veremos...
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