quinta-feira, 3 de março de 2016

Abrir ao público a alcáçova do Castelo Templário?

Em declarações recentes que tiveram algum eco na informação local, a senhora directora do Convento de Cristo disse estarem em curso diligências no sentido de abrir à visitação turística as ruínas da alcáçova do Castelo dos Templários, bem como as dos Paços do Infante D. Henrique, que ficam à ilharga. É uma excelente ideia. Temo no entanto que aquela dirigente pública esteja a pensar em algo bem diferente.
Isto porque, no seu estado actual (ver fotos), as ditas ruínas só não são visitáveis porque estão fechadas. E estão fechadas por falta de pessoal. Ultrapassado este óbice básico, bastará efectuar algumas reparações simples, designadamente no patim apodrecido de acesso ao adarve e nas ridículas portas de rede, que estão literalmente presas por arames.









Feito isso, será então possível ao público em geral admirar os magníficos panoramas da cidade e dos seus arredores, a partir do varandim, do adarve ou do último piso da Torre de Menagem, há largos meses no escuro durante a noite. 
É porém minha convicção que a senhora directora deve estar a pensar em restauro, recuperação, reconstituição e afins. Se assim é, a meu ver, mais vale abandonar a ideia desde já. Conforme bem mostram as fotos, o que agora existe dos velhos paços henriquinos e da alcáçova, infelizmente não tem conserto possível. Podem resolver ali fazer o que quiserem, inclusivé um parque infantil ou mesmo um circo. Só que não terá praticamente nada a ver com as anteriores edificações, com o chamado Convento velho, entretanto caído em ruínas bem antes do século passado. Sucessivamente Paços do Infante, de D. Manuel I, de D. João III e de D. Catarina já viúva, os restos que agora ali estão são a consequência directa da mudança para o Convento novo, obra de D. João III, ocorrida durante o domínio filipino.
Mas a senhora directora tem outros problemas em mãos. Oxalá queira e possa resolvê-los. Falo designadamente da vergonhosa entrada no monumento (ver fotos), por onde não cabem cadeiras de rodas, pessoas com canadianas ou muletas, carrinhos de bébé ou obesos. Quando afinal o monumental portal manuelino da igreja, por onde dantes se entrava, fica mesmo ali ao lado.





Refiro-me também à porta sempre fechada da Torre da Condessa, a impedir a ligação entre a Mata e o Convento, quando é sabido que  a Câmara gastou centenas de milhares de euros na implementação de uma via pedonal para esse efeito, sem qualquer uso desde há mais de 5 anos... Menciono outrossim aquelas partes do monumento ainda não acessíveis aos visitantes, como por exemplo a cisterna do Claustro da micha, a Sala dos cavaleiros ou as instalações da Santa Inquisição, incluindo a prisão subterrânea junto à Torre de Dª Catarina.
Finalmente, mas não menos importante: Para quando um horário de abertura ao público mais compatível com a realidade turística? Encerrado no primeiro dia do ano? No domingo de Páscoa? No Dia do trabalhador? No Natal? Fechado a partir das 6 e meia no Verão? Então quem percorre centenas de quilómetros nesses dias para vir visitar o monumento bate com o nariz na porta? A pergunta impõe-se: O monumento está ao serviço do público pagante de impostos, portagens e entradas, ou das conveniências dos digníssimos senhores funcionários públicos, teoricamente servidores do Estado?


Como se pode ver, a senhora directora tem muito com que se ocupar, se essa for realmente a sua intenção. Daqui lhe desejo desde já muita coragem e muito boa sorte.

anfrarebelo@gmail.com

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