sexta-feira, 31 de março de 2017

Com gente assim...


O saudoso Manuel Martins, há pouco homenageado no "Tomar em revista", repetia amiúde que "Deus nosso senhor não tem culpa nenhuma de ser pai de tanto filho bruto." A ilustração acima prova que estava cheio de razão. Uma criatura bruta, visivelmente com problemas de fígado e bilis, volta e meia resolve macular o Tomar na rede com os seus vómitos. Sempre a coberto do confortável anonimato, claro!
Desta vez, essa tosca e irracional personagem, espalhou-se a todo o comprimento, como se passa a demonstrar:
A - O autor destas linhas e vítima do citado vómito não é eminência, pois tal vocábulo aplica-se sobretudo aos cardeais católicos, e ele nunca sequer frequentou o seminário..
B - Tão pouco o mesmo autor é emigrante, pois não abandonou Tomar por razões económicas, nem de forma prolongada. É apenas um turista sazonal, que passa o inverno longe da sua terra, como fazem milhões de outros cidadãos.

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Vista parcial de Fortaleza, a partir de um dos arranha-céus da beira mar, cujo calçadão se prolonga por cerca de 6 quilómetros.

C - Chamar Reboleira brasileira à cidade de Fortaleza, que tem mais de dois milhões e meio de habitantes e é a capital do Ceará, um dos 27 estados do Brasil, com uma população comparável à de Portugal, mas uma superfície quase dez vezes superior, demonstra uma ignorância que entristece. Embora possa também provocar algum riso, que os pacóvios são sempre ridículos, sem disso se darem conta.
D- Além de tal enfiada de disparates, a dita criatura bruta visivelmente perdeu-se. O assunto era trânsito e estacionamento no Centro histórico. Decerto por manifesta carência de envergadura cabeçal, a lamentável e reles personagem, em vez de concordar, discordar ou tentar emendar, como seria curial, resolveu vomitar um pouco mais a meu respeito. E não é que quase acertou, ao apelidar-me de génio?! Realmente, a minha mãe quando eu nasci, no então Hospital da Misericórdia da Rua da Graça, escolheu Eugénio como nome de baptismo. Mas o meu padrinho que era militar, preferiu António, o nome do ditador de então. E assim ficou. Setenta e cinco anos volvidos, continua a haver nas margens do Nabão gente tosca que gosta de ditadores, embora de sinal contrário.
E - Diz também a tosca criatura que percebo de todos os assuntos. Na verdade, procuro manter-me informado, nomeadamente sobre todas as matérias que têm a ver com a minha terra, emitindo opiniões com nome por baixo, sempre que julgo útil. Será crime, nos tempos que correm? 
F - Queixam-se os tomarenses mais conscientes, que as coisas não vão bem, nem para lá caminham. Com gente como esta tosca criatura anónima, que não consegue estancar o vómito de bilis, estavam à espera de quê? Exemplares deste tipo, abandalham e conspurcam tudo aquilo de que se aproximam. E são incapazes de qualquer mudança. Por isso...

Adenda
Embora não a consiga entender, abstive-me de mencionar a atitude do administrador de Tomar na rede, o meu prezado amigo José Gaio. Não posso contudo resistir a 3 perguntas:
1 - O que o levou a acolher, apesar de usar a aprovação prévia, um comentário anónimo e pseudo irónico, nitidamente fora do contexto? Imagine-se uma sessão pública para debater o trânsito e o estacionamento em Tomar. Após a minha intervenção, alguém está a ver outro cidadão a dizer presencialmente o que a reles criatura do comentário supra garatujou?
2 - Vale tudo para tentar aumentar a audiência do Tomar na rede?

Actualização às 15H17, (hora de Fortaleza), de 01/04/2017
Entretanto um outro calhordas, eventualmente até o mesmo, (ou a mesma?), conforme a redacção parece indicar, rejubilou com o vómito. E, após insistir que sou um génio, opina que fiquei louco:

"Parabéns ao anónimo de dia 30, às 20.47. Conseguiu com apenas duas frases levar o génio à loucura. Eficácia é isto mesmo!"
Coitada da minha querida terra! Merecia melhor gente, mas parece só estar bem servida de aselhas e mentecaptos. Será do clima, pouco adequado para nabos de sequeiro?

Ainda a requalificação da Várzea Grande

Além dos aspectos focados em escritos anteriores, haverá ainda leitores aguardando resposta a duas perguntas implícitas, muito frequentes ao ler notícias -porquê? para quê. Passo a tentar esclarecer:
-Porquê? -Porque há fundos europeus, porque estamos em ano eleitoral, porque é preciso apresentar obra feita, para tentar vencer nas urnas.
Porquê a Várzea Grande? -Porque se pretende obra que dê nas vistas. Por exemplo a urgente renovação da vetusta rede de saneamento numa pequena parte esquecida do Centro histórico (Rua do Teatro, Largo do Quental, Rua do Pé da Costa de Baixo, Rua Dª Aurora de Macedo, parte da Rua Direita e dois terços da Rua Dr. Joaquim Jacinto) fica sempre para as calendas gregas, porque custa muito caro e depois não se vê.
-Para quê? -Basicamente as obras previstas na Várzea Grande são ornamentais, com o objectivo camuflado mas central de reduzir drasticamente os lugares de estacionamento gratuito na área urbana. Como  justificar de outro modo o alargamento das zonas verdes, ornamentais e pedonais? É do domínio público que, ainda não há muito tempo, os serviços da autarquia nem sequer cuidavam de cortar as ervas da base do padrão ali existente. Como vão depois conseguir cuidar das novas áreas previstas?
Excerto da página 9 do estudo prévio

Excerto da página 11 do estudo prévio

Fica por explicar a estranha ideia de pretender transformar a parte central do terreiro existente numa nova praça, segundo os proponentes susceptível de melhorar a auto-estima dos tomarenses, ao tornar-se naquilo que nunca foi, excepto durante a feira anual: Um frequentado local de convívio e de animação, para o qual até já encontraram um nome sonante. Nada mais, nada menos que "Praça do Município". Leu bem. "Praça do Município". (Ver excertos) Se a ideia vingar, o que é bem possível, seremos a primeira cidade do país em que, ao contrário de Lisboa ou de Paris, por exemplo, os Paços do Concelho ficam numa praça com outra designação e a Praça do Município fica 300 metros a sul. Será mais uma originalidade tomarense. Uma Praça do Município sem a sede do município. Para rir, claro!

quinta-feira, 30 de março de 2017

Tomar -um concelho muito peculiar

O encontro com os jornalistas organizado pela CDU, para apresentar o trabalho do vereador Bruno Graça à frente dos SMAS nos últimos 14 meses, levou-me a consultar uma vez mais os resultados eleitorais de 2013.
Fiquei assim a saber que Tomar é mesmo um concelho muito peculiar, na zona onde se insere. Santarém, Abrantes, ou Ourém têm apenas duas formações na oposição. E Leiria, o concelho que mais cresce na região, conta só 7 eleitos PS e 4 PSD, num executivo de 11, apesar dos seus 113 mil eleitores inscritos.
Situação diferente e mais complexa acontece no Entroncamento, em Tomar e em Torres Novas, com três forças políticas representadas na oposição. Mas mesmo assim, Tomar destaca-se. É o único dos três concelhos em que o partido vencedor não conseguiu maioria absoluta. O que forçou o PS, como é do conhecimento geral, a celebrar uma coligação com a CDU, que continua em vigor.
Resulta por isso curioso, para não dizer mais, que seja a componente menos votada da oposição, para mais coligada com a relativa maioria PS, a vir criticar a situação herdada e a actual, no sector que dirige. O PSD e Pedro Marques nada têm para dizer a tal respeito aos tomarenses?
Aproveitando habilmente o terreno deixado vago pelos seus parceiros oposicionistas, Bruno Graça tentou mais uma vez levar a água ao seu moinho. E conseguiu-o nalguns aspectos. Infelizmente para ele, para a CDU e para todos nós contribuintes, enveredou também por considerações caducas, que só não virão a ser asperamente contestadas, porque em Tomar praticamente não há opinião pública, e muito menos  publicada.

