terça-feira, 19 de setembro de 2017

A verdadeira causa

Já votou ? 

O debate entre os seis candidatos à Câmara, no sábado passado, começou com cada um apresentando, em dois minutos, as razões da sua candidatura. Seguiu-se o primeiro tema, lançado pelos dois moderadores. Que medidas tomar para pôr cobro à hemorragia populacional, que nos últimos oito anos foi de quatro mil habitantes?
As respostas foram variadas, registando-se um ponto partilhado. A diminuição da população é um fenómeno generalizado nos concelhos do interior do país. Perante isto, nem os moderadores nem os candidatos, nem a assistência, lembraram que há excepções. Na Covilhã ou em Ourém, por exemplo, que são concelhos do interior, a população tem vindo a aumentar. Se tivessem ido por aí, pela contra-argumentação, ouviriam muito provavelmente que na Covilhã o aumento da população se deve à Universidade da Beira Interior, enquanto em Ourém será "porque têm Fátima". Ou seja, há desculpas para tudo..
Por mero acaso, na véspera do debate, Tomar a dianteira viajou pelo chamado Alentejo profundo. Almoçou em Évoramonte, após a visita à fortaleza, tendo depois seguido para Monsaraz. Apreciada a aldeia, (que já foi sede de concelho, conforme testemunha o pelourinho manuelino de gaiola), bem como as magníficas vistas panorâmicas do Alqueva, o maior lago artificial da Europa, rumou-se a Elvas. Passada a fronteira, encheu-se o depósito sem entrar em Badajoz e regressou-se, continuando na direcção de Campo Maior e Arronches, Portalegre, Abrantes e Tomar.
Para os menos atentos a estas coisas, convirá esclarecer que Elvas e Badajoz são duas cidades interiores, uma portuguesa, outra espanhola, separadas por menos de dez quilómetros. Apesar de tão curta distância, há grandes diferenças entre elas, nomeadamente quanto a população. Enquanto Badajoz evoluiu de 143.746 habitantes em 2006, para 149.892 em 2016, Elvas registou uma evolução negativa entre 2001 e 2011. Regrediu de 23. 360 para 23.090 habitantes.

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Quais serão as causas, neste caso? Badajoz não tem praticamente monumentos importantes, nem atrai muito turismo, ao contrário de Elvas, que é rica em património, designadamente militar, ostentando o título de Património da Humanidade. Em contrapartida, Badajoz tem gasolina a 1,19 euros o litro, contra 1,49 euros em Elvas. Uma diferença de 30 cêntimos por litro. Além disso, os habitantes de Badajoz têm auto-estrada gratuita para Cáceres, Trujillo, Sevilha ou Madrid, enquanto os de Elvas têm de pagar portagens assaz gravosas, para Lisboa ou para qualquer outro destino em Portugal. Assim, no comparativo Badajoz/Elvas não é difícil concluir porque é que a cidade portuguesa definha e a espanhola se desenvolve. Os que moram em Espanha têm condições que os de Portugal não têm.
Porque não se trata só da gasolina e das portagens. Gás, alimentação, vestuário, calçado, alojamento, transportes, praticamente tudo é mais barato em Espanha. Onde as remunerações são mais elevadas do que em Portugal. A começar pelo salário mínimo: 557 euros cá,  825 euros em Espanha. Até o IVA é mais reduzido: 21% em Espanha, 23% em Portugal.
E como se tudo isto não fosse já suficientemente grave, a água que os tomarenses consomem obrigatoriamente é das mais caras do país, devido às abusivas taxas agregadas, fixadas pela autarquia que, com falta de verbas disponíveis, porque incapaz de criar valor acrescentado, cobrando entradas nos eventos, por exemplo, vai castigando cada vez mais os munícipes. Caso para dizer que, mais cedo ou mais tarde, a continuar-se neste caminho, os cães acabarão por fugir para longe, ou por morrer todos, ao não aguentarem com tanta carraça.
Em conclusão, a população tomarense diminui por razões evidentes, que só não vê quem não quer. Conhecidas que são as causas, as soluções são óbvias. Apenas tem faltado coragem para as implementar. Será desta? Lidos os vários programas e outra propaganda eleitoral, a dúvida subsiste.

ADENDA

Há dúvidas sobre a argumentação supra? Pois aqui vai um excerto sobre alguns desníveis Espanha-Portugal:

"Tudo isto justifica preocupação porque, por baixo do véu da conjuntura internacional, o país está longe de saudável. A dívida é mais cara do que a de Espanha, a poupança é a mais baixa de sempre, o crédito está novamente focado na habitação, o crescimento económico é inferior ao espanhol, o défice comercial aumenta. Não, não é a bancarrota para a próxima semana. É apenas a medida da vulnerabilidade de uma economia impedida de se valer das oportunidades para progredir ao nível requerido pelas suas expectativas e compromissos. A boa conjuntura protege-nos. Mas bastará que o tempo mude para nos arriscarmos a mais aflições. E que farão então Costa e os seus aliados? Vão culpar outra vez Passos Coelho?"


Para ler toda a crónica, clique aqui: Rui Ramos, Observador, 19/09/2017

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