Mesmo com os seus defeitos, entre os quais avultam o rancor, o mau feitio e a carência de capacidade de encaixe, Luís Ferreira lá vai animando a política local. Procurando sempre levar a água ao seu moinho, como é natural.
Desta vez, porém, parece-me que se espalhou ao comprido. Os leitores julgarão, após leitura atenta.
No seu blogue vamosporaqui.blogspot.com, o ex-chefe de gabinete, agora funcionário administrativo destacado na secretaria de uma escola de Alpiarça, escreveu um longo texto, do qual reproduzo as partes que me parecem mais significativas:
"O PS foi para o Município para defender o concelho e os trabalhadores"
..."recordo aqui aquele que foi o primeiro despacho da presidente do município, nos dois anos estruturantes e marcantes desta gestão municipal.
Assim, recordando o primeiro despacho da gestão do PS em Tomar -de revogação do anterior despacho do horário de trabalho de 40 horas, foi um marco, um exemplo, e disse claramente ao que vinha.
(De notar que, para que tal fosse concretizado, não foi preciso nenhuma proposta dos ditos "donos" dos trabalhadores. Bastou o PS querer e fazer)"
Luís Ferreira, Vamos por aqui, 20/0272016
Enquanto isto ocorre aqui em Tomar, em França, onde as 35 horas estão em vigor há 16 anos:
"Quem trabalha realmente 35 horas semanais?"
"A duração oficial do trabalho vai continuar a ser de 35 horas semanais? Poderá ser modulado nas empresas, mediante "acordos maioritários", declarou o ministro da economia Emmanuel Macron, em 22 de Janeiro, em declarações à margem do forum de Davos, na Suiça.
Em Setembro passado, uma sondagem publicada no jornal Libération, mostrou um país dividido em relação à duração do trabalho. Uma pequena maioria (52%) preferia continuar com as 35 horas semanais, enquanto 40% se declaravam dispostos a renunciar a esse limite."
Mas qual é efectivamente a duração da semana laboral nos diversos países europeus? E a duração das horas extraordinárias? O leitor fará o favor de ler e interpretar o quadro seguinte. A azul o horário oficial de trabalho hebdomadário. A amarelo as horas extraordinárias:
Temos assim Luis Ferreira, em nome do PS local, a vangloriar-se de uma medida decidida pela sua companheira, que no meu entender vai contra a corrente da história e é uma vergonha.
Vai contra a corrente da História porque em França, onde as 35 horas semanais vigoram desde 2000, tanto no sector público como no privado, o Presidente da República e o governo, que são do PS francês, procuram solucionar tanto quanto possível esse problema, sem desencadear a fúria dos sindicatos. Após 16 anos de prática, já terão percebido que afinal as 35 horas por semana são uma ratoeira para todos. Aumentam a despesa pública, retiram competitividade às empresas e não beneficiam os trabalhadores, obrigados a efectuar horas extraordinárias para compensar a perda de salário. Quando conseguem emprego, que os patrões não contratam ninguém só para 35 horas semanais. Demasiado oneroso, dizem.
A referida decisão de Anabela Freitas é também e sobretudo uma vergonha, numa câmara endividada até às orelhas, onde há funcionários excedentários, e numa terra com forte desemprego onde ninguém beneficia das 35 horas na actividade privada.
A referência desdenhosa do ex-chefe de gabinete aos "donos" dos trabalhadores mostra que toda esta sua arenga não passa afinal de mais um episódio lamentável da sua recente luta sem tréguas contra o vereador da CDU.
Por conseguinte, em conclusão, é meu entendimento que Ferreira se espalhou ao comprido e devia ter escrito, para citar as coisas pelos seus nomes verdadeiros: O PS foi para o município para receber benesses, proteger os funcionários do Império dos sentados e explorar os eleitores. Designadamente os consumidores de água, que a pagam bem mais cara que em Lisboa, apesar de ter a mesma origem e o mesmo fornecedor em alta.
anfrarebelo@gmail.com
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