sábado, 10 de dezembro de 2016

Crónica de uma cidadezinha aconchegante

Vem uma pessoa da grande urbe, com todos os problemas inerentes, e sente-se logo envolvido pelo aconchego da terra-berço. Por aqui não há corrupção, nem crimes violentos, nem grandes tramóias políticas. Apenas o trivial, que nem sequer é sempre bem feitinho:
"Quanto ao papel da Câmara, o vice-presidente Hugo Cristóvão recorreu a um auto da Polícia de Segurança Pública que refere a existência de suínos, não especificando a presença de javalis, algo que limita a actuação da autarquia, refere o eleito do Partido Socialista." (Site da Rádio Hertz, a quem agradecemos e desejamos Festas Felizes)
Pois é! Estava eu convencido até agora que nem todos os suínos são javalis, mas todos os javalis são suínos, e afinal vai-se a ver... Agora só falta explicar porque é que a (falsa) divergência semântica limita a actuação da autarquia.
Entretanto ouso avançar o meu ponto de vista. Segundo a mesma local da Rádio Hertz, o executivo já mandou iniciar um processo disciplinar contra o fiscal que mentiu, tendo também intimado o cidadão prevaricador, porque criador de suínos-javalis na área urbana, a proceder à demolição das instalações ilegais. Tudo bem. Oxalá no decorrer do dito processo disciplinar apurem igualmente, devidamente apurada, a causa próxima da mentira do fiscal. 
Seria outrossim de muito boa política, conforme já aqui referi anteriormente, indicar um outro local para o cidadão suinicultor poder continuar a governar a sua vida. De preferência já com pavilhões, pelos quais naturalmente pagaria renda. Porque se, felizmente, a autarquia arranja habitações para as famílias ciganas, que depois pagam as respectivas rendas e outros encargos mensais, não se vê o que possa obstar a igual tratamento para com um munícipe que apenas procura ganhar a  vida e não é de etnia cigana.
Outra notícia muito aconchegante é esta, copiada do nosso querido colega Tomar na rede, a quem agradecemos, com votos de feliz Natal lá longe:

 Polícia apreende TUT e passageiros ficam a pé


"Um autocarro dos Transportes Urbanos de Tomar (TUT) foi apreendido pela polícia por apresentar um pneu em mau estado e que poderia pôr em perigo os passageiros.

O caso aconteceu na manhã desta sexta feira e afetou dezenas de passageiros. A viatura apreendida foi substituída por outra que também estava ao serviço na outra linha mas isso afetou horários e percursos que não foram cumpridos.
Por exemplo o TUT que deveria passar por Serôdia e Carvalheiros por várias vezes não completou o percurso e alguns passageiros saíram na paragem do hospital.
Débora Cordeiro é uma mãe revoltada porque as suas duas filhas, que utilizam diariamente o serviço, ficaram a pé. Teve de ir buscá-las de carro na avenida do hospital. Considera esta situação “intolerável” e promete ir segunda feira à câmara apresentar uma reclamação por escrito. Até porque diz que já não é a primeira vez que fica mal servida com os TUTs. “Esta câmara de Tomar está cada vez pior, uma autêntica vergonha. Não tem dinheiro para a manutenção dos TUTs, mas investiu dinheiro na iluminação de Natal (...)”, critica."

Perante uma coisa assim, nem sei bem por onde começar. Se pela manifesta má gestão camarária, se pela inconsciência dos munícipes utentes dos TUTs. Da péssima gestão autárquica se pode dizer que foi megalómana ao meter-se na aventura que são os transportes colectivos urbanos, numa pequena urbe a caminho da aldeização. Agora, perante despesas não cobertas de centenas de milhares de euros anuais, sem poderem aumentar impostos ou taxas municipais, por causa das eleições que estão à porta, concluem decerto os autarcas que não têm meios para assegurar a indispensável manutenção e requalificação da frota. Situação que se agravará, e de que maneira, quando for necessário comprar mini-autocarros novos. Ainda há bocado, ao ouvir chiar um ali pela Rua Direita fora, disse para com os meus botões: -Tens os dias contados.
Totalmente fora da realidade, porque simplesmente não a entendem, em muitos casos por manifesta falta de capacidade para tanto, alguns munícipes convencem-se que tudo aquilo que lhes é oferecido uma vez, passa a ser um direito adquirido e para sempre. Sem cuidar de saber se a autarquia tem recursos para tanto, ou se, pelo contrário, tem maior olho que barriga e tendência para dar passos maiores que as pernas.
Pobre gente. Pobre terra que tal gente tem. Mas tudo isto é muito aconchegante. São apenas problemas comuns em todas as famílias numerosas. Citando um saudoso conterrâneo: "Deus nosso senhor não tem culpa nenhuma de ser pai de tanto filho bruto." Eu pecador me confesso...


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