sábado, 2 de setembro de 2017

Um modelo de governação

Numa excelente análise à intervenção de Cavaco Silva na Universidade de verão do PSD, que pode ler clicando aqui,  Rui Ramos expõe serenamente, mas sem piedade, o osso da questão. Fá-lo em relação ao país e à actual governação da geringonça, mas tudo o que diz encaixa perfeitamente na política autárquica tomarense, praticamente desde o primeiro mandato em liberdade. Com uma singular agravante. Nas margens nabantinas já tivemos até agora maiorias do PS, do PSD, da AD e desta vez PS/CDU, sem que alguma delas tenha tentado sequer alterar o tradicional quadro tomarense de gestão da coisa pública, que consiste em limitar-se a "despachar os assuntos correntes". Melhor ou pior, isso é já outra questão.
Agora, o que importa compreender é que, tal como Portugal não é competitivo, porque essa não é a prioridade do governo, também Tomar não é competitiva em termos regionais, porque têm sido e são outras as prioridades das sucessivas gerências municipais. Quais são essas prioridades? Essencialmente duas: A - Garantir os vencimentos e mordomias dos funcionários municipais e  dos eleitos, sem cuidar da sua real utilidade em termos de produtividade; B - Aumentar o quadro de funcionários sempre que possível. Porquê? Porque PS e CDU, sobretudo a esta, acreditam que os funcionários municipais votam à esquerda, enquanto o PSD aposta que votam social-democrata.
De qualquer modo, desde que vivemos em democracia, apenas um presidente demonstrou na prática ter um projecto para a cidade digno desse nome. Foi António Paiva (PSD) e o projecto consistiu em fazer obras  há muito adiadas, algumas muito infelizes, usando fundos europeus. Todos os outros presidentes têm vogado ao sabor do acaso, embora garantindo sempre aos eleitores que têm projectos sólidos para Tomar.
Para não alongar demasiado, veja-se o caso da actual presidente, homólogo dos anteriores nas suas linhas de fundo. Anabela Freitas tem vindo a repetir que o primeiro mandato foi para arrumar a casa e que decidiu recandidatar-se porque tem um projecto para Tomar. Que projecto possa ser esse, por enquanto a opinião pública nada sabe, pela simples razão que o referido documento, dando de barato que exista mesmo, continua a aguardar difusão adequada.
Com ou sem projecto, há factos indesmentíveis. O arrumar da casa limitou-se, no fim de contas, a facultar recursos financeiros para sustentar a emperrada máquina municipal. Sem cuidar de alcançar alguma competitividade, que torne atractivo o investimento  no concelho. Ou seja: Havendo recursos disponíveis para retribuir os eleitos e pagar aos funcionários, o resto que se lixe. A dívida municipal ultrapassa os 24 milhões? Foram os anteriores executivos que a deixaram e o actual até a reduziu. Aumenta o êxodo da população? É por causa da interioridade. Os jovens migram? É porque não há emprego. Pagamos a água das mais caras do país, devido às abusivas taxas municipais? É por causa dos preços exagerados da EPAL e das elevadas perdas de rede. Há manifestamente excesso de funcionários superiores na autarquia? É por causa da crise, pois todos têm direito ao emprego e ao sossego,  não sendo de forma alguma culpados por não haver tarefas que possam desempenhar.
Há justificações plausíveis para tudo, e assim estamos, com a esmagadora maioria convencida de que esta triste situação se pode prolongar indefinidamente. A fraca ou mesmo inexistente cultura política não lhes permite intuir que, mais tarde ou mais cedo, a autarquia não conseguirá sequer garantir os vencimentos, porque a população que paga impostos é cada vez menos e o governo só pode transferir para os cofres municipais uma parte daquilo que antes aqui cobrou. Em Lisboa, o programa real tem sido idêntico ao nabantino e isso tem custos. Que são pagos pelos do costume, que a partir de certo limite resolvem calçar os patins.
Cavaco Silva é de direita, bem sei. Rui Ramos, idem idem. E daí? Trata-se de alguma doença inibidora? Só a esquerda e a extrema esquerda é que têm razão? Excluindo a Grécia e Portugal, onde é que as esquerdas governam na Europa?
Urge por conseguinte que, em Tomar e pelo menos desta vez, os candidatos apresentem planos realistas, robustos, adequados, devidamente explicados e calendarizados. Se assim não for, os eleitores são bem capazes de aproveitar para ir à pesca no primeiro de Outubro. Como já aconteceu em 2013. Estamos todos fartos de mau teatro político, com  actores medianos e fracos improvisos. Palhaçadas, em linguagem menos cuidada.

Nota de rodapé

Não venham os defensores do templo, em geral instalados à mesa do orçamento estatal ou municipal, com a usual litania de que estou a fazer campanha contra Anabela Freitas, o que é falso. A 28 dias da próxima consulta eleitoral, com a informação de que disponho nesta altura, a minha posição é a mesma de há quatro anos: Se for votar, tenho três hipóteses -branco, nulo ou PS. À falta de melhor. O que não me obriga de modo algum a partilhar atitudes carneiristas, deixando de criticar o que considero estar mal. Doa a quem doer.
Se me é permitida uma sugestão de leitura para o fim de semana, ela aqui fica. Sobretudo o longo parágrafo antes da nota de rodapé.

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