quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Os tempos mudaram e continuam mudando

Político por natureza e com vasta experiência, Luís Ferreira tenta regressar aos comandos do PS local, devagarinho, conforme aqui previ em tempo oportuno. Apesar de ter sido explicitamente escorraçado pelos seus discípulos políticos. Porque tenho por ele consideração e estima, infelizmente nem sempre correspondidas, sinto ser meu dever de cidadania preveni-lo que essa sua tentativa só pode redundar em fracasso. Caso não consiga os seus intentos, o PS Tomar perde, é verdade. Todavia, caso consiga um regresso feliz à sua casa de sempre, a derrota socialista será ainda mais pesada. Por duas razões de fundo: 1 - Os eleitores tomarenses estão fartos dele e das novelas tipo mexicano; 2 - Os tempos mudaram e continuam a mudando, mesmo se em Tomar que, bem vistas as coisas não passa de uma mera aldeia pequena à escala europeia, tudo parece continuar na mesma. Resta ao ex-companheiro da presidente apenas uma nesga de oportunidade: Caso o PSD venha a escolher Boavida como seu cabeça de lista, Anabela terá alguma hipótese de triunfar, pois nesse caso os tomarenses terão de escolher entre funcionária e funcionário, entre boné branco e branco boné em termos de mentalidade. E desde o 25 de Abril que em Tomar só venceram eleições o PSD (isolado ou em AD) e o PS. Não há porque acalentar ilusões.
A esse propósito, gostaria de lembrar a frase bombástica que há algum tempo ficou nos ouvidos do eleitorado nabantino: "as duas pessoas melhor preparadas...sou eu e o Luís Boavida". Na altura ninguém percebeu. Ficaram até baralhados com a aparente contradição de Ferreira -louvar alguém que antes fora para a "unidade de queimados". E no entanto é claro como a água. Vendo longe e nunca dando ponto sem nó, o agora ex-ordenador do PS Tomar estava apenas a apontar o candidato adversário que mais convém a Anabela Freitas.
Olhe-se um pouco para o panorama político, por essa Europa fora. Em Itália, em França ou Espanha, por exemplo, o quadro partidário é agora totalmente diferente de há dez anos atrás. Só em Portugal, e portanto em Tomar, é que continuamos como dantes. Agora sem quartel general, como em Abrantes. É por conseguinte natural que políticos habilidosos, como Ferreira, sejam levados a supor que tudo continua na mesma, tendo mudado apenas qualquer coisinha. Puro engano.




Quando, por exemplo, o ex-chefe de gabinete vem louvar a gestão socialista em Tomar, tendo até o cuidado de precisar percentagens de cumprimento das promessas eleitorais, antes e após a sua forçada saída, sem disso se dar conta, está a apontar para muito longe do alvo. Porque, no meu entendimento, as pessoas querem lá saber de promessas, de percentagens ou de sucessos imaginários. O que lhes interessa é a situação económica, o acesso à saúde, o emprego e sobretudo o dinheiro no bolso. Res non verba,  diziam os romanos. Actos. Chega de palavras.
Sucede que em Tomar, desgraçadamente, a coisa começou logo mal em 2013 porquanto, vendo bem, nem foi o PS que ganhou. Foi o PSD que perdeu, por ter resolvido  apostar num cavalo queimado por sucessivas corridas...que correram mal. Donde resultaram ilusões para os eleitos rosa e para alguns eleitores. Ilusões essas que agora os tomarenses estão a pagar bem caras. 
A menos de um ano da próxima consulta eleitoral, após sucessivas e lamentáveis trapalhadas, Tomar está melhor? É claro que não. Ao contrário do que escreve Ferreira, a Levada continua por resolver, na câmara continuam a mandar determinados funcionários, a triste mentalidade dos sentados continua a imperar, a economia local continua empanada e a população continua a dar à sola, em busca de meios de vida. Perante isto, na minha opinião, urge encontrar soluções novas, realistas e eficazes. Mas quê?! Enquanto em Espanha, França ou Itália, o espectro partidário se alterou completamente na última década, em Portugal e em Tomar o que mudou? Que ideias inovadoras surgiram? Que novas formações políticas apareceram? O BE? Os IpT? Não me façam rir por favor, que o caso é sério. Como a seu tempo, para desgraça nossa, se verá mais detalhadamente.

