sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

O discurso, o fundo e a forma

Dado não ter qualquer problema de índole pessoal com a senhora presidente da Câmara, sempre tenho tido a preocupação de pautar as minhas intervenções por uma rigorosa observância de um princípio elementar -criticar a substância das opções, o fundo da questão, e nunca a forma como são apresentadas. Vejo-me agora forçado pelas circunstâncias a mudar de rumo. Vou referir-me à forma, ao discurso usual de Anabela Freitas, esclarecendo desde já que a azia nunca me apoquenta, pois tomo sempre uma infusão de folhas de boldo a seguir a cada refeição.
Tal mudança de orientação não resulta portanto de qualquer problema de saúde. Apenas do conhecido axioma "Deixa-me ouvir-te para te dizer como pensas". Ou seja, através do discurso  de qualquer político, é possível determinar se é bom leitor e bom actor, quando reproduz textos escritos por outrem, mas igualmente a forma como pensa, quando fala de improviso. Com efeito, a forma como cada um organiza as suas intervenções orais denota o modo como pensa, bem como a arrumação dos seus recursos comunicacionais.
No recente almoço comemorativo que reuniu 130 militantes e simpatizantes PS num restaurante arrabaldino, a líder da maioria socialista estaria se calhar cansada, o que a levou a cometer erros de palmatória no seu improviso. Procurando rebater críticas, que são normais em qualquer democracia, recorreu a uma falsa alternativa, que mais parece provinda de alguém após uma refeição bem regada:
"Porque com a actual conjuntura, e passados três meses das eleições, ou o stock de Kompensan falhou no nosso concelho, ou então anda aí muita gente com muita azia."


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Na realidade, a alternativa aceitável, uma vez que a senhora usou OU, teria sido  "Ou o stock de Konpensan falhou no nosso concelho, ou então anda aí muita gente com azia crónica incurável." Isto porque, sendo o Kompensan um medicamento anti-azia, (o velho bicarbonato de sódio, numa apresentação melhorada), não faz nenhum sentido o intervenção da senhora, tal como foi dita e depois transcrita no semanário O Templário. Porque, não havendo falta do medicamento, como explicar a persistência da maleita, a não ser pela sua natureza incurável?
Já antes Anabela Freitas, quiçá influenciada por Alexandre Dumas, quando escreveu Os Três mosqueteiros, que na verdade são quatro, (Athos, Porthos, Aramis e D'Artagnan), lançou esta tirada que dá que pensar. Nos seus precisos termos, para usar o jargão administrativo da autarquia: "Há quatro coisas na vida em que eu me orgulho. Primeiro o meu filho, segundo ser mulher, terceiro ser portuguesa e quarto ser tomarense e socialista." Sucedendo que há tomarenses que não são socialistas, socialistas que não são tomarenses, e até filiados no PS que não são socialistas, embora julguem o contrário, lógico seria que a lider PS tivesse dito, segunda ser mulher, terceira ser portuguesa, quarta ser tomarense e quinta ser socialista.
Com intervenções assim, sob reserva de alguma dificuldade ocasional, sobressai que a senhora presidente não consegue improvisos articulados e rigorosos, com tudo o que isso pode significar na área da negociação política. Como bem reza o adagiário popular, "Pela boca morre o peixe." 
E nesta conjuntura tão difícil, os tomarenses precisam, como de pão para a boca, de quem defenda os interesses do concelho com rigor, com eficácia e sem falhas clamorosas, tanto ao nível das opções como do discurso.

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