segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Não se pode ser tomarense em Tomar

Não se pretende acusar ninguém. Apenas se constata que ser tomarense em Tomar só tem inconvenientes e acarreta prejuízos. Basta não acompanhar o rebanho, para logo se ser punido. O "império dos sentados", que parece ser quem manda ali nos Paços do concelho, não perdoa.
O caso conta-se em poucas frases, para não cansar demasiado o leitor. Tendo lido que o município decidiu alargar a ZEP de Sellium, (aquela coisa ali atrás do quartel dos bombeiros), e desclassificar as ruínas de Cardais, classificadas como monumento nacional desde 1910, fiquei atónito. E a matéria não me parece ser para menos. Resolvi por isso, ao abrigo da lei do direito à informação, solicitar a consulta dos respectivos documentos, para entender qual a fundamentação de semelhantes decisões.
Após peripécias várias, (como um ofício em suporte papel, em resposta a um mail, que levou quatro dias a percorrer os 50 metros entre a sede da autarquia e a minha casa), obtive um dia e uma hora para ser atendido. Na ausência de técnicos especializados, valeu-me a boa vontade de uma funcionária que, após telefonemas diversos para se informar, me mostrou no computador uma parte dos documentos que eu pretendia consultar.
Solicitei então fotocópia de um despacho da DGPC, num total de quatro páginas, tendo sido informado pela afável funcionária que teria de pagar. Aceitei e aqui está o resultado:


Quatro fotocópias a 70 cêntimos/unidade = 2,80 €. Tudo bem. É legal e trata-se de uma soma insignificante. Pior será se e quando tiver necessidade de solicitar à autarquia cem fotocópias, para documentar qualquer assunto.
A título de mera comparação, qualquer turista que chegue a Tomar em auto-caravana e se dirija ao parque municipal para esse efeito, é contemplado com esta informação:


Temos portanto que um turista, que naturalmente paga as suas obrigações fiscais no país de origem, pode estacionar, despejar a sanita química, encher o depósito de água da rede, lavar a caravana, lavar a roupa, usar as instalações sanitárias e tomar duche frio as vezes que entender, tudo à borla. "Estadia gratuita" diz a informação, em português e inglês.
Eu que nasci e cresci nesta terra, que sempre ajudei a autarquia quando me foi solicitado, que pago os meus impostos e taxas, incluindo o tratamento de esgotos, apesar de não ter sanitas químicas para despejar, que liquido pontualmente os recibos da água e do parque de estacionamento, sou obrigado a pagar umas fotocópias, de que precisei unicamente para tentar informar os meus conterrâneos.
Será que estamos perante um tratamento justo e equitativo?
Perante coisas assim, até dá ganas de requerer, junto de quem de direito, a renúncia à nacionalidade portuguesa, para passar a ser simples turista em Tomar, habitando numa auto-caravana. Infelizmente, já me informei e trata-se de algo inviável. Não posso renunciar à nacionalidade porque nasci cá, filho, neto, bisneto, tetraneto de portugueses...e até cumpri o serviço militar obrigatório, tendo andado aos tiros em Angola.
Deve ser por isso que me tratam assim. Conforme disse já não sei que poeta "não se nasce impunemente em Portugal". Pelos vistos, em Tomar ainda é pior. Ou se acompanha o rebanho, ou se paga a audácia de pensar pela própria cabeça.. Mesmo com um executivo do PS. Pobre terra! Pobre gente!

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