segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Um erro monumental

É provável que o recente aumento do tarifário da água, viabilizado pela aprovação à rasca do Plano e orçamento dos SMAS na AM, passe à história local como o "tarifário Zeca Pereira", porque o voto favorável do presidente daquele órgão foi o decisivo. Pode mesmo suceder que o povo adopte a fórmula "tarifário de qualidade Zeca Pereira", porque o dito voto foi de qualidade. Valeu por dois.
Se assim vier a acontecer, a "qualidade Zeca Pereira" passará a ser a designação nabantina para coisas menos boas, ao nível do reles. Com toda a razão, como se passa a tentar demonstrar.
A própria senhora presidente da Câmara esclareceu, por diversas vezes, nas reuniões da edilidade e em declarações à informação local, que o aumento do tarifário era necessário, devido a:
1- roturas  na rede;
2 - contrato leonino não negociável com a EPAL, ou entidade homóloga;
3 - roubos de água, para encher piscinas e regar hortas;
4 - viciação de contadores, de forma a contarem menos;
5 - água para apagar incêndios.
Omitiu, deliberadamente ou não, os gastos exorbitantes com a ETAR, cuja entidade exploradora factura aos SMAS por metro cúbico tratado, estando com alguma frequência a tratar também água da chuva, devido a existirem esgotos de colector único, nomeadamente num sector do centro histórico, ligados à respectiva rede de tratamento, como não pode deixar de ser, na actual situação. Mas pronto. Fiquemo-nos pelo essencial. Aquilo que livremente disse a senhora presidente.

Resultado de imagem para fotografias de rupturas de condutas de água em plena via pública em portugal
Foto apenas alusiva

Após o inesperado chumbo do Plano e orçamento dos SMAS, o argumentário mudou.  Anabela Freitas, secundada pelo deputado Hugo Costa, passou a dizer, em tom agreste, que o chumbo punha em causa investimentos já em curso e nada tinha a ver com o aumento do tarifário. Como se o tarifário não fosse parte integrante do chumbado plano e orçamento anual dos SMAS para 2018.
Entretanto, para que dúvidas não houvesse, o tarifário foi publicado e entrou mesmo em vigor, apesar do chumbo, numa clara manobra para humilhar a oposição, que cometera o pecado de ousar desafiar a tosca maioria PS. Hugo Costa foi claro, em plena Assembleia Municipal: Os presidentes de Junta não podem querer obras e depois chumbar o orçamento que as torna possíveis, disse ele. Tão simples como isso. Quem quer comer, tem de ajudar antes a preparar a comida.
Chegou-se assim à triste situação actual, provocada por nítida falta de adequada reflexão política dos eleitos do PS e respectivos associados. Triste situação por pelo menos dois motivos. Um deles é a evitável humilhação da oposição e mesmo de alguns membros da maioria, a qual nada pode trazer de bom para o concelho, a médio/longo prazo. Normalmente, quem foi humilhado vinga-se logo que pode. E na política local ocasiões não faltam. Mas isso é lá com a tropa, que quem isto escreve é civil.
O outro motivo é bem mais grave. Concordando com a senhora presidente, quanto às cinco causas do inevitável aumento do tarifário, a solução adoptada com a aprovação do documento dos SMAS é um desastre calamitoso. Em vez de contribuir para resolver os problemas referidos, só pode vir a agravá-los. Vejamos.
 O plano dos SMAS prevê, em resumo, o alargamento da rede de água e saneamento, o que implicará o aumento do número de consumidores, uma vez que a ligação às redes é legalmente obrigatória. Daqui resultará que:
1 - As roturas de rede vão aumentar, na proporção do aumento e da pressão da mesma, assim provocando aumento de gastos com material e pagamento de horas ao pessoal;
2 - Rede aumentada é igual a maior consumo, logo mais água comprada "em alta" a preço leonino, metade da qual vai depois continuar a perder-se, como até agora;
3 - Aumento da rede vai trazer mais consumidores, mas também mais roubos de água, uma vez que há mais piscinas e hortas em zona rural que na área urbana, nada permitindo concluir que os consumidores rurais sejam mais honestos que os urbanos;
4 - Quanto mais isolados estiverem os locais de consumo, mais fácil é adulterar os contadores, pelo que inevitavelmente haverá um sério incremento de tal prática, devido também ao novo tarifário. Naquela lógica popular, segundo a qual "ladrão que rouba a ladrão"...válida também para o ponto anterior.
5 - Finalmente a água para apagar incêndios. Embora tendo o maior respeito e admiração pelos bombeiros, não tenho qualquer dúvida que, havendo bocas de incêndio mesmo ao lado, ou perto, não irão encher ao rio. É humano. Portanto, oxalá haja menos incêndios rurais, nomeadamente para o consumo de água da rede não disparar...
Compactando, temos assim que as anunciadas obras previstas e orçamentadas pelos SMAS, em vez de contribuírem para resolver os problemas avançados pela sua própria presidente, vão exactamente em sentido contrário. Só podem agravar a actual situação financeira daqueles serviços. Novos aumentos do tarifário são por conseguinte inevitáveis. Assim sendo, a este habitual pagador de asneiras municipais, restam por agora três perguntas: Quais são as vantagens reais das obras previstas? É a isto que chamam administração municipal? À falta de melhor, não seria possível organizar umas provas de atletismo, que incluam autarcas e funcionários superiores, de forma a podermos correr com eles?
Mesmo um simples treino de hóquei, para os vermos calçar os patins, já seria bom. Porque com os patins calçados, basta um pequeno empurrão...

ADENDA

Os visados e respectivos apoiantes (alguns forçados pelas circunstâncias, que a vida está difícil para todos...), vão alegar que se trata de mais um ataque injusto do venenoso do costume. Tomar a dianteira 3 responde desde já, com uma única pergunta:
No mandato anterior, a senhora presidente aumentou de forma considerável o tarifário até então em vigor. Esse aumento resolveu os problemas crónicos dos SMAS?

1 comentário:

  1. ENTENDAM-SE!
    hÁ “esférico”, campo grande para jogar (embora com “balizas” a mais), assistência da Lamarosa e ninguém aparece aqui para dar uns chutos.
    Os últimos posts evidenciam duas coisas: demasiados bandos com interesses próprios, mesquinhos na maior parte, e atitude ridícula perante a essência do poder local, a começar pelos partidos políticos quando ganham o poder. As situações mais ridículas a que tenho assistido no poder local nos últimos 20 anos é nas relações partidárias a nível autárquico (concelhos e freguesias). A bem dizer pouco ou nada os divide quanto às grandes necessidades dos seus concelhos, mas recusam na maioria dos casos entendimentos, colaboração, plataformas comuns.
    Vivo num concelho (Sintra) que viveu uma profunda crise no pós 25 de Abril. Empresas a fecharem às dezenas, desemprego era mato, quase uma catástrofe. Os partidos vencedores faziam questão de atribuir pelouros aos partidos vencidos, em conjunto definiram as melhores políticas e os melhores projetos, prática que terá sido interrompida com Edite Estrela do PS (?), se a memória não me falha. A recuperação foi espetacular em todas as vertentes, a população aumentou - é hoje o mais populoso concelho do país, cuja área norte é ainda rural e semi-rural. Bem sei que está inserida na maior área metropolitana do país.
    Se eu fosse presidente da CMT (mera suposição já se vê) convidaria o PSD a participar no executivo com atribuição de pelouros. Detestaria governar uma autarquia, marginalizando deliberadamente a oposição. Mesmo não o conseguindo, faria questão de os ouvir e de nos acertarmos nas grandes decisões.

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