Foto copiada de Tomar na rede, a quem se agradece

Com efeito, que sentido faz, em 2017 e em Portugal, acusar os executivos anteriores e o actual, de pretenderem concessionar o saneamento, a recolha de lixo ou a distribuição de água? Trata-se de alguma opção delituosa? Que se saiba, aqui à volta, nomeadamente em Ourém ou Leiria, ambas governadas também pelo PS, os mencionado serviços antes municipais foram concessionados a privados. Decorridos alguns anos, a experiência demonstra que baixaram bastante os respectivos custos para as autarquias, não se tendo registado ainda queixas dos munícipes quanto à qualidade ou às tarifas praticadas. Perderam-se lugares na função pública municipal? É verdade, mas tanto melhor, porque quanto menos funcionários menor despesa e menor carga fiscal. Condição básica para atrair investimento, emprego e população. Como demonstra sobretudo o exemplo leiriense. Nos anos 60, era uma cidade da mesma envergadura de Tomar. Agora tem 113 mil eleitores inscritos, com tendência para aumentar, e Tomar apenas 36 mil, a diminuir de ano para ano.
Bruno Graça tem todo o direito de puxar a brasa à sua sardinha e de tentar ampliar a influência da coligação eleitoral que representa, a CDU. Mas não lhe fica bem apontar o dedo acusador ao PS ou ao PSD, como se fossem malfeitores, só porque não partilham das opções ideológicas do PCP. Afinal, numa democracia pluralista consolidada, é tão legítimo defender ideias de extrema esquerda, como do centro ou de direita. Preferir serviços públicos municipais, ou pelo contrário a sua concessão a privados. Não será assim?
Cada um com as suas ideias e os seus ideais. Contudo, sobretudo na política, as incoerências não ajudam ninguém. Que sentido faz o vereador Bruno Graça criticar a gestão socialista, neste e noutros aspectos, se a mesma só tem sobrevivido com a ajuda da CDU? Quem pode entender o posicionamento do PCP e do BE, que se proclamam contra a União Europeia, contra o Euro e contra a NATO, mas ao mesmo tempo, com os seus votos, tornam viável a existência de um governo PS, felizmente defensor da União Europeia, do Euro e da NATO?  Por favor, deixem-se de ambiguidades. Ou são a favor, ou são contra. Nunca  a favor mas contra, ou vice-versa, consoante as vossas conveniências do momento. Caso contrário ninguém vos entende.

Pôr o carro à frente dos bois - 2

A letra é bem conhecida, mas nem sempre bem meditada: "O Mundo pula e avança/ Como bola colorida/ Entre as mãos de uma criança". Noutros termos, as sociedades evoluem e nem sequer conseguimos a maior parte das vezes modelar minimamente essa evolução. Nesta altura, em Portugal e em Tomar, dois dos fenómenos mais evidentes e importantes dessa evolução são a expansão do automóvel e o extraordinário crescimento do turismo receptivo. Assim sendo, urge adaptar-se a essas tendências, de forma a delas retirar todo o proveito possível. 
Sou um leigo em urbanismo, mas sei alguma coisinha em matéria de turismo, tanto no aspecto teórico como prático. O que me permite ter há muitos anos um plano de desenvolvimento turístico para a minha terra.
Esse plano, que outros centros urbanos já começaram a implementar (Alcobaça, por exemplo), tem por base o chamado "modelo aeroporto". Para os menos versados nestas coisas do turismo e das viagens, o modelo aeroporto consiste em transformar cada estrutura aeroportuária num imenso mercado, graças à passagem induzida de todos os passageiros por centenas de lojas, entre o local do check-in e a porta de embarque.
No caso de Tomar, cidade riquíssima em património, mas paupérrima em inovação e adaptação aos novos tempos, o problema a resolver é, no meu entender, extremamente simples. Linear mesmo. A nossa principal atracção é, de longe, o Convento de Cristo. Acontece que a esmagadora maioria dos visitantes daquele monumento Património da Humanidade, (250 mil em 2016) nem sequer vêm à cidade. Além de criarem já múltiplos problemas relacionados com a falta de estacionamento, durante a estação alta. (Ver foto e respectiva legenda)
Um adequado e eficaz plano de desenvolvimento do turismo local deve portanto tentar resolver esses dois problemas. O dos turistas que pagam a entrada no Convento, mas não descem à cidade, e o da cada vez maior falta de estacionamento. Nas suas grandes linhas, o plano que tenho e proponho é este:
1 - Construção de pelo menos dois parques de estacionamento de grande capacidade, nas entradas da cidade. Um subterrâneo, com dois ou três níveis, na Várzea Grande, para acolher os visitantes vindos da A23 via A13. Outro à superfície, na baixa da Quinta da Anunciada, para os provenientes do IC9.
2 - Instalação de escadas mecânicas subterrâneas, entre o ParqT e o parque de estacionamento junto ao castelo, com ascensor lateral para deficientes.
3 - Alegando problemas ambientais, de segurança e de falta de  estacionamento, proibição de acesso motorizado à zona do Castelo/Convento, logo que as escadas rolantes estejam a funcionar, excepto para os moradores, veículos de urgência ou cargas e descargas.

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Estacionamento junto à fachada norte do Convento de Cristo, antes das infelizes obras paivinas. Agora a situação é bem pior, pois já não se pode estacionar do lado esquerdo e do lado direito há apenas 6 lugares para autocarros de turismo, por vezes forçados a irem estacionar para as proximidades do Casal de Santo António, no entroncamento com a estrada Venda da Gaita - Algarvias. Visite Tomar, que será bem recebido.

Nestas condições, o que agora se propõe para a Várzea Grande tem apenas dois aspectos favoráveis: A - O corte de todas as árvores existentes, excepto as que ladeiam o Palácio da Justiça; B - A mudança do monumento ao soldado desconhecido. Tudo o resto pode ir para a gaveta, sobretudo por ser fantasista , estar muito mal explicado e pior escrito, mas também por estar destinado ao camartelo, logo que se comece a fazer, "a céu aberto", o inevitável parque de estacionamento de grande capacidade. Pode pois afirmar-se que se trata de um projecto prematuro e pouco útil nas circunstâncias actuais.
É no que dá imaginar iniciativas desgarradas, basicamente para apresentar obra e sacar dinheiro a Bruxelas. Sem querer, coloca-se o carro à frente dos bois. Como de resto já aconteceu na Levada. Gastaram-se 6 milhões de euros e onde estão os prometidos três museus, que depois já eram só um museu polinucleado? Quando e se alguma vez abrirem, qual será a sua rentabilidade? De onde virão as verbas para os manter? Tudo questões básicas que deviam ter sido debatidas e respondidas antes de se gastarem os ditos 6 milhões de euros. Se em Tomar houvesse uma opinião pública bem formada e informada. Agora assim... ficam-nos as obras à tomarense, cuja utilidade não é nada óbvia.

quarta-feira, 29 de março de 2017

Sempre à frente do futuro...

Poderão detestar Tomar a dianteira. Não gostar do que por aqui se vai escrevendo. Têm porém de concordar que se trata de um blogue que está na ponta do progresso. Sempre à frente do futuro. Não acreditam? Julgam que é só bazófia? Presunção desmedida?
Então façam o favor de meditar este excerto, copiado do Expresso online de hoje:

Embora frisando que essa não é a sua opção, o presidente da Comissão Europeia admite que haja um grupo de Estados-membros que tome a dianteira no projeto europeu.

Estão a ver? Eu não vos dizia? Só agora é que o presidente da Comissão Europeia admite que um grupo de estados tome a dianteira. Se a Europa deixar, porque a dianteira é dela. 
Pois, modéstia à parte, desde há anos que por estes lados, Tomar a dianteira é o pão nosso de cada dia. Enfim, quase.
Haja saúde!

Pôr o carro à frente dos bois - 1

A Câmara aprovou, na reunião de 27 de de Março, o Estudo prévio para a requalificação da Várzea grande. Deliberou igualmente submeter o documento à discussão pública durante 15 dias, para cumprir a norma europeia. Pedro Marques considerou que era pouco tempo, mas Anabela Freitas foi taxativa. Garantiu que não há tempo para mais, por causa do PEDU, cujas candidaturas terminam em 31 de Maio. O PEDU é o acrónimo de Plano Estratégico de Desenvolvimento Urbano, financiado por fundos europeus. O costume.
Apesar das várias leituras do citado estudo prévio, que mão amiga me fez chegar, continuo cheio de dúvidas e até bastante preocupado. Basicamente, não consigo entender como é que a prevista requalificação da Várzea grande, nos moldes em que é proposta, pode contribuir para o desenvolvimento urbano. Cheira-me a mais uma obra do tipo Rotunda Alves Redol/varandas para o rio, do tempo do Paiva. O futuro o dirá.

