Há uma semana, em Tomar a sangrar, referindo-me ao vereador Serrano, escrevi: "De qualquer forma, é visível a olho nu que deixou de se sentir confortável como elemento do actual elenco." Posso portanto dizer agora, perante o novo murro na mesa dado ontem por Serrano, ao enviar à informação local uma complexa mensagem comunicando a sua 2ª renúncia aos pelouros neste mandato, que era previsível. Tal como acontece com o futuro político do actual executivo. Com Serrano, mesmo coxo vai até ao fim, mas poucas hipóteses tem de vencer em 2017. Sem Serrano está perdido. Salvo inesperadas e muito improváveis novas alianças...
Foto Rádio Hertz (modificada)
Tomar na rede, um dos raros sítios onde se pode ler de quando em vez boa análise política local, ainda que acobertada em nomes supostos, titulou ontem a sua notícia "Vereador Serrano "bate com a porta". Não me parece de todo que seja o caso. Desde logo porque o vereador socialista não saiu. Limitou-se por agora (?) a "dar um murro na mesa". Ou, para quem preferir, resolveu "falar alto", de maneira a ser ouvido fora e conseguir assim que o passem a ouvir dentro.
Lida e relida a carta de Serrano, concluí haver nela três partes distintas. Na primeira queixa-se veladamente da falta de liderança de Anabela Freitas e das abusivas intromissões do seu chefe de gabinete de então, que forçaram o arquitecto/vereador a renunciar aos pelouros em Janeiro deste ano. Já então, como me parece lógico deduzir agora, com o intuito de tentar remediar mediante um gesto de força o que lhe parecia estar mal.
Na segunda parte reforça as suas críticas à camuflada liderança efectiva do vereador da CDU, já antes implícitas, designadamente com uma frase bem pesada mas fora de sítio. A que serve de título à carta aos tomarenses: "Este, claramente, não é o meu executivo". Esta sua atitude, nada colaborante para com o vereador Bruno Graça, resulta claramente do facto de, uma vez mais e tal como já sucedia antes de Janeiro deste ano, se sentir desautorizado de forma reiterada. Demasiado desautorizado: "...reiniciou-se o constante pôr em causa das responsabilidades que vinha assumindo, sempre no interesse dos tomarenses..."
Na terceira parte enfim, diz ao que vem, embora de maneira deliberadamente ambígua, creio eu: "Não havendo da minha parte confiança nesta liderança política, à qual não reconheço credibilidade para liderar os destinos do nosso concelho, nada mais me é possível fazer, porque acredito no valor das coisas e não no tempo que elas duram."
Que liderança política? A da presidente, que não existe? A de Bruno Graça, que é demasiado óbvia? Ambas? Ao escrever "porque acredito no valor das coisas e não no tempo que elas duram", está a referir-se mais precisamente a quê? À "equipa" que venceu por pouco as eleições? À coligação? Às duas?
Perante esta acção política corajosa, mas também ambígua pelo menos por enquanto, creio que a fraca oposição que temos vai embandeirar em arco. Faz mal. Na verdade, a decisão de Serrano colocou-o por agora apenas e só no meio do rio. Entregou os pelouros mas decidiu continuar como vereador. Torna assim possível que a presidente lhe mantenha o vencimento enquanto ele "votar bem", alegando que não aceitou ainda a renúncia aos pelouros. E pode vir a demonstrar na prática que, se não é possível para Serrano trabalhar eficazmente com o PS nas difíceis circunstâncias actuais, com a oposição também não, por manifesta ausência de projecto coerente e realista..
Porque para mim, e julgo que para a generalidade dos eleitores que se interessam por estas coisas e têm mesmo cabeça para isso, é óbvio que, caso resolva emparceirar com os dois vereadores PSD e com Pedro Marques, o vereador dissidente "tem o executivo na mão". E pode vir a fazer praticamente o que quiser. Naturalmente em concordância prévia com os parceiros de circunstância.
Ou estamos apenas perante o primeiro grande acto público de preparação das próxima listas autárquicas do PS, que Serrano visivelmente não quer que sejam de coligação com a CDU?
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