No jardim da praceta com o seu nome, frente ao edifício que mandou edificar para sede do seu colégio, está a estátua de homenagem ao Dr. Raul António Lopes, natural de Ansião, licenciado em Matemática pela Universidade de Coimbra, que fundou e dirigiu o Colégio Nuno Álvares.
O estabelecimento de ensino, que funcionava em regime de internato e externato, teve instalações na cidade antiga, nuns prédios onde está agora a sede da Misericórdia, bem como no ex- Grande Hotel, que anos antes falira, ao fundo da Várzea grande, entre a Rodoviária e a ARAL.
Nos anos cinquenta mudou-se para as novas instalações, edificadas para esse fim, tendo prosperado enquanto não houve ensino liceal público em Tomar.
Chegou a ser um dos mais conceituados colégios privados do país, com três categorias de alunos: A- Em regime de externato, os de Tomar e da região próxima, cujas famílias podiam pagar as respectivas propinas, e que não tinham escolha, porque naquela época só havia ensino liceal público em Santarém e Leiria. Em Tomar apenas ensino técnico, na Escola industrial e comercial Jácome Ratton, na Av Cândido Madureira; B - Alunos internos da então metrópole e do então ultramar, cujas famílias confiavam na qualidade do ensino ministrado no Nun'Álvares; C - Os maus filhos de boas famílias, que para aqui vinham praticamente em regime de desterro, funcionando o colégio como uma espécie de colónia penal para adolescentes difíceis
Duas peças do anedotário local permitem perceber a atmosfera da época no referido estabelecimento de ensino, onde, ao que consta, escasseavam a comida e a liberdade. Ambas as estórias são protagonizadas por um dos prefeitos, aqueles empregados polivalentes que agora são designados com "auxiliares de acção educativa". Com uma notável diferença: na época os ditos prefeitos, entre outras tarefas, também vigiavam as horas de estudo acompanhado, actualmente a cargo de professores, nos estabelecimentos públicos.
Segundo o antigo aluno A. Caiano Silvestre, a dada altura um dos prefeitos endereçou ao Dr. Raul Lopes a seguinte participação:
"Exmo senhor Director
Comunico a Vª Exª que me roubaram meia dúzia de laranjas mais ou menos sete ou oito.
Desconfio de dois alunos mas esses não foram de certeza porque estavam no meu estudo."
O mesmo prefeito, avisando os alunos mais avessos à disciplina:
-"Os meninos ficam avisados que se forem para o Açude de Pedra ao banho e morrerem afogados no rio quando voltarem ao colégio ficam de castigo." Nem mais!
Sinal dos tempos, retrato da cidade e do país que somos, apesar de todos os esforços na net, não foi possível saber quem encomendou a estátua, quem a esculpiu, nem a data em que foi inaugurada. Como diria uma conhecida animadora da nossa tv, "Isso agora também já não interessa nada."
Estranho não haver aqui um comentário sobre esta personalidade emblemática (e carismática) da cidade.
ResponderEliminarComo operário das Artes Gráficas (8 anos) até assentar praça, tive o privilégio de manter contactos diretos frequentes com o Dr. Raúl Lopes. Enquanto empregado da Tipografia Nabão tinha a honra e o prazer de ser o impressor da Revista do colégio e, mais tarde, na Tipografia Progresso. Chapa pronta para cada página, deslocava-me ao colégio com as respetivas provas para que ele as revisse. Não abdicava do papel de revisor rigoroso.
Regressado da guerra colonial, perante a crise que assolara o setor, baixos salários, e já com o curso geral do comércio tirado na Jácome Ratton (que é feito do Dr. Júlio das Neves?), decidi, com pena, mudar de vida. A oferta de emprego na cidade era nenhuma. Decidi pedir emprego ao Dr. Raúl Lopes. Admitiu-me como coordenador da revista e outras tarefas não especificadas. Entretanto fui admitido nas FMGodinho (setor exportação). Cometi a vil indelicadeza de nunca o informar do novo rumo que tomava. Indesculpável.
Lembro-me também de o famoso forcado, Manuel Faia, tido como o primeiro a fazer uma pega de costas (há versões diferentes) ser prefeito no CNA, o que espelhava bem a Regra do estabelecimento e a de alguns dos seus alunos problemáticos.
Por falar em Artes Gráficas, ao tempo uma indústria importante na cidade, sugiro à CMT que a homenagei na pessoa de um dos seus profissionais mais famosos; o Sr. Alberto ("Gazeado"), Mário Morais (já falecido), Jacinto Graça, Mário Gonçalves ("Catorze), O Sapatinha, etc., dando a uma rua o nome de um deles. Optaria por um destes dois: Mário Catorze (um artista) ou Sapatinha.
Recordar é viver.