sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Tabuleiros a património mundial?

3 - Vantagens e inconvenientes do estatuto de Património Mundial

Desde que me conheço que ouço dizer que os tomarenses gostam de "penacho". Que gostam de dar nas vistas. Que são cabotinos. Se a isso juntarmos, regra geral, um ego sobredimensionado, temos o tomarense típico: espaventoso, bairrista, orgulhoso da sua cidade, julgando-se de facto  acima dos demais, por ter tido o privilégio de nascer nas margens nabantinas. São agora  aqueles cidadãos e cidadãs que ainda se não adaptaram aos novos tempos. Que ainda não entenderam, ou não querem perceber, que essa Tomar mítica, raínha do norte do distrito, já não existe. Agora e cada vez mais, não passamos de uma aldeia ainda grande, com um belo e rico património, porém em acentuada decadência. Numa frase simples: Com passado mas sem grande futuro.  
Esta introdução, nada agradável para a esmagadora maioria dos meus concidadãos, nem tão pouco para mim, pareceu-me todavia indispensável para fazer aquilo que os nossos vizinhos espanhóis reputam ser indispensável e prévio em qualquer situação -poner las cosas en su sítio. Creio ser supérfluo traduzir.


Postas as coisas nos seus devidos lugares, podemos agora passar ao essencial. Tendo em conta o antecedente, entende-se que praticamente todos os protagonistas locais achem necessário e urgente a candidatura da Festa dos Tabuleiros a Património Mundial vivo da UNESCO. Será para eles mais uma ocasião de se mostrar, de protagonizar, de ostentar o tal penacho. Mas então, assim sendo, o que tem impedido que arranque e vá avante o processo da dita candidatura? No meu entender, três ordens de factores. Por um lado, todos falam, porém ninguém tem o básico -o know-how, o saber fazer indispensável para o longo percurso até ao resultado final. Por outro lado, o processo de candidatura não é nada barato. Mesmo conseguindo que quem o lidere, ou para ele contribua com o seu trabalho, não seja remunerado, o que nos tempos que correm é cada vez mais raro. E a Câmara não está propriamente a nadar em dinheiro. Em terceiro e último lugar, a experiência tomarense com o Convento de Cristo - Património mundial, mostra na prática que essa classificação não traz só vantagens.
Explicando melhor, estou mais preocupado do que entusiasmado com uma eventual candidatura da Festa dos Tabuleiros a Património mundial, porque tenho presentes os inconvenientes do Convento de Cristo. Sendo indiscutível que o estatuto, a reputação, a conservação, o restauro e a manutenção daquele conjunto monumental melhoraram muito, há também consequências menos felizes.
As entradas passaram a ser pagas, mesmo para os tomarenses, e não são nada baratas. Acabaram as sistemáticas visitas guiadas, que antes eram a norma. O horário de funcionamento passou a ser de facto menos adequado, pois antes os guardas, na mira das gratificações, mantinham-se em serviço praticamente até haver visitantes. Agora temos apenas o horário da função pública.
Os sucessivos directores do monumento são nomeados pela tutela lisboeta, tendo por vezes como única justificação o facto de os quererem ver longe do Palácio da Ajuda, sede do IGESPAR.
A receita arrecadada com as entradas (cerca de 1,5 milhões de euros em 2015) vai na sua totalidade para Lisboa. Mas é a Câmara que assume a limpeza no exterior, a iluminação, o estacionamento e as vias de acesso. Será isto justo? Deixo a cada um a oportunidade de se manifestar.
Concluindo mais este capítulo, acrescentarei apenas uma bem conhecida frase feita: À primeira, todos caem. À segunda já só cai quem quer.

anfrarebelo@gmail.com

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