A opinião dominante na zona urbana parece ser que a recente balbúrdia autárquica está sanada, pelo que o actual executivo vai agora poder navegar em águas mais serenas até ao final do mandato. Peço licença para discordar. Ainda que mascarados das mais diversas formas, os lamentáveis episódios ocorridos na autarquia nestes últimos tempos têm todos afinal a mesma origem. Há cada vez menos dinheiro a entrar nos cofres municipais e as despesas certas e permanentes tendem a aumentar. Logo, como bem diz o povo, casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão.
A origem da penúria nabantina é bem conhecida dos especialistas. Fechadas por falência as grandes indústrias, reduzidas drasticamente as tropas aqui estacionadas, seguiu-se o encerramento de muitos pequenos estabelecimentos, o subsequente desemprego e a inevitável migração interna ou mesmo a emigração. Habituada ao maná do governo central, a autarquia nunca primou pelo protagonismo positivo no que se refere a atrair investidores. Pelo contrário. Bem antes da crise já a situação era clara e trágica para os tomarenses. Havia muita construção civil no Entroncamento, em Ourém e em Torres Novas, mas em Tomar era o marasmo total. Consequência da atitude canhestra e até inquisitorial dos respectivos serviços camarários, bem ajudados, é verdade, por um PDM bom para o cesto dos papéis.
A recente salganhada partidária veio agravar a já antes adversa situação. O vereador Serrano, arquitecto de profissão e com experiência autárquica, foi sacrificado, vá-se lá saber em que altar. O certo é que, após ter conseguido algumas vitórias contra a triste mentalidade dominante nos serviços ligados ao urbanismo e obras particulares, acabou punido. Primeiro perdeu tudo, menos o lugar para que foi eleito, porque a presidente não tem competência para lho retirar. Depois recuperou quase tudo, sem que se saiba ainda porquê e para quê.
Quase tudo, mas não a dignidade pessoal e profissional, gravemente humilhadas perante a opinião pública tomarense. Tanto mais que deixou de ser vice-presidente, sem que se perceba porquê. E deixou também, o que é particularmente relevante, o pelouro do licenciamento de obras particulares, o qual passou para a presidente.
Uma vez que não consta que Anabela Freitas tenha alguma capacidade técnica especial para examinar projectos de obras, a decisão que tomou configura obviamente duas coisas, pelo menos: 1 - Vitória dos burócratas-inquisidores dos serviços respectivos; 2 - Evidente desconfiança na competência técnica e na honestidade profissional do ex-vice-presidente Rui Serrano.
Perante tudo isto, os potenciais investidores, já antes vítimas da prepotência de alguns técnicos superiores que se julgam o supra-sumo da arte e por isso agem como se fossem donos da autarquia, continuam a evitar Tomar até que melhores tempos venham. O desemprego vai portanto acentuar-se e a população vai continuar a encolher, porque não pode haver desenvolvimento económico sem iniciativa privada e menos população é igual a menos impostos, logo menos receitas para a autarquia.
Conclusão: Após o recente chinfrim municipal as coisas ficaram ainda piores do que já estavam. Não é com vinagre que se apanham moscas. Embora os senhores autarcas PS/CDU pareçam convencidos do contrário.
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