Convento de Cristo, pomar do castelo e água dos Pegões
Não seria bem melhor
cuidar antes da água para a rega?
É sem dúvida alguma uma excelente iniciativa, esta "Feira da laranja conventual", que já vai na XI edição, o que é sinal de sucesso, apesar da contradição subjacente. A feira, forçosamente de compras e vendas, é no Claustro da micha, durante séculos local de distribuição gratuita da sopa conventual ou sopa dos pobres, acompanhada pela micha de pão, a "carcaça de 17" do século passado, cozida no forno conventual, do lado direito de quem entra pela porta do norte.
Mas o óbice principal parece-me ser a precipitação. Antes de se lançar na realização da feira da laranja, na minha modesta opinião, a direcção do monumento devia ter mandado proceder à recuperação dos Pegões, cuja água regou o pomar conventual durante mais de três séculos, mas deixou de correr, por desvio ilegal, há cerca de 20 anos.
Uma vez que o aqueduto -todo o aqueduto- é parte integrante do Convento de Cristo, Património da humanidade, o que impede a direcção do monumento de fazer valer os seus direitos de propriedade, mandando requalificar e fiscalizar todo o aqueduto?
Como as coisas estão, salvo melhor opinião, a "feira da laranja conventual" é uma fraude. As laranjas não são biológicas, como foram durante séculos, sendo agora regadas com água da rede urbana, tratada a cloro. Por conseguinte, uma de duas, ou voltam a ser regadas com a água tradicional das 4 nascentes (Boca do cano, Vale do Feto, Cu alagado e Porta de Ferro), ou terão de mudar o nome da feira para "da laranja da Tejo Ambiente", ou "da laranja da EPAL".
A não ser assim, a ASAE terá de intervir oportunamente, por estarem a vender gato por lebre. A laranja é conventual, mas deixou de ser biológica quando os Pegões secaram, por incúria da direcção do Convento de Cristo, e passou a ser regada com água tratada a cloro. Ou estarei a ver mal a situação?