sábado, 27 de janeiro de 2018

O discurso, o fundo e a forma - 2

Disse Anabela Freitas, no já citado repasto, que "Portanto nós PS somos atacados pela direita, somos atacados pela esquerda, mas o importante é conduzir a olhar para a frente." Ou seja, não tem qualquer interesse procurar compreender porque são atacados de ambos os lados do tabuleiro político. Mais grave ainda, conquanto a senhora disso não se tenha dado conta, a formulação "nós PS", em vez de nós do PS, ou nós no PS, veicula uma ideia totalitária do tipo "o PS somos nós", pouco aceitável nos tempos que correm, tendo em conta o que ocorre na Venezuela, por exemplo.
De resto, esse relento implícito de autoritarismo, tipo quero, posso e mando, é reforçado pelo uso, logo mais adiante, do estafado mote da campanha eleitoral "Sabemos o caminho certo para Tomar", seguido desta pérola de manipulação dos factos: "os tomarenses que vivem na cidade têm saneamento e os tomarenses que vivem em Paialvo e outras aldeias não têm saneamento. São tomarenses como nós. Igualdade de oportunidades é ser socialista."
Pois é sim senhor. Porém, na circunstância, não passa de mera contorção dos factos para tentar enganar os cidadãos, e a isso chama-se oportunismo político, que não tem nada de socialista. Desde logo, porque os factos demonstram de dia para dia que, ao contrário do apregoado, a maioria socialista não sabe o caminho certo para Tomar. Nem sequer tem uma qualquer ideia de caminho adequado para Tomar, tendo em conta a situação cada vez mais grave que se vive no vale nabantino.
Segue-se que, ao contrário do afirmado no discurso, nunca ninguém pretendeu que os tomarenses urbanos não são iguais aos rurais. O problema é outro, bem diferente. Com essa pretensa questão da igualdade de oportunidades e do aumento da rede de saneamento de 58% para 70%, Anabela Freitas pretende camuflar a inevitável fuga para a frente dos SMAS, forçados a aumentar a rede, não com o fito principal de servir as populações, mas sim para terem cada vez mais bolsos onde meter a mão, uma vez que o regime de monopólio lhes garante uma confortável renda mensal, com os mínimos mensais obrigatórios e as respectivas taxas municipais.
Porque a questão deve ser posta assim: Se a autarquia procura mesmo garantir a igualdade de oportunidades entre todos os tomarenses, quer sejam urbanos ou rurais, como explicar então que, mesmo ao lado dos Paços do Concelho, largas dezenas de consumidores urbanos estejam a ser duplamente prejudicados, ao receberem água fornecida através de condutas em material proibido e pagando a taxa de tratamento de esgotos, que afinal não são tratados?
Exagero? De modo algum. O executivo e os SMAS sabem muito bem e há muito tempo que entre a Praça da República e a Av Cândido Madureira, excepto nalguns casos nos sectores mais a leste, as condutas são de amianto, matéria provadamente concerígena por contacto, e os esgotos de colector único. Significa isto que confluem para o mesmo emissário as águas ditas limpas (cozinha, lavatórios, duche, máquina de lavar. água da chuva) e sujas (sanitas). O que quer dizer que, se os ditos colectores únicos estão devidamente ligados à rede de tratamento, quando chove, a ETAR trata também  a água da chuva.
Preocupado com tal questão, o autor destas linhas procurou em tempo oportuno obter informações mais detalhadas junto de fonte credenciada. Foi então esclarecido que, nas conexões entre os colectores únicos e os emissários duplos, aqueles estão realmente ligados ao emissário de águas sujas. Existe porém em cada caso um dispositivo que desvia a carga do emissário único quando esta ultrapassa determinado volume. Quando chove, em resumo.
Sendo assim, admitindo que tal sistema seja fiável, os esgotos domésticos do citado sector nem sempre são encaminhados para a ETAR. Basta que chova um bocadinho mais. Mas os consumidores forçados pagam pontualmente as suas taxas, quer haja ou não tratamento. Correndo riscos de doença grave e pagando um serviço no mínimo intermitente, é isto a tal igualdade de oportunidades para todos? Situados entre a igreja de S. João e a de Nª Sª da Graça, nem assim conseguem estar na graça de Deus?

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