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Mas regressemos ao princípio. O documento que li mostra tão pouca qualidade que sou praticamente forçado a dividir a respectiva análise crítica em dois textos. No primeiro, este que está a ler, falarei unicamente da forma. No segundo, a publicar amanhã, ocupar-me-ei da substância.
Quanto à forma, é meu entendimento que o citado estudo ganharia, caso fosse agora confiado a quem saiba e esteja habituado a escrever com correnteza, para o reformular. Única forma, julgo eu, de evitar futuros enxovalhos desnecessários. Digo isto, não por má vontade, pois nem sequer sei de quem é a autoria, se individual ou partilhada. Sei, isso sim, que padece de maleitas várias, que posso resumir em problemas de vocabulário, problemas de construção frásica e problemas de estrutura textual. Passo a exemplificar:
1 - Exemplo de um problema de vocabulário: ..."para a realização da feira anual ou do mercado sanzonal" (Página 4, final do 1º parágrafo do ponto 3). O termo sanzonal não existe, sendo a palavra correcta "sazonal". Além disso, um mercado nunca pode ser sazonal. Em conformidade com os usos e costumes, apenas diário, semanal, quinzenal ou mensal. A partir daí passa a ser feira, que essa sim é sempre sazonal, que é como quem diz, sempre numa determinada estação do ano.
2 - Outro exemplo de problema de vocabulário: "Da mesma forma será tratado o pelourinho" (Página 14, 4º parágrafo). Como toda a gente sabe, na Várzea grande nunca houve nem há qualquer pelourinho. O que lá está é um padrão ou obelisco filipino, (como de resto é referido noutras partes do documento), que até ao final da primeira metade do século passado esteve onde agora se encontra a estação rodoviária. O pelourinho está do lado norte do Centro histórico, à esquerda de quem vai para a Estrada de Leiria.
3 - Exemplo de problema de construção frásica: "Saliente-se que o modo para avaliar a qualidade de vida de uma cidade, implica desenvolver uma análise qualitativa dos  seus espaços exteriores e dos seus elementos estruturais. (Página 3, 2º parágrafo) Conseguiu perceber algo? Eu não. E tenho pena, porque já reli várias vezes.
4 - Exemplo de problema de estruturação textual: O capítulo 5 refere "Programa da intervenção", mas o capítulo seguinte tem por título "Plano de acessibilidade pedonal proposto". No meu entendimento de leigo na matéria, o referido plano não pode deixar de integrar o programa da intervenção, pelo que o desdobramento feito apenas complica, carecendo de justificação.
Os exemplos apresentados são apenas uma amostragem sucinta das carências gritantes do documento em questão, quanto à forma como está escrito. Há parágrafos inteiros de entendimento muito problemático.
Provavelmente, muitos outros documentos do mesmo tipo padecerão das mesmas mazelas, pois é sabido que, não raras vezes, os licenciados técnicos, não dominam quanto baste os conteúdos básicos da área das letras.  Em qualquer caso, reitero que seria de toda a conveniência corrigi-lo em tempo útil, visando evitar futuros dissabores. Por um lado, porque com o mal dos outros pode a gente muito bem, pelo que eventuais outros documentos aleijados não justificam de modo algum as óbvias deficiências deste. Por outro lado, porque muito dificilmente um documento medíocre pode dar origem a uma obra de excelência, como se pretende. Ou trata-se apenas, e mais uma vez, de sacar fundos europeus de qualquer maneira, antes que outros os levem?

terça-feira, 28 de março de 2017

Futuramente, cidades sem carros?

As leis contra o automóvel generalizam-se nos centros urbanos europeus, apesar das várias resistências. E aparecem novas formas de mobilidade, por vezes lançadas até pelos próprios construtores de automóveis.




Foto extraída da primeira cena do filme "LaLaLand", rodada em Los Angeles, Estados Unidos, em 2016. De acordo com Graham Cookson, economista chefe do Instituto Inrix, especializado no estudo dos transportes, nos Estados Unidos os engarrafamentos de trânsito custam à primeira economia do Mundo 280 mil milhões de dólares, ou seja mais de 1,8% do PIB. Dale Robinette

Câmara Municipal de Paris. No seu gabinete em tons claros e cheio de papéis, Christophe Najdovski, vereador ecologista, adjunto da presidente da edilidade da capital, Anne Hidalgo, levanta-se de repente e abre a janela que dá para a engarrafada Rua de Rivoli. "-Está a ver, diz-nos o eleito responsável pela área dos transportes e circulação urbana, apontando para o engarrafamento vários andares mais abaixo. Se tirássemos as carroçarias aos carros, deixando só as pessoas, veríamos que há menos gente nas faixas de rodagem que nos passeios. Há que colocar o automóvel no lugar que lhe cabe", é assim que o autarca define a política já implementada e a levar a cabo em Paris, que naturalmente tem suscitado resistências e protestos, desde o encerramento de parte da via ribeirinha da margem direita, no verão de 2016.
E todavia, Paris não é a única grande cidade a lançar-se numa redução do trânsito automóvel no centro. Na Europa, das cidades médias às grande metrópoles, cada vez mais urbes implementam leis anti-automóveis: proibição de circular nos centros históricos, portagens urbanas, zonas reservadas aos veículos eléctricos... Eis alguns exemplos, escolhidos entre centenas deles: Oslo, capital da Noruega, vai proibir o acesso automóvel ao centro, em 2019; Pontevedra, na Galiza-Espanha, praticamente baniu os carros do centro histórico; Estugarda, Alemanha, já anunciou que vai proibir os carros diesel no próximo ano, e Paris fará o mesmo, mas em 2020. Como se vê, a tendência é forte e mundial.
"Se recuarmos um pouco em termos históricos, constatamos que o automóvel se implantou a partir dos anos 30 do século passado nos centros urbanos com população mais rica, tendo depois evoluído para os bairros populares e finalmente para a periferia", explica Frédéric Héran, economista e urbanista, professor na Universidade de Lille-I. "Continua aliás a estender-se para a grande periferia, na mesma altura em que começa a recuar no centro urbano. São fenómenos de fluxo e refluxo em prazos longos, com afastamentos em função de cada país."
Circulam actualmente no Mundo entre 1,5 e 2 mil milhões de viaturas particulares. É portanto difícil negar que tal abundância provoca problemas variados nas cidades, particularmente nas metrópoles. Temos naturalmente a questão da poluição do ar, causa de uma mortalidade menos visível  que a ligada aos acidentes de trânsito, mas na realidade cinco a dez vezes superior. O custo económico induzido pelos efeitos na saúde humana da poluição automóvel, pode exceder 800 mil milhões de euros à escala mundial.
Mas não é só isso. Os próprios congestionamentos de trânsito também têm um custo. Segundo Graham Cookson, economista chefe no Instituto Inrix, especializado no estudo dos transportes, os congestionamentos de trânsito nos Estados Unidos custam à primeira economia mundial 280 mil milhões de euros, o que representa mais de 1,8% do PIB que se esfuma. "Calculamos este montante, atribuindo um preço ao tempo perdido nos engarrafamentos e calculando o excesso de consumo de combustível que daí resulta", conclui Graham Cookson.
E depois temos também a simples racionalidade. Segundo um estudo dos Décodeurs du Monde, os modos motorizados representam 13% das deslocações em Paris, mas ocupam 50% da vias. "Não será preferível transportar pessoas, em vez de veículos?", pergunta o vereador Najdovski.

Uma mudança que incomoda
Apesar de tudo o que antecede, são numerosas as resistências à evolução. Há antes de mais os que, com frequência, se consideram vítimas da redução da circulação automóvel -os comerciantes. Em Grenoble, França, o projecto "Corações urbanos, corações de metrópole", uma ideia do presidente da câmara ecologista Eric Piolle, vai entrar na fase decisiva em meados de Abril próximo. Esse projecto prevê a pedonalização de vários sectores e a transformação de um eixo de grande circulação em via mais tranquila, com uma "auto estrada para bicicletas".
"A favor de uma moratória". O cartaz branco e vermelho está exposto em várias montras do centro da cidade. Em letra mais pequena, o peão mais curioso pode ler um requisitório contra a extensão da zona pedonal. A tensão sobe à medida que se aproxima o início das obras previstas. A Câmara é acusada pelos seus adversários políticos de "asfixiar a cidade". Desde há mais de um ano, as associações de comerciantes, a câmara de comércio e indústria e o presidente de centro direita da Região Auvergne-Rhône-Alpes, Laurente Wauquiez, crêem que a redução da circulação motorizada vai provocar uma perda de actividade económica para a capital do Dauphiné. 
Há também contestação em Bruxelas, Bélgica. Em Junho de 2015, uma avenida central, a Anspach, foi encerrada ao trânsito automóvel, duplicando assim o sector pedonal da cidade. As prestigiadas fachadas do século XIX e as colunas do Palácio da Bolsa aparecem gora aos peões com todo o seu esplendor, enquanto que o burgomestre socialista, Yvan Mayeur, enaltece a redução dos incómodos ligados ao barulho e à poluição.
Mas mesmo assim, o debate azeda-se nos média e nas redes sociais. Algumas associações de comerciantes e opositores políticos denunciam a "inacessibilidade do centro histórico" e acusam o burgomestre de ainda não ter mandado arranjar os espaços pedonais. Nos painéis que indicam a proibição de acesso de viaturas, alguém escreveu com raiva "Parem com as zonas pedonais".

