domingo, 28 de janeiro de 2018

A arte do possível

O axioma "A política é a arte do possível, toda feita de execução", provavelmente nem será do conhecimento da actual maioria autárquica. É pelo menos o que resulta de recentes declarações de Anabela Freitas. No início do quinto ano de mandato, a braços com uma realidade cada vez mais adversa, resolveu recorrer à usual argumentação dos sitiados -está a ser vítima de uma perseguição. Não usou esse termo, mas a sua expressão "somos atacados pela direita e somos atacados pela esquerda", presta-se pouco a dúvidas a esse respeito.
A quem procura analisar friamente a actual situação tomarense, parece lógico que a senhora presidente terá todo o interesse em deixar-se de síndromes de perseguição, antes procurando com afinco entender o actual contexto político local. Buscando com sinceridade uma outra via para Tomar, dado que a actual  vem mostrando o que vale. Desde 2008, a realidade económica local oscila entre a recessão e a estagnação. O que obviamente só pode levar o concelho à ruína e posterior desaparecimento. (Convém nunca esquecer que a zona é propícia para esse tipo de tragédia. Basta pensar que Asseiceira e Paialvo já foram concelhos. Já tiveram cada um a sua câmara. Já foram. Já tiveram.) Tal como os cavalos do conhecidos filme, os concelhos também se abatem. Quando a sua existência já não se justifica.
Num clima de recessão, de falta de investimento, de falta de emprego, de fuga da população mais jovem, de encerramento de empresas, é urgente que Anabela Freitas resolva começar a olhar para as pessoas e para as coisas com olhos de ver. Que deixe de considerar cada cidadão discordante, cada escriba crítico, como inimigos, quando afinal querem o mesmo que ela -o melhor para Tomar e para os tomarenses.
Indo ao cerne da questão, não é decerto por acaso que os investidores se foram para outras paragens. Fizeram-no porque a isso foram forçados pelo "clima geral tomarense", o qual se caracterizava e caracteriza por custos gerais demasiado elevados e uma burocracia municipal asfixiante. Sucede que a actual maioria vem procedendo no sentido de agravar tais aspectos, em vez de tentar resolvê-los.
Para não alongar demasiado, explicando em detalhe que o excesso de despesas com pessoal e a manifesta autonomia abusiva de alguns serviços municipais, só podem vir a piorar o que já não está nada bem, é preferível resumir, numa curta frase-desafio, dirigida à actual maioria: Expliquem finalmente, de forma detalhada, as saídas nada comuns de Luís Ferreira e de Rui Serrano, ainda hoje envoltas num espesso mistério.
Qual o interesse? Apenas porque foram eles, e só eles, que até hoje ousaram mexer no vespeiro municipal, o qual desde há longos anos controla de facto a autarquia ao nível das ideias e rotinas dominantes, de consequências trágicas para o concelho, cujo lema mais apropriado é, desde há algum tempo, o daquele herói da batalha do Salado: Morrer sim, mas devagar!
Há dúvidas a tal respeito? Pois leia-se este comentário, que pode ser confirmado aqui, do familiar mais chegado ao ex-autarca Rui Serrano:

cabindês26 de janeiro de 2018 às 23:00
"É triste assistirmos a este estado de arranjismos com a colocação em lugares evitáveis de pessoas do partido com maioria na Câmara. A Presidente deveria aplicar o dinheiro que se destina ao pagamento desses salários, na recuperação do edifício camarário que tem um aspecto confrangedor nas paredes laterais e das traseiras. Faz falta um autarca que foi obrigado a abandonar o cargo porque pretendia actuar em várias áreas como esta e que se sentiu desautorizado."

Querem mais claro? Porque terá sido desautorizado? Por quem? Com que intenções reais? Que consequências tem tido esta vitória retumbante do Império dos sentados, na sua luta diária contra os eleitos que não se vergam aos seus pontos de vista, naturalmente sempre técnicos, só técnicos e com a melhor das intenções?

2 comentários:

  1. Já aprendi mais sobre Tomar neste blogue do que em todos os anos que lá vivi. Asseiceira e Paialvo já foram concelhos? Mas não admira. Nem sequer sabia onde era o bairro do Piçarra.
    A presidenta deve seguir o conselho para deixar de "considerar cada cidadão discordante, cada escriba crítico, como inimigos, quando afinal querem o mesmo que ela -o melhor para Tomar e para os tomarenses".
    Estive em Tomar último fim de semana. Surpreendentemente, a maioria das pessoas com quem falei disse-me que Tomar está melhor, um privilégio viver aí, recomenda-se. E esta, hein?

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  2. Obrigado, amigo Fernando, por mais esta colaboração.Inicio com uma pequena correcção: Não é bairro DO Piçarra, mas bairro do Alto da Piçarra. Fica ao cimo da minha rua (Aurora Macedo), ladeado a poente pela Estrada do Convento. Piçarra é aquele terreno cinzento e argiloso em forma de espigão, que vai, grosso modo, do alto da Senhora da Piedade até S. Lourenço.
    Quanto à Asseiceira e a Paialvo, foram concelho até à reforma administrativa do século XIX. Quando voltares à terrinha, trata de ir a Paialvo, onde ainda podes ver o pelourinho, símbolo da autonomia concelhia, e a casa da câmara.
    Não me surpreende que as pessoas com as quais conversaste achem que a terrinha está melhor. Por um lado, porque a população que resta é composta sobretudo por pensionistas, aposentados e funcionários públicos. Tudo categorias muito acarinhadas ultimamente pela geringonça. Por outro lado, manda a verdade dizer que, desde o 25 de Abril, os tomarenses ainda não conseguiram eleger um único presidente da câmara que se possa dizer de mão cheia. E já lá vão onze eleições autárquicas...
    Na tua próxima visita, se puderes, fala com alguns jovens, com comerciantes, com empresários, com profissionais liberais, com potenciais investidores, caso os consigas encontrar. Vais ver que a música é outra, bem diferente.
    Um abraço,

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