Recordam-se os leitores certamente daqueles cortejos de automóveis em marcha lenta, ali entre Bombarral, Torres Vedras, Peniche e Óbidos. Reivindicavam trânsito sem portagens na A8 entre aquelas localidades. E conseguiram o que queriam.
Recordam-se também decerto que o mesmo aconteceu mais recentemente na A23, desta vez para reivindicar ausência de portagem entre Torres Novas, Entroncamento, Barquinha e Constância. O que também conseguiram.
Numa outra área -a da informação e debate de ideias- têm também presente um caso singular. Cada vez que o pobre escriba destas linhas diz umas tantas verdades mais incómodas tal como as vê, é logo acusado de pessimista congénito, demasiado agreste e quase sempre inconveniente. Mal educado, em suma.
Aparece agora em Tomar Opinião um bom texto de António Lourenço dos Santos, geralmente considerado uma das melhores cabeças da sua geração. Sob o título Portagens e interioridades, anota e interroga, em tom de lamentação, porque continuam os tomarenses a pagar portagem na A13, mesmo no minúsculo troço entre os dois acessos à cidade. Fá-lo nos seguintes termos: "Porque é que aceitamos este estado de coisas? Não sabemos. Mas ainda é tempo de intervir, por quem tenha autoridade e condições para isso."
Não sabemos?!? Sabemos sim, prezado amigo António. E sabemos muito bem. Exactamente porque somos como somos. Todos temos bom apetite e gostamos muito de comer. Mas têm de nos pôr a comidinha no prato. Caso seja preciso servir-se ou, pior ainda, prepará-la, preferimos passar fome. Exagero meu? Creio que não. Aliás, tu próprio, quiçá sem disso te dares conta, confirmaste antecipadamente aquilo que acabo dizer. Ao escreveres que "ainda é tempo de intervir, por quem tenha autoridade e condições para isso", topa-se que estás mesmo a pedir comida pronta e servida no prato. Porque afinal, que autoridade ou condições tinham os automobilistas protestatários da A8 e da A23? E no entanto conseguiram. Porque não se ficaram à espera que outros lhes viessem servir a papinha já pronta e no prato. Tiveram coragem para arriscar. Para dar o peito às balas. Em sentido figurado, bem entendido. Para exercer o seu direito de cidadania. O que nunca é cómodo.
Portanto, desculpa lá caríssimo António mas, no meu tosco entendimento, é essa a causa da coisa. Que já nos trouxe onde estamos e vai continuar a desgraçar-nos enquanto comunidade. Ou mudamos ou morremos como tomarenses.
Tens dúvidas? Então pensa lá um bocadinho: Se o Gualdim, que era de Braga, tem ficado à espera que outros, com autoridade e condições para isso, edificassem o castelo, achas que alguma vez teria havido tomarenses?
Tens dúvidas? Então pensa lá um bocadinho: Se o Gualdim, que era de Braga, tem ficado à espera que outros, com autoridade e condições para isso, edificassem o castelo, achas que alguma vez teria havido tomarenses?
Pois bem, meu Caro Antonio,
ResponderEliminar"Autoridade e condições para isso" porque há eleitos para representar os cidadãos, quando é caso disso. Este é um caso "disso".
Entendo que os eleitos não o são (só) para os trabalhos de casa, mas tambem para darem a cara e o corpo às balas, quando for caso disso. Para representarem e defenderem, que é assim que funciona o regime democratico.
Chamo a atenção para uma gritante injustiça de que somos alvo em Tomar. E é para a avaliar e assumir, ou não, que existem os "eleitos".
Que façam o seu trabalho.
Quanto a manifestações, destas que sugeres, encontro-lhes pouca ou nenhuma efectividade.