A indústria automóvel mostra-se insatisfeita
Os comerciantes não são os únicos a achar que basta de zonas pedonais. A indústria automóvel, forçosamente prejudicada por estas mutações profundas, também se mostra insatisfeita. Durante o Salão automóvel de Genebra (Suiça), que fechou as suas portas em 19 de Março, não se hesitou em falar de autofobia, mesmo ao mais alto nível. "Essas políticas são más, avança Harald Krüger, o patrão da BMW. São amiúde injustas para pessoas como os pequenos empresários urbanos, que têm necessidade vital de um veículo e não podem recorrer aos eléctricos." O seu colega da Audi, Rupert Stadler, é ainda mais mordaz: "Talvez fosse boa ideia começar a perguntar aos cidadãos o que pensam realmente sobre esse assunto."
"Dado haver uma demagogia automóvel, existe também um populismo ecológico de casco histórico", deplora Mathieu Flonneau, historiador do automóvel e professor na Universidade de Paris-I. As políticas anti-viaturas são vivamente denunciadas como sendo anti-sociais e não tendo em conta as necessidades das populações dos arrabaldes mais afastados. "Metade dos desempregados em reinserção profissional recusam propostas de emprego por causa da mobilidade", lembra Cécile Maisonneuve, presidente da La Fabrique de la cité, um grupo de estudos criado por Vinci [multinacional francesa que gere, entre outros, o aeroporto de Lisboa], que se dedica ao estudo das cidades do futuro.
Do lado dos ecologistas relativizam-se todas estas críticas. "Nunca dissemos que é preciso acabar com os automóveis", disse-nos um deles, que logo acrescentou "Seria aliás impossível: mais de um quarto da circulação motorizada provém de entregas, taxis, serviços de urgência." Seja como for, está confirmado que, nas cidades que procedem a alterações tendentes a limitar o espaço do automóvel, com o tempo o debate sobre o tema torna-se mais calmo.
A pedonalização do centro de Estrasburgo (França) ou das vias ribeirinhas da margem esquerda, em Paris, as "zonas de circulação limitada" nas cidades italianas ou em Nantes (França), o limite de velocidade a 30 quilómetros por hora em Viena  (Áustria) ou Hamburgo (Alemanha), já não alimentam polémicas. E em todas estas cidades o comércio não morreu, nem definhou. Antes pelo contrário.

Mobilidades, transportes partilhados...
Estaremos quase a assistir a uma evaporação lenta e sem dor do trânsito automóvel nas cidades? Não é bem assim. Porque entretanto a indústria automóvel reergueu-se. Moribunda há 15 anos atrás, está agora em plena forma, ajudada pelas vendas dos SUV, esses 4X4 urbanos que parecem ir em sentido contrário ao da história. E efectuou também a sua revolução tecnológica. Cada vez mais eléctrica, autómoma e conectada, está pronta a adaptar-se ao novo contexto.
Olhe a Ford, por exemplo, um dos grandes construtores mundiais. Aquando do Salão automóvel de Detroit, em Janeiro passado, o seu presidente Mark Fields não apresentou nenhum novo SUV ou qualquer protótipo de carro eléctrico, ao contrário do que fazem habitualmente os seus homólogos. Tendo como apoio um filme publicitário de mini-autocarros e bicicletas com a assinatura da Ford, Mark Fields falou de novas mobilidades, de transportes partilhados e de cidades sem engarrafamentos.
Nesta grande transformação societal, três grandes indústrias são chamadas a cooperar: a dos fabricantes de veículos, a dos produtores de sistemas e de programas informáticos, e a dos operadores de transportes públicos.   Um automóvel acessível colectivamente, já não propriedade individual, mas utilizado ocasionalmente. Nada de novo afinal. O serviço parisiense de viaturas eléctricas Autolib (grupo Bolloré) acaba de festejar os seus 5 anos de existência e já foi usado por mais de 320 mil pessoas, fazendo actualmente parte do passe parisiense de transportes Navigo.
Apesar das interrogações sobre a viabilidade financeira da partilha automóvel (Autolib não é rentável e provavelmente nunca o será), há cada vez mais interessados neste sector. Vêm em geral da área do aluguer sem condutor, como o americano Zipcar, ou o francês Europcar. Estas duas empresas estão associadas num serviço de auto-partilha desenvolvido pela Câmara de Paris, chamado SVP (serviço de viaturas partilhadas), o qual vai dispôr em breve de mais lugares de paragem e estacionamento nas ruas parisienses.
... ... ...

Novos mercados
"O automóvel ainda continua a representar o futuro dos transportes colectivos", resume François Roudier, director de comunicação do Comité dos construtores franceses de automóveis. Um verdadeiro desafio para os operadores tradicionais do transporte urbano (metro, autocarro, taxi, comboio), que não ficam de braços cruzados.
Já conhecemos os mini-autocarros eléctricos sem condutor, como os que experimenta em Paris a RATP [empresa do metro parisiense]. Keolis, filial da SNCF [caminhos de ferro franceses] está a testar um novo programa de mini-autocarros partilhados a pedido (5 euros cada viagem), no oeste parisiense. Em Amsterdão (Holanda), Connexxion, uma filial do francês Transdev [que também opera em Portugal], lançou com êxito um sistema de táxis eléctricos, nos quais quanto mais são os passageiros, menos paga cada um.
Todos estes investidores estão em busca de novos mercados, induzidos pela luta contra a expansão automóvel nas áreas urbanas. A Câmara de Paris, apesar de liderada por uma eleita socialista, está a entregar a privados a actividade municipal de fiscalização do estacionamento pago. Effia, a empresa gestora dos parques de estacionamento urbanos da Kéolis, está interessada nesse concurso.
Ao lado deste combate de titãs, uma pequena e discreta indústria vai progredindo: a fabricação e comercialização de bicicletas com assistência eléctrica. "O meio de transporte testado como o mais rápido na área urbana de Paris", segundo Cécile Maisonneuve. O volume é ainda modesto. Venderam-se em 2016 cerca de 130 mil bicicletas eléctricas em França. Mas o crescimento do sector, 25 a 30% nos últimos 5 anos, faz inveja a todos os operadores de transporte."

Eric Béziat e Olivier Rézemon, Le Monde Économie, 26/03/2017
Tradução e adaptação de António Rebelo


segunda-feira, 27 de março de 2017

Há mesmo uma fractura norte-sul

Os que até agora leram Infelicidades, (apenas 39, que estas coisas da grande política não estão ao alcance de todos os dentes), provavelmente terão ficado surpreendidos com a minha posição. Numa enxurrada de reacções contra o mal educado holandês, fui a única voz a tentar compreendê-lo. Depois apareceu José Manuel Fernandes, mas as atitudes agastadas continuaram a manifestar-se. Ampliadas pelo aparente coro internacional de apoio a Portugal, cujo primeiro-ministro, imagine-se, exigiu a demissão imediata do pecador calvinista.
No meio da euforia condenatória, quase ninguém viu o óbvio. Os apoios a Portugal vieram apenas de países de sul, com graves problemas orçamentais como nós, destacando-se a Espanha, cujo governo conservador apenas está ao nosso lado porque o seu ministro das finanças, Luís de Guindos, foi vencido pelo holandês aquando da escolha para o cargo europeu pelo holandês, e  viu agora uma oportunidade de desforra.

 
O agora odiado holandês calvinista, porque ousou dizer uma verdade inconveniente, em termos demasiado francos.