terça-feira, 29 de novembro de 2016

Democracia, feudos e segredos

Com a notável excepção do decano Pedro Marques, os membros do actual executivo autárquico não têm qualquer ideia, baseada em vivência própria, do que possa ser ditadura versus democracia. Pela simples razão de terem nascido ou pouco antes ou até já depois do 25 de Abril, no que não têm qualquer culpa. Mas não espantam por isso algumas confusões e até contradições. Eleitos que se acham e dizem democratas de primeira água, e afinal agem como ditadores logo que a ocasião se apresenta. Porque é fora de dúvidas que democracia = transparência, ditadura = segredos.
Foi o que aconteceu nomeadamente na reunião camarária de ontem, 28/11, segundo o relato de Tomar na rede. Quando chegou a altura de debater a eventual instalação de bombas de abastecimento de combustível a preços mais reduzidos, junto ao Intermarché, a respeitável presidente-democrata entendeu que a reunião devia prosseguir à porta fechada. Caiu assim, quiçá sem disso se dar conta, numa curiosa contradição: Os eleitores já tiveram ocasião de ficar a saber, da sua própria boca, detalhes da sua vida privada, que melhor fora para todas as partes preservar, mas agora esses mesmos eleitores foram deliberadamente impedidos de saber o teor do debate sobre uma mera questão de licenciamento de obras, porque afinal é disso mesmo que se trata. Porquê? O que impediu o debate público de um assunto que a todos diz respeito pelas suas inevitáveis implicações? Haverá  segredo de Estado?


Julgo conhecer a causa remota de semelhante disparate. Na verdade, desde há muito que o serviço camarário de obras particulares e urbanismo se mostra totalmente avesso à transparência democrática. Pior ainda, alguns dos seus elementos dirigentes têm-se na conta de câmara-sombra. Um autêntico feudo dentro da autarquia. Posso até avançar um exemplo concreto. Quando em tempos foi indeferido um determinado projecto, o requerente queixou-se, alegando que houvera manifestos detalhes estranhos, pelo que colocava a hipótese de ter existido a intenção de criar dificuldades por cima da mesa, para depois vender facilidades por baixo da mesma. Ao tomarem conhecimento da dita queixa, suas excelências sentiram-se ofendidas, por se ter colocado a hipótese de corrupção, pelo que recomendaram ao executivo que procedesse judicialmente contra o ousado e malvado munícipe. Felizmente para essas excelências, imperou o bom senso entre os autarcas de então, que resolveram engavetar o processo. Se assim não fora, um construtor civil, familiar do requerente que se considerava prejudicado, estava disposto a explicar detalhadamente em tribunal uma curiosa frase sua, segundo a qual "O problema em Tomar não é a corrupção, mas o seu custo, de longe o mais elevado da zona."
Os anos passaram, instalou-se a crise, mudaram os autarcas, praticamente já não há construção nem investimento em Tomar (se calhar justamente porque a corrupção era mesmo demasiado cara) mas, a julgar pelo que acaba de acontecer, os velhos hábitos mantêm-se. Logo que se tratou de debater uma matéria que interessa a todos e que, certamente não por mero acaso, é da competência técnica do tal feudo das obras particulares e urbanismo, a presidente decretou o secretismo. Porquê? Há alguma coisa a esconder? Teme as eventuais reacções da população? Tem medo dos que mandam no dito feudo? Haverá alguma relação entre os desiderata desses serviços e a recente demissão de Rui Serrano?
Dada a muito forte improbabilidade de a presidente vir esclarecer tamanha argolada política, são tudo perguntas que a oposição podia e devia fazer, para depois estar em condições de  esclarecer enfim a população. Quanto mais não seja para evitar dúvidas e o subsequente avolumar de suspeitas. Terão coragem para tanto?
O futuro o dirá.

Cuba não é como a pintam

A brusca inundação de notícias, crónicas e comentários sobre Fidel Castro, o grande líder revolucionário, na sequência do seu falecimento, colocou-me um problema de consciência. Se, por um lado, o âmbito deste blogue é exclusivamente local, raramente nacional, por outro lado, tenho consciência de ser um privilegiado. Com efeito, salta aos olhos que a quase totalidade das peças sobre Cuba que já li, são obra de quem nunca lá foi. Ou de quem apenas esteve em Havana e Varadero que, conjuntamente com os Cayos, são paraísos para estrangeiros. Eu percorri toda a ilha.
Com efeito, tive ocasião de visitar Cuba durante 15 dias. Ainda antes de Raúl Castro. E não, não me deitei na praia, depois de besuntar o corpo  com mistura de óleo de coco e iodo, para bronzeamento rápido. Aterrei no aeroporto de Santiago, mesmo ao lado de Guantanamo, após um voo com origem em Paris. Isto porque, para grande surpresa minha, verifiquei que, no mercado turístico porttuguês, nenhuma agência de viagens tinha à venda circuitos turísticos em Cuba. O que me levou a recorrer ao mercado francês e a fazer depois Lisboa-Paris-Santiago, La Havana - Paris - Lisboa.
Partindo de Santiago, viajei por toda a ilha em autocarro, integrado num grupo de 14 franceses, naturalmente com um guia francófono. Com menos de 30 anos, puro produto da educação castrista, esse guia fez tudo quanto poude para "colocar" a irmã. Ele próprio o disse, quando a apresentou aos membros do grupo: "Sabe cozinhar, sabe costurar, sabe da lida da casa, aceita ser criada doméstica ou companheira de um homem, mesmo sem casamento. Quer é sair de Cuba!"

