quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Quem nos acode?

Já votou, aqui ao lado?

O assunto passou praticamente despercebido na habitual pasmaceira nabantina. E no entanto...
Na sua reunião de 14 de Agosto passado, o executivo deliberou, sem qualquer protesto da oposição presente, propor à DGPC o alargamento da ZEP de Sellium e a desclassificação das ruínas da Nabância, em Cardais, classificadas como monumento nacional desde 1910. Tudo isto no quadro da revisão em curso desse trambolho administrativo que é o PDM de Tomar.
Tomar a dianteira 3 achou tais deliberações tão graves e inexplicadas, que decidiu indagar, recorrendo aos direitos concedidos pela legislação em vigor no que concerne à informação. Poderá saber mais clicando aqui.
Obtida cópia do documento que fundamenta as questionáveis deliberações, avoluma-se o receio de que a actual maioria PS-CDU esteja a ser vítima, sem disso se dar conta, do chamado "império dos sentados", aquele reduzido grupo de funcionários superiores que de facto "mandam na câmara" desde há muito, graças à incapacidade e/ou ao deixa andar dos eleitos.
Neste caso das já referidas deliberações, qual é afinal a fundamentação técnica das mesmas? Apenas as conclusões e propostas de um relatório, cuja qualidade arqueológica Tomar a dianteira não tem capacidade para criticar, mas no qual a redacção final não é a mais feliz. Sobre o alargamento da ZEP de Sellium, que aparece no documento da DGPC como Seilium, e a desclassificação das ruínas de Cardais, as propostas são as que seguem:


Sob a chancela República Portuguesa - Cultura - Património cultural, lê-se nomeadamente isto:
"... no caso do Centro histórico de Tomar e da Cidade romana de Seilium [sic], onde há fortes suspeitas de existirem vestígios arqueológicos, deverá proceder-se à realização de sondagens arqueológicas, as quais devem dar lugar à escavação arqueológica se se confirmar a existência de vestígios arqueológicos." Por outras palavras, coitado do incauto investidor que se tenha arriscado no centro histórico, pois a peculiar redacção supra, que mais parece a de um rascunho de um cabo da GNR, dá pano para mangas, em termos de delongas burocráticas e subsequentes despesas. Sobretudo tendo em conta a alínea b), que permite englobar tudo: "incluir os novos elementos do património arqueológico entretanto identificados."
E depois admiram-se que a população esteja a diminuir de dia para dia, por falta de emprego, provocada pela falta de investimento, causada por catilinárias deste jaez.
Curiosa é também a alínea c), na qual se escreve preto no branco que, na base de dados da DGPC, a localização do alegado fórum romano  não estava correcta. Tanto técnico, tanto especialista, tanto quadro superior, e vai-se a ver...
Mais abaixo, a alínea e) - Cardais/Ruínas da Nabância é toda ela um programa. Começa por propor a desclassificação "por pouco existir do monumento. das suas ruínas... ... ...dado que se havia perdido por completo a sua localização." Desde logo, o vocábulo existir não parece adequado. Uma vez que há descrições do monumento em causa, nomeadamente no Guia de Portugal, de 1927, o termo correcto seria subsistir, numa frase escorreita do tipo "por pouco subsistir do monumento, após mais de um século de total abandono, apesar da sua classificação em 1910 como monumento nacional."
A outra questão que se coloca  é esta: Dado  que "se havia perdido por completo a sua localização", em que se baseia quem fez o relatório para sustentar logo a seguir que se trata de uma simples villa romana? Porquê então "Ruínas da Nabância"? Está seguro de que aquilo que foi sondado em 2005 corresponde exactamente ao monumento, cuja localização entretanto se perdera "por completo"? Que garantias pode facultar? Pode-se confiar na nova localização proposta? Qual a vantagem ou vantagens da desclassificação proposta?
Há matéria para páginas e páginas. Abrindo com duas perguntas: 1 - Quando se escreve "Cidade romana de Sellium", está-se a falar concretamente de quê? Com que fundamentos verificáveis nna prática? 2 - Que aproveitamento racional tencionam vir a fazer -finalmente!- do alegado "Fórum de Sellium" que, segundo se depreende  da alínea c), a própria DGPC -autoridade máxima na matéria- nem sabia muito bem onde fica?
Dado tratar-se tão só de escrever para desabafar, o melhor é  ficar por aqui, com uma súplica: 
Bárbaros infiltraram-se por todo o lado, durante estes 43 anos. Quem nos acode?!?


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