Ainda ontem, o ministro Caldeira Cabral julgou oportuno martelar um pouco mais as críticas ao holandês de nome impronunciável por um latino, não se dando conta que para lá de Bruxelas ainda ninguém nos apoiou ou tenciona vir a apoiar. Et por cause...
Com a sua usual acutilância, Vasco Pulido Valente é mais uma vez límpido e incontestável na sua análise:

"Copos e mulheres – José Manuel Fernandes foi o único a perceber que o comentário do sr. Dijsselbloem era um comentário de calvinista. Infelizmente, acabou aí. Mas vale a pena continuar. Garton Ash já pediu em público aos seus amigos Merkel e Schäuble que não tratassem a crise do Euro como “um ramo da teologia” e, para uso dos zoilos, também já explicou que esta perversão vem das profundezas da cultura alemã. Em alemão a palavra para orçamento (do Estado, por exemplo), Haushalt, significa simultaneamente “casa de família” ou, se quiserem, “lar”, um termo em desuso mas talvez mais exacto; e que a palavra Schuld quer dizer ao mesmo tempo “dívida” e “culpa”. Garton Ash acrescenta que na imprensa e na televisão se chama habitualmente aos países do Sul “pecadores fiscais”.
Lá do outro lado, Max Weber deve estar a rir-se das críticas que lhe fizeram. Afinal parece que há mesmo uma divisão profunda, de que ninguém se atreve a falar, entre a Europa protestante, onde o capitalismo encontra um leito macio, e a Europa católica (Portugal, Espanha, França e a maior parte de Itália – a Grécia ortodoxa por definição não conta), onde a Igreja por séculos e séculos habituou as gentes à irresponsabilidade pessoal e à dependência do padre, do bispo ou do cardeal, e onde o capitalismo encontrou um ambiente áspero e um Estado absorvente. Richard Tombs, um historiador de Cambridge especialista em história francesa, escreveu a semana passada que não existia no mundo um país tão anticapitalista como a França. Esqueceu-se de Portugal.
Quanto aos “copos e mulheres” do sr. Dijsselbloem, que aqui foram recebidos com hipócrita indignação, não passam de uma transparente metáfora para a classe média em larga medida inútil e parasitária que a democracia criou e para os serviços sociais que ela não pode de toda a evidência sustentar. Nestes apertos nós somos verdadeiramente católicos, esquecemos os nossos desvarios como quem se confessa e, apagando o passado ou até mesmo o presente, consideramo-nos honestos e limpíssimos."
Que relação tem tudo isto com Tomar e os tomarenses? A mentalidade. Sim, a mentalidade. Temos a mesma mentalidade pouco rigorosa e muito gastadora em despesas não produtivas dos gregos ou dos italianos do sul. E muito menos recursos. 
Ainda ontem foi noticiado, por exemplo, que a câmara de Abrantes resolveu atribuir meio milhão de euros, a fundo perdido, a colectividades culturais e desportivas. Compra de votos a prazo, obviamente. Numa terra cada vez mais desgraçada, como Tomar, cuja maioria relativa, com uma dívida municipal agora de 24 milhões de euros, decerto estará a lamentar não poder proceder como em Abrantes, é absurdo andar a criticar o holandês, porque afinal o homem limitou-se a dizer alto aquilo que outros pensam baixinho. Até em Portugal e até em Tomar.
Com políticos assim, Tomar ainda terá remédio? E Portugal? Irá pelo caminho da Grécia, em risco de ser forçada pelos parceiros a abandonar o euro? Ou pensam que a futura Europa a duas velocidades é simples fruto do acaso? Não é a por ela ansiada UEM (União Económica e Monetária) que o vai salvar ou nos vai salvar. Aqueles europeus que, embora sendo cristãos, não compartilham da ideologia católica, há muito tempo que constaram uma evidência: há mesmo uma fractura entre a dominante mentalidade protestante dos povos do norte, que pagam mais para a União Europeia do que dela recebem, e a maioritária mentalidade católica e ortodoxa grega das gentes do sul, que recebem de Bruxelas muito mais do que aquilo que pagam. E, protestante ou católico, ninguém gosta de ser "andante".

domingo, 26 de março de 2017

O "fórum romano" e a poluição do Nabão

Houve uma época, na segunda metade do século passado, em que o Entroncamento era conhecido como a "terra dos fenómenos". Raro era então o mês em que os jornais não noticiavam alguma ocorrência extraordinária naquela cidade ferroviária. Do tipo couve gigante ou abóbora monumental. 
Pois bem, factos recentes surgidos em Tomar, tendem a transformar a cidade na nova terra dos fenómenos. Segundo a Hertz, continuam as obras no quartel dos bombeiros, que são acompanhadas por um arqueólogo "dada a proximidade do fórum romano..." Mas qual fórum romano? O que lá está são apenas restos, sem qualquer interesse artístico, dos alicerces de um templo, eventualmente de S. Pedro Fins ou de Santa Maria de Selho, que ali existiram até pelo menos ao século XVII. Tive em tempos o cuidado de lá acompanhar o prof. Hermano Saraiva, que também não reconheceu quaisquer ruínas romanas naquele local. (Para informação mais detalhada, clicar aqui).

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Apesar da total ausência de vestígios indesmentíveis do alegado fórum, o mito instalou-se. Aquilo são mesmo as ruínas do fórum romano. Um fenómeno tomarense. Adivinhar um fórum romano a partir de simples alicerces toscos.
Inversamente, toda a população pode ver, infelizmente cada vez com maior frequência, a poluição do rio Nabão. Mas apesar disso, ainda ninguém conseguiu determinar a origem desse reiterado crime ambiental. É outro fenómeno tomarense.
Temos assim dois fenómenos nabantinos opostos e por isso ainda mais insólitos. Num caso, não há indícios suficientes, mas a imaginação completa o quadro. Há um fórum romano e pronto. Não se discute mais o assunto. O desejo transformou-se em realidade. No outro caso, há provas mais que suficientes da poluição do rio, mas as autoridades responsáveis não conseguem mesmo assim, a partir desses indícios, identificar a sua ou as suas origens. Ele há coisas!!!
A milenar sabedoria popular tem resposta para as duas situações. Na primeira, quem conta um conto acrescenta-lhe um ponto, ou albarda-se o burro à vontade do dono. Na segunda, não há piores cegos do que aqueles que não querem ver.
Pobre terra! Triste gente! 

sábado, 25 de março de 2017

É capaz de até ser boa ideia

Cópia da página de hoje de Cidade de Tomar on line, obtida à 15H30 de Lisboa e adaptada

Não senhor, não se trata de qualquer embirração. Em primeiro lugar porque eu não embirro com ninguém, limito-me a manifestar a minha opinião. Em segundo lugar e sobretudo porque tenho consideração e simpatia pelos jornalistas locais. Fazem mílagres em condições que nem sempre são as melhores e, com patrões pouco abonados, não ganham fortunas, nem sequer aquilo que julgam que seria justo. Em terceiro lugar, porque o insólito supra documentado é capaz de até ser boa ideia.
Repetir uma notícia na mesma página,  há-de convir aos mais idosos, assim como eu, cuja cabeça já não é o que foi, em termos de memória. E ainda bem, porque ele há coisas que o melhor é mesmo esquecer. Mais a  mais, tratando-se de um respeitável candidato, o mesmo ficará decerto muito agradecido, uma vez que água mole em pedra dura, tanto dá até que fura. Nada melhor portanto que ir repetindo. 
Conclusão minha: Abençoado lapso informático!

Resposta a um prezado conterrâneo

Tentei não responder-te, mas falhei. As ideias começaram a  bailar-me na cabeça e então disse para comigo: Afinal escreves para despejar o cérebro ou não? Portanto aqui vai a resposta para ti, FRM, que assinas Templário. És conterrâneo e todavia meu amigo há longo anos. Apesar das nossas divergências políticas.
Começo por te dar razão, Fernando. O candidato Bruno Graça  é bom. Sério, bem formado, competente, empenhado, alheado das benesses do cargo. Talvez o melhor de todos os candidatos já conhecidos. E escrevo talvez porque não conheço os outros tão bem como julgo conhecê-lo a ele. Infelizmente, ainda que, por um improvável bambúrrio, conseguisse vencer, penso que seria mais um desastre para Tomar. Simplesmente porque o cidadão é bom, mas o projecto implícito da formação política cuja camisola veste, é mau. Totalmente inadequado aos tempos que correm. Passo a tentar explicar.
Apesar do seu magnífico trabalho de longos anos à frente da Gualdim Pais e de todo o seu brilhante passado político. o candidato da CDU conseguiu em 2013 1827 votos, 9,19% dos votos entrados nas urnas, mas apenas 4,89% dos eleitores inscritos. Está longe de ser o melhor resultado da CDU e antecessoras (FEPU, APU) no concelho de Tomar, conforme podes constatar neste quadro, elaborado a partir das tabelas da CNE e do MAI:        

