terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Errar é humano, teimar é burrice

Já aqui foi dito, por outras palavras, que todos os eventos que atraiam turistas fora da época alta são de apoiar. Pelo contrário, organizar eventos que geram custos orçamentais em plena época alta, é um erro crasso. Porque o acolhimento turístico nabantino é muito limitado. Donde resulta que, para além de determinada afluência, perdem todos. Os turistas porque são mal recebidos e mal servidos, a actividade turística local (hotéis, restaurantes, cafés...) porque não pode aproveitar. As coisas são o que são.
Isto a propósito da Festa Templária. Realizada em Maio é uma iniciativa a acarinhar, a melhorar, a difundir. Levada a efeito em Julho, representa duplo prejuízo. Deixa de contribuir para incentivar o turismo na época baixa e vem atravancar um período com muito turismo, por vezes até demasiado. Além de, a cada 4 anos, se encavalitar na Festa dos Tabuleiros, que como se sabe já esgota tudo num raio de 50 quilómetros. Assim sendo, qual a utilidade real da Festa Templária para o turismo local?
Em vez de agirem como cidadãos de um país aberto e democrático, onde tudo se pode e deve debater, dando o peito às balas, os visados pela minha crónica anterior resolveram actuar pela calada. Responderam lateralmente e sem dizerem a quem procuram canhestramente atacar.. Os leitores mais interessado nestas coisas, que queiram ler a dita prosa, devem ir a vamosporaqui.blogspot.com e clicar algures do lado direito em templanima.
De acordo com os génios autores da transferência da Festa templária de Maio para Julho, faltava ao evento qualquer coisa. Uma âncora, como usa dizer-se em mercadologia, "ciência" mais conhecida por marketing. E vai daí, descobriram o cerco do castelo pelas tropas do emir de Marrocos Iacub Al Mansor, em Julho de 1190.
Azar dos azares, nem aqui acertaram. Marcaram a dita festa para o segundo fim de semana de Julho, mas o emir só terá cercado o castelo a partir de 16, na melhor das hipóteses. Isto porque uma tropa de 900 pessoas + 400 cavalos + carroças + bestas de carga, não é propriamente um grupo de 50 turistas, que chega e começa logo a visita. Precisam de tempo para se instalarem, para dar de comer aos animais, para reconhecer o terreno. E só depois... Dado que o emir chegou a 13 de Julho...
Ainda segundo os referidos génios, trata-se de aproveitar como âncora não só o citado cerco, mas também uma lendária luta que dizem ter tido lugar junto à Porta da Almedina ou do Sangue. É altamente duvidoso que tenha havido, ali ou alhures, alguma luta com os árabes sitiantes. Que nem sequer terão tentado invadir a fortaleza templária mediante o habitual e prévio trabalho de sapa, devido ao alambor.


Em todo o caso, a lápide que refere o cerco reza apenas que "o mesmo rei tornou para a sua pátria com inumerável detrimento dos homens e das bestas." Portanto com grandes perdas em homens e em animais. Mas não menciona qualquer luta. O que permite supor não ter havido qualquer luta, mas apenas homens e animais vítimas de doenças provocadas pelos mosquitos e as águas salobras dos pântanos do rio Nabão. Porque, que eu saiba, as bestas de quatro patas não combatem. Pelo que, se houve perdas de bestas...
Em conclusão, errar é humano, mas teimar é burrice. Se a ideia é apenas e só aproveitar o tal cerco como âncora, então façam a festa em Julho mas na segunda quinzena. Para serem mais fiéis à história e para não prejudicarem a Festa Grande dos tomarenses.
Quanto ao tal combate lendário junto à Porta do sangue, pode ser celebrada, mesmo que nunca tenha tido lugar, que é o mais provável. Como disse o realizador John Ford, "Quando a lenda se sobrepõe à realidade, filme-se a lenda". 

anfrarebelo@gmail.com

3 comentários:

  1. Acho que sim insistir eh burrice ..As coisas são o que são. Se lesse realmente o meu blog que nao pretende responder-lhe nem por interposta pessoa, pela simples razao que nao li o seu anterior escrito, de que que apenas hoje me alertaram...teria visto algo de diferente.Primeiramente afirmo o exemplo da festa de Santa Maria da Feira como um caso semelhante onde tb se mudou , por circunstancias proprias, de junho para agosto sem perda de visitantes , antes pelo contario... nao tem nada a ver com epoca alta ou baixa mas sim com conteudos e rigor historico.Tb sou formado em marketing e animação turistica, ha muito tempo, para saber do que falo.
    Depois ,como faz referencias a Templ'Anima , é bom que saiba que nao descobrimos agora o Cerco, mas ja o comemoravamos ha varios anos e achando nós que isso era motivo de festa a comemorar pelos tomarenses, pois bem que a festa Templaria lhes desse algo de seu para comemorar e se orgulharem...ja o defendemos ha anos...se se der ao trabalho de ler-nos... e nao a festa pela festa...sem alma.. E tal fará parte do calendario das festas templarias europeias a inscrever na Rota Templaria Europeia em cuja candidatura um tecnico da CE neste momento trabalha , a ser apresentada ainda este ano. Alem de como ja lhe referi noutro comentario,a festa dos tabuleiros que é so de 4 em 4 anos pode coexistir com esta, dando-lhe menor expressao nesse ano...
    Quanto á leitura de pedras...realmente é azar o seu ... mais uma que nao consegue ler...esta la escrito que chegou a 7 de julho , nao a 13...
    E essa de menosprezar ou por em duvida a gesta dos vizinhos no Cerco...não lhe fica bem ...é que para alem do dito na lapide, o ha tb referencia documental ao encontro de restos de cavalos e armas num chouso ali perto da Porta da Almedina que tb se chama do Sangue ...Non nobis...mas a Eles a Gloria !
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  2. Boa noite. Uma vez que aqui está a usar um letreiro moderno que parece copiar um medieval temos que ter em atenção as alterações de datas de um e de outro letreiros epigráficos. Aliás, no post anterior mostrou os dois letreiros. O mais antigo, epigrafado em três pedras marmóreas diz que na era 1228…(menos os 38 anos de era de César dá 1190). Atenção que a seguir fala dos III das Nonas de Julho enquanto que no letreiro mais moderno escreve que o rei de Marrocos veio aos 13 de Julho e o cercou durante seis dias.
    [E(ra) ! M I CC i XX i VIII ! III i NoNaS i IULII i VENIT ! REX ! DE ! MAR(r)OQ(u)IS ]
    Ora o epigrafista já tinha errado ao dizer logo no início da frase no letreiro ERA DE 1168 mas, como já lhe disse no outro dia, não sabia o valor do X aspado. Aqui não sabe fazer a conversão do calendário juliano para os nossos dias. Os Idos correspondem ao dia 15 nos meses mais pequenos e as Nonas correspondem ao nosso dia 7 nos meses considerados maiores e que são Março, Maio, Julho e Outubro pelo que de maneira alguma o emir poderia ter cercado Tomar no dia 16. Os tempos passam e as memórias como as alterações de calendários perdem-se. Muito obrigado.

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  3. Essa dos restos de cavalos e armas, encontrados num chouso ali perto, é para rir ou para chorar? Já mandaram fazer a datação com carbono 14, para atestar que são mesmo da época em questão? Ainda que sejam, claro que teriam de ser enterrados algures. Mesmo se mortos por doença. Ou não?

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