Resultados eleitorais da coligação PCP - PEV no concelho de Tomar

Ano         Total de votos           %               % de abstenção

1976--------1.325---------------7,45%-----------41,72%
1979--------2.248---------------9,90%-----------30,18%
1982--------2.772-------------12,35%------------39,92%
1985--------2.517-------------11,48%------------38,85%
1989--------2.333-------------10,13%------------37,72%
1993--------2.113--------------8,33%-------------36,32%
1997--------3.329-------------13,29%------------38,75%
2001--------2.125--------------8,80%-------------38,63%
2005--------2.508-------------11,44%-------------38,99%
2009--------1732---------------8,00%-------------41,21%
2013--------1.827--------------9,19%-------------46,70%

Como podes ver, meu prezado amigo, conquanto em 2013 o Bruno tenha recuperado em relação a 2009, os seus 1.827 votos são mesmo assim o 5º pior resultado de sempre, em 11 eleições autárquicas livres e honestas. O pior de todos foi em 1976 e o segundo pior foi justamente em 2009. Curiosamente, os anos em que a coligação liderada pelos comunistas obteve piores resultados (1976, 2009 e 2013), são também aqueles em que houve maior taxa de abstenção.
Chegados aqui, forçoso é concluir que, em termos de resultados práticos, a doutrina não penetra. Mesmo com o excelente quadro político e autarca que é o Bruno, a CDU está agora bem longe dos quase três mil e quatrocentos votos de 1997. Porquê? No meu tosco entendimento, porque o seu projecto político convence cada vez menos eleitores. Só assim se explica que no concelho de Tomar não tenha conseguido congregar em 2013 mais de 4,89% dos eleitores inscritos, apesar de o PCP se proclamar defensor dos trabalhadores e do povo (antes de mais e sobretudo dos funcionários e pensionistas).
Na verdade, num concelho endividado, em recessão económica, com a população a diminuir acentuadamente e com excesso de despesa com funcionários camarários sentados, recusar ou mesmo adiar o aligeiramento da demasiado pesada estrutura municipal, como via para reduzir depois os encargos fiscais, por sua vez condição sine qua non para fixar população e criar emprego (ou vice-versa), é uma posição que convence apenas os já convertidos. Por isso escrevi acima o que escrevi.
Quer queiramos quer não, quer nos agrade ou não, é este o mundo e esta a sociedade em que vivemos. Com crescimento económico muito inferior ao dos anos 70, (menos de metade e sem perspectivas favoráveis) o que torna inviável qualquer política de esquerda sensata, pois não há suficiente criação de riqueza, para depois distribuir. E a esquerda o que sabe é distribuir. Por isso vem sendo condenada nas urnas por essa Europa fora e a geringonça não tardará a ir pelo mesmo caminho. É inevitável. A menos que façam o que na Grécia Tsipras, o bloquista lá do sítio, vai aceitando. Implementar tudo o que os credores lhe exigem, tentando convencer os gregos que está a governar à esquerda. O logro completo, em termos ideológicos e práticos. Vender gato por lebre. Adaptar os valores ao contexto, para citar Rui Ramos, que é de direita. (E daí? A esquerda tem o exclusivo da análise correcta? Desde quando?)
Em conclusão, nesta querida Tomar que ambos amamos, julgo que fazem falta: 
1 - Um projecto mobilizador, eficaz e adequado, capaz de aproveitar os recursos disponíveis, e de aumentar a médio prazo as receitas municipais, sem recorrer a impostos e taxas obrigatórias;
2 - Redução das despesas com pessoal e da tributação a nível local;
3 - Adequação das estruturas municipais às necessidades concelhias;
4 - Criação de empregos produtores de mais valias;
5 - Redução acentuada da burocracia;
6 - Mudança de atitude face aos investidores, que passa pela prévia condenação da arrogância de alguns funcionários superiores.
Uma vez que, por razões ideológicas, a formação que o  Bruno actualmente representa não pode apresentar um programa eleitoral assim, desejo-lhes muito boa sorte, como a todos os outros, mas desde já afirmo que não contarão com o meu voto, do qual também não precisam, bem sei.
Já me disseste, e não foste o único, que apostei sempre nos cavalos errados. É possível. Mas que eu saiba, os vossos cavalos jamais venceram nas urnas, na Europa ocidental. E onde venceram como venceram, os resultados nunca foram brilhantes, para não dizer mais.
A interpretação é livre. Os factos são o que são.

sexta-feira, 24 de março de 2017

Miguel Relvas em Brasília

A convite do Supremo Tribunal Eleitoral do Brasil, Miguel Relvas fez uma intervenção de 13 páginas sobre Sistemas eleitorais, durante um seminário organizado por aquele órgão judicial no passado dia 20, em Brasília. No dia seguinte, falou sobre o mesmo tema, tendo por base 11 páginas, no Parlamento Federal do  Brasil, também em Brasília.
No dia 24 foi entrevistado sobre formas de governo e sistemas eleitorais, no programa de Mário Sérgio Conti, na Globnews. Sobre esta matéria o jornal Globo, um dos dois mais importantes do Brasil (o outro é o Estado de S. Paulo), publicou isto:


Para ler a notícia completa:
http://m.oglobo.globo.com/brasil/defensor-do-voto-em-lista-diz-que-sistema-exige-mudancas-nos-partidos-21096292?utm_source=Google+&utm_medium=Social&utm_campaign=compartilhar
Segundo declarou por escrito a Tomar a dianteira, "Estas iniciativas não significam o regresso à política activa. São apenas um pequeno  "tira gosto", como se diz aqui no Brasil."
Agradeço a amabilidade de Miguel Relvas, ao fornecer por iniciativa própria informações detalhadas. Tomar a dianteira congratula-se com o facto de o ex-ministro adjunto e tomarense pelo coração estar a demonstrar na prática aquilo que usavam dizer os nossos marinheiros de quinhentos: "Portugal é pequenino, mas há muito mundo para além da Torre de Belém."

Preço demasiado convidativo...

Para os mais cépticos, eis a cópia da fonte da notícia (clique para ampliar)

"Remodelação do Quartel dos Bombeiros de Tomar já está em curso 
REDAÇÃO | 2017-03-23 16:36:16
Está a decorrer a empreitada de remodelação e ampliação do Quartel dos Bombeiros Municipais de Tomar. Adjudicada à empresa ECOEDIFICA – Ambiente e Construções, SA pelo valor de 2
mil euros e com um prazo de execução de 90 dias, a obra teve o seu início no dia 2 de março."

A notícia está no Cidade de Tomar online de hoje, mas  foi realçada com o negrito por Tomar a dianteira. Para informar que, a confirmar-se aquele preço demasiado convidativo, volto já para aí e mando construir um prédio. Antes que os preços subam.

Contra o injusto sistema eleitoral

Após ter comparado resultados eleitorais no distrito de Santarém, pareceu-me oportuno proceder como nos ensaios clínicos. Comparar com um grupo-testemunho. Escolhi o distrito de Leiria, por ser o vizinho do lado e por integrar a faixa costeira. Aquela parte do território que vai crescendo economicamente, embora devagar, enquanto o interior vai definhando de forma mais acelerada. Recordo aos leitores que se trata de verificar 1 - Se o aumento da taxa bruta de abstenção é um fenómeno generalizado no país, ou algo que só existe no distrito de Santarém; 2 - Se essa tendência nefasta é mais acentuada nos concelhos rurais ou nos urbanos; 3 - Se a usual segmentação faixa costeira/interior tem no caso alguma relevância.
Comecemos então por mostrar elementos essenciais dos dois grupos em comparação:

                  Concelhos     Eleitores inscritos     Inscritos no maior concelho     Abstenção 2005 e 2013

Leiria              16                  427.002                Leiria       113.378                         39,54%    49,59%                    
Santarém        21                  399.173               Santarém    53.418                         38,44%    46,32%

A título de curiosidade, em 2005, o distrito de Santarém ainda tinha mais eleitores inscritos que o de Leiria. 388.249 e 387.376, respectivamente.

Taxa bruta de abstenção no distrito de Leiria, em 2005 e 2013

Concelhos                TBA em 2005             TBA em 2013                  Diferença 2005/2013

Alcobaça                         43,38%                     57,92%                                +14,54%
Alvaiázere                       37,84%                     43,90%                                +  6,06%
Ansião                             35,57%                     45,61%                                +10,04%
Batalha                            39,70%                     59,44%                                +19,74%
Bombarral                       44,94%                     57,39%                                +12,45%
Caldas da Rainha            51,74%                     60,88%                                 +  9,14%
Castanheira de Pera        27,96%                     35,09%                                 +  7,13%
Figueiró dos Vinhos       27,91%                     36,79%                                 +   8,88%
Leiria                              42,72%                     63,62%                                 +20,90%
Marinha Grande             50,51%                     60,63%                                 +10,12%
Nazaré                            46,03%                     55,16%                                 +  9,13%
Óbidos                            41,93%                     51,54%                                 +  9,61%    
Pedrógão Grande           29,40%                      41,35%                                 +11,95%
Peniche                           49,77%                    64,24%                                 +16,47%
Pombal                           48,31%                     64,00%                                 +15,69%
Porto de Mós                 36,53%                     55,65%                                  +19,12%

Conferidos os dados, a conclusão é que não deixam dúvidas. Existe uma fuga crescente dos eleitores que ainda escolhem, isto é, que ainda optam por uma das formações concorrentes. No distrito de Leiria, o problema é ainda mais grave que no de Santarém. Na própria cidade do pinhal, a taxa bruta de abstenção cresceu 20,90%, em 8 anos. E o fenómeno é semelhante nos outros concelhos costeiros ou mais urbanos. A excepção é Caldas da Rainha, cuja taxa bruta de abstenção já era em 2005 superior a 50%.
Em contraste com as áreas mais urbanizadas, os concelhos rurais do interior (Alvaiázere, Ansião, Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos e Pedrógão Grande), apresentam taxas brutas de abstenção inferiores a 50%, ou mesmo a 40%, nos casos de Castanheira de Pera e Figueiró dos Vinhos. A evidenciar que abstenção, votos brancos e votos nulos provêm sobretudo do eleitorado mais esclarecido, pelo que só podem representar formas de protesto contra a actual organização eleitoral.
Concluindo, penso poder citar-se a velha e conhecida letra: tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é fado. Perante a indiferença generalizada de quem podia, mas não quer de forma alguma, alterar a lei eleitoral. Pudera! Não querem serrar o ramo no qual estão confortavelmente sentados. O problema só terá solução quando, pelo caminho que as coisas levam, deixar de haver eleitos representativos, por não haver eleitores em percentagem suficiente. Já faltou mais. Basta pensar que, conforme já referido anteriormente, Anabela Freitas foi eleita com apenas 5.479 votos, o que equivale a apenas 14,68% dos inscritos. É legal, sem qualquer dúvida. Mas será moralmente aceitável? Significa que em cada 100 eleitores inscritos, 85 não votaram nela. E o mesmo acontece por esse país fora.

quinta-feira, 23 de março de 2017

Autárquicas 2017: Estamos a começar bem...

Na entrevista que hoje publica o Cidade de Tomar, Nuno Ribeiro, candidato do CDS, diz designadamente que é católico e que o importante são as pessoas. Há semanas, na apresentação da sua candidatura pelo PSD, Luís Boavida, disse outro tanto. Que é católico e que o importante são as pessoas.
Anabela Freitas, do PS, também já avançou que o importante são as pessoas, conquanto não se tenha proclamado católica, apesar de já ter levado o pendão do espírito santo, por inerência do cargo.
É duvidoso que Luís Santos, candidato do BE, venha a proclamar que é católico, mas todos sabemos que é o caso. E decerto que ele também concorda que o importante são as pessoas. O mesmo se poderá dizer do eng. Bruno Graça, (se vier a ser ele o candidato da CDU), que não sendo um assíduo praticante católico, estará de acordo que o importante são as pessoas. Os trabalhadores e o povo, para usar o vocabulário da sua formação, liderada como se sabe pelo PCP.
Estamos assim a começar bem, não haja dúvidas. Todos os candidatos dizem praticamente o mesmo. Abundam as frases feitas e os lugares comuns. O que prenuncia programas gémos e campanhas similares. Após o que os eleitores baralhados, que mesmo assim resolverem ir às urnas e não optarem pelo voto de protesto, sob a forma de boletim branco ou nulo, votam em quem e porquê? Na barbicha do candidato do CDS? Na gravata de Luís Boavida? Nos penteados, nas indumentárias ou nos sapatos de Anabela Freitas? No ar pachola de Luís Santos? Na postura descontraída e triste de Bruno Graça?
E o futuro da cidade e do concelho, no meio de tudo isso? Continuará a aguardar melhores dias?

A nova realidade eleitoral em Tomar

Trabalhar com estatísticas eleitorais em Portugal é tudo menos fácil. Resultados há, e podem ser facilmente consultados na net. O pior é que alguns detalhes complicam inutilmente. Cabe lá na cabeça de alguém que, por exemplo, não indiquem directamente a percentagem de abstenção? Pois é isso mesmo que acontece. Nos quadros oficiais de resultados, do MAI, aparece unicamente a percentagem de participação. O que força a efectuar a respectiva operação, que era bem escusada. Adiante.
No caso de Tomar, é indispensável consultar resultados anteriores, antes de tentar prever os resultados das próximas autárquicas. Isto porque, além dos problemas do passado, surgiu agora um outro obstáculo de monta. Com o desaparecimento praticamente certo dos IpT, deixa de concorrer a 3ª força política concelhia. O que representa menos 15,56% dos votos entrados nas urnas e 8,29% do universo eleitoral concelhio. Não é pouca coisa, num concelho onde, mesmo com os IpT, o que facultava uma escolha entre três potenciais vencedores, o total de votos brancos e nulos, os tais votos de protesto, chegaram aos 8, 92% em 2013. Em Tomar, vamos portanto retornar, segundo tudo parece indicar, à situação anterior a 2005. Uma disputa PS/PSD, ou vice-versa. Quais as consequências?
O quadro seguinte indica os resultados eleitorais de 2005 e 2013, em todos os 21 concelhos do distrito de Santarém, que contava em 2013 399.173 eleitores inscritos, dos quais 46,32% se abstiveram e 7,38% votaram branco ou nulo. O que dá uma TBA - taxa bruta de abstenção (abstenção + votos brancos + votos nulos) de 53, 7% a nível distrital. Mais de metade do eleitorado.

Concelho                     TBA em 2005                  TBA em 2013             Diferença percentual

Abrantes                           44,12%                             56,45%                       + 12,33%
Alcanena                          35,14%                             47,69%                       +  12,55%
Almeirim                          53,15%                             54,76%                       +    1,65%
Alpiarça                            35,70%                             45,02%                       +    9,32%
Benavente                         56,14%                             68,18%                       + 12,04%
Cartaxo                             46,56%                             52,00%                       +   5,44%
Chamusca                         41,98%                             44,21%                       +   2,23%
Constância                        28,56%                             36,33%                       +   7,77%
Coruche                            45,04%                             48,83%                       +    3,79%
Entroncamento                 43,37%                             59,51%                       +  13,14%
F. do Zêzere                     33,92%                             39.07%                        +    5,15%
Golegã                             36,60%                             38,88%                        +    2,28%
Mação                              27,62%                             32,98%                        +    5,36%
Ourém                              44,19%                             53,95%                        +    9,76%
Rio Maior                        42,44%                              48,69%                       +     6,25%
Salvaterra de Magos        49,15%                              61,58%                       +   12,43%
Santarém                          41,15%                             55,73%                        +   14,58%
Sardoal                             25,07%                             30,77%                        +     5,70%
Tomar                               45,09%                             55,62%                        +  10,53%
Torres Novas                    42,25%                             56,25%                        +  14,00%
V. N. da Barquinha          42,84%                              50,32%                        +    7,48%

Face a estes resultados, obtidos a partir das páginas oficiais do MAI, uma primeira constatação se impõe. Entre 2005 e 2013, em oito anos portanto, a TAB, Taxa bruta de abstenção, agravou-se em todos os concelhos do distrito, com especial incidência nos principais centros urbanos, Uma classificação por ordem decrescente da diferença percentual entre 2005 e 2013, permite visualizar melhor essa situação:

Concelho                        Diferença % 2005 - 2013

1 - Santarém                                       14,58%
2 -Torres Novas                                  14,00%
3 - Entroncamento                             13,14%
4 - Alcanena                                        12,55%
5 - Salvaterra                                      12,43%
6 - Abrantes                                        12,33%
7 - Benavente                                      12,04%
8 - Tomar                                            10,53%
9 - Ourém                                             9,76%
10 - Alpiarça                                        9,35%
11 - Constância                                    7,77%
12 - Rio Maior                                     6,25%
13 - Sardoal                                         5,70%
14 - Cartaxo                                         5,44%
15 - Mação                                           5,36%
16 - Ferreira do Zêzere                        5,15%
17 - V. N. Barquinha                           5,05%
18 - Coruche                                        3,79%
19 - Golegã                                          2,28%
20 - Chamusca                                     2,15%
21 - Almeirim                                      1,65%

Há por conseguinte 8 concelhos, entre os quais Tomar, cuja taxa bruta de abstenção aumentou mais de 10 por cento em oito anos. As alcoviteiras do costume, sobretudo as de esquerda, vão alegar que se trata de uma situação normal, uma vez que há pessoas que morrem ou mudam de residência e os cadernos eleitorais nem sempre são actualizados atempadamente. Trata-se de uma explicação que não colhe.  Os defuntos e os ausentes por mudança de residência, abstêm-se. Não votam branco ou nulo. E no distrito o panorama foi este:

Concelho                                    % de brancos + nulos
                                                     2005            2013

1 - Benavente                              6,38%           9,11%
2 - Entroncamento                      3,88%            9, 07%
3 - Tomar                                   6,10%           8,92%
4 - Torres Novas                         5,16%           8,80%
5 - Abrantes                                5,01%           8,37%
6 - Ourém                                   5,92%           8,25%
7 - Santarém                               4,83%           7,72%
8 - Barquinha                              4,46%           7,12%
9 - Rio Maior                              6,25%           6,89%
10 - Alpiarça                               2,68%           6,22%

Com estes tristes resultados, sempre a subir, que quanto a mim mostram a crescente desconfiança dos eleitores em relação ao actual sistema, a pergunta que se impõe aos tomarenses é a seguinte: Se em 2013, com a possibilidade de escolher entre três formações potencialmente vencedoras (PS, PSD, IpT), já houve quase nove por cento de eleitores que resolveram protestar ou não escolher; em 2013, ao que tudo indica com a escolha confinada ao duo PS/PSD, cujos programas têm sido sempre praticamente gémeos, como vai ser? Vamos ter outra vez uma ou um presidente eleito por menos de 15% dos inscritos? É um hipótese provável, que seria muito pouco animadora para os tomarenses. Muito depende dos programas e da campanha eleitoral. No estado actual das coisas, quanto menos eleitores votarem numa formação partidária, maior é a possibilidade de o PS vencer de novo. Isto porque, no próximo escrutínio, se o PSD não inovar muito seriamente, onde estará a novidade apelativa?


                                         

quarta-feira, 22 de março de 2017

A Câmara, o Governo, o Convento de Cristo e os Pegões

No decorrer de um acto eleitoral em Carregueiros, a senhora presidente da Câmara usou da palavra para dizer que o Aqueduto dos Pegões está em perigo de derrocada parcial. Acrescentou que a respectiva reabilitação custará 12 milhões de euros, verba demasiado elevada para a capacidade financeira do município, que mesmo assim se candidatou aos fundos europeus, tendo conseguido meio milhão de euros para a reparação urgente de quatro arcos em risco de colapso e alguma limpeza da estrutura.
Segundo a notícia da Rádio Hertz, Anabela Freitas esclareceu que a Câmara resolveu custear as obras de restauro, apesar de aquele monumento pertencer ao Estado, mais precisamente à Direcção-Geral do Tesouro e Finanças.
Até à década de 80 do século passado, todos os monumentos nacionais eram geridos, mal ou bem, pela Direcção-geral da Fazenda Pública, muito provavelmente a antecessora da antes mencionada. Durante o governo AD (PSD - CDS - PPM), o ministro da cultura Francisco Lucas Pires (CDS) decidiu criar o Instituto Português do Património Cultural - IPPC, para o qual foi transferida a tutela dos principais monumentos do país. Nessa altura, o vereador da cultura da câmara de Tomar, igualmente da AD e liderada por Amândio Murta, solicitou-me que fizesse um plano de exploração turística para o Convento de Cristo. Esse plano veio depois a ser aprovado em Conselho de ministros, tendo o facto  sido  comunicado através da RTP, pelo então porta-voz governamental Marcelo Rebelo de Sousa.


Nesse plano, que considerava implicitamente o Aqueduto dos Pegões e a Cerca parte integrante do Convento de Cristo, como de resto sempre foram e continuam a ser, propunha que a tutela e a gestão daquele conjunto passassem para a responsabilidade do Município de Tomar, directamente ou por intermédio de uma sociedade de economia mista, a fundar. O vereador da cultura recusou essa parte do plano e o Convento passou a ser tutelado pelo recém-criado IPPC, sem qualquer experiência de gestão turística.
Sem pretender entrar em conflito seja com quem for, constato agora com muita mágoa que o tempo passou, o IPPC tornou-se IPAAR e agora é IGESPAR, mas o problema do Convento infelizmente mantém-se, designadamente porque não faz qualquer sentido gerir um monumento Património da Humanidade a partir do Palácio da Ajuda, a mais de de 100 quilómetros.
Existe no seio da União Europeia a directiva da subsidariedade, que estipula em síntese caber a gestão de qualquer matéria a quem estiver melhor situado para a executar. Neste caso a Câmara de Tomar, a 150 metros do monumento, em linha recta. Infelizmente, tanto quanto sei, os sucessivos autarcas nunca julgaram útil reivindicar a gestão do Convento, dos Pegões e da Cerca, ou seja afinal a totalidade urbana edificada da Casa da Ordem de Cristo, por medo ou por ignorância da referida directiva europeia.
Mais ousados, os autarcas de Sintra já conseguiram o que pretendiam. Os monumentos de Sintra mais o Palácio Nacional de Queluz são agora tutelados e geridos pela empresa pública "Parques de Sintra Monte da Lua", na qual a Câmara de Sintra detém 50% do capital. Enquanto isso, aqui em Tomar é o que sabemos. O IGESPAR arrecada cerca de milhão e meio de euros anuais no Convento de Cristo, que vão imediatamente para Lisboa, mas enjeita qualquer responsabilidade quanto aos Pegões e à Cerca. O que se compreende, porque aquilo como está só dá despesa. A Câmara, por seu lado, trata dos acessos, dos parqueamentos, da limpeza exterior e do restauro dos Pegões. Numa frase simples: O IGESPAR come a carne e Câmara cuida dos ossos.
Mas se os senhores autarcas tomarenses acham que assim é que está bem, quem sou eu para os contrariar?

Uma consulta eleitoral preocupante

Acicatado por aquela frase do meu amigo "Templário", na qual referia que por enquanto os portugueses ainda confiam no sistema eleitoral, tenho andado a consultar resultados eleitorais. E o que já vi, deixou-me bastante preocupado. Mas já lá iremos. Antes, prioridade para um excerto das declarações do igualmente meu amigo Miguel Relvas, ontem ali em Brasília, a mais de dois mil quilómetros daqui. O Brasil é mesmo imenso. 
Bem sei, Miguel Relvas e tal... Pois. Mas foi graças à sua acção decidida, na sequência de um pedido meu, que o alambor templário do século XII não desapareceu completamente, vítima daquelas obras camarárias projectadas durante o mandato paivino. E eu nunca esqueço quem me ajuda. Vamos então ao referido excerto. 
Durante uma intervenção para a qual foi convidado como orador, o antigo ministro-adjunto do primeiro ministro avançou que "o sistema português, na sua configuração sistema de partidos/sistema eleitoral, é porventura nas democracias consolidadas o sistema que menos liberdade de escolha dá aos eleitores... ...o que conduz ao afastamento dos cidadãos da política nacional e os leva a uma de duas decisões: a abstenção ou o voto de protesto." Quer saber mais? Basta clicar aqui.
Vamos então agora à questão dos resultados eleitorais. Para já, com uma chamada de atenção. Se calhar, muitos eleitores tomarenses ainda não se terão dado conta de uma situação grave -a óbvia falta de representatividade e de legitimidade dos eleitos para nos governarem. Todos eles, sem excepção. Um exemplo? Tomemos o caso da actual presidente. Eleita em 2013, com 5.479 votos, num universo de 37.310 inscritos, representa com inteira legitimidade de facto apenas os que nela votaram. Os restantes, acatam naturalmente as normas democráticas em vigor, mas não se coíbem de ir dizendo que não votaram nela. Quanto representam mesmo os eleitores de Anabela Freitas? 27,55% dos votos entrados nas urnas. Apenas 14,68% dos eleitores inscritos. Convenhamos que é demasiado pouco para congregar esforços, demasiado escasso para impôr respeito e impedir contestação.
Amanhã há mais.