Havana - Um jovem cubano no centro da capital, à entrada de um dos Comités de Defesa da Revolução - CDR, os bufos de bairro, dos quais falo no texto. Para que conste. 
A foto, de João Pina, foi copiada de uma crónica do LE MONDE, cujo título diz o essencial: "Nós cubanos, queremos outra coisa - Liberdade!"

Estranho intróito a uma viagem turística, mas foi assim mesmo que ocorreu. Depois, nos diversos locais do percurso, acabei por compreender a atitude do guia, quando ouvia os naturais, sobretudo mulheres, murmurar junto aos turistas "tenemos hambre". E nem sequer pediam. Era apenas um lamento profundo, na própria linguagem ensinada nas escolas do regime, que o nosso PCP também vai procurando inculcar: o colectivo "temos fome", em vez do individual e pelo visto capitalista "tenho fome". E deviam realmente passar fome, pois mesmo no microcosmo privilegiado dos senhores do regime e dos turistas, os únicos com acesso ao Peso convertível, não se passou fome, mas notava-se que a fartura não era muita. Sei do que falo, porque tenho mundo. Já vi muito.
Na estância balnear de Guardalavaca, só para quadros do regime e para turistas estrangeiros, onde o consumo de bebidas e comida era livre para todos os portadores da pulseira amarela de identificação, era vê-los, aos cubanos bem vistos pelo regime e por isso premiados com curtas estadas, devorando com manifesto apetite o esparguete à bolonhesa e outras delícias., em pratos de tal forma cheios, que davam para dois com apetite normal.
Os admiradores de Castro e do seu regime gabam muito os sucessos da revolução na saúde, na educação e no desporto. Que são inegáveis, mas não chegam nem lá perto para justificar outras coisas. Infelizmente, quando se foca tal aspecto, regra geral a resposta vem rápida e implacável: -E se não fosse o bloqueio americano, podiam ter feito muito mais. Acredito piamente. Mas não posso deixar de perguntar: 1 - O regime de partido único também resulta do bloqueio? 2 - A polícia política também resulta do bloqueio? 3 - Os bufos de bairro e os bufos de rua, que são cargos oficiais, também resultam do bloqueio? 4 - As dezenas de milhares de "jineteras" (trabalhadoras da área do sexo) também resultam do bloqueio? 5 - A proibição para os cubanos de sair da ilha, também resulta do bloqueio? 6 - A evidente degradação geral das cidades, incluindo La Havana, também resulta do bloqueio, 7 - A censura prévia  também resulta do bloqueio? 8 - O pensamento único também resulta do bloqueio? Alguém imagina sequer em Portugal que as Forças Armadas possam gerir nomeadamente agências de viagens e empresas de transporte de passageiros? Pois em Cuba fiz o circuito com a Cubanacan, a agência de viagens das forças armadas cubanas. E esta hein? Diria o saudoso Fernando Peça, do alto da sua formação britânica, adquirida na BBC.
Significa tudo isto que Fidel, Ernesto, Camilo e tantos outros revolucionários da Sierra Maestra eram afinal simples monstros? É claro que não. Quanto a mim, foram apenas vítimas de uma síndrome bem conhecida, que dá pelo nome de "cegueira política". A mesma de que começa a padecer o camarada António Costa, quando aceita aumentar pensões, aumentar o salário mínimo, voltar às 35 horas na função pública, reverter a privatização da TAP, titularizar dezenas de milhares de funcionários com contratos a termo certo, tudo medidas estruturais, para agradar aos parceiros da coligação e pretextando que o PIB até cresceu mais do que o previsto, uma mera constatação conjuntural. E quando não houver crescimento económico, senhor primeiro-ministro? Como é que vai pagar tudo isso? Naturalmente agravando o saque fiscal. Como se enquanto contribuintes tivéssemos alguma culpa da sua evidente cegueira política. A mesma incapacidade para ver a realidade que atingiu tantos antecessores ilustres, entre os quais Fidel Castro. Ou Salazar, por exemplo.

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Entre duas cadeiras



 Concelho                           Lugar em função                População         % despesas com pessoal 
                                           da população

1 - SEIXAL.................................13ª...................................158.269..........................43,4%
2 - FUNCHAL.............................24ª....................................111.812..........................41,5%
3 - MOITA DO RIBATEJO..........39ª.....................................66.029.........................45,0%
4 - PALMELA..............................42ª.....................................62.831..........................43,0%
5 - ÉVORA..................................47ª........................... .........56.596..........................41,9%
6 - MONTIJO..............................58ª............ .........................51.222.........................51,7%
7 - SESIMBRA...........................60ª......................................49.500..........................41,4%
8 - ALENQUER...........................67ª.....................................43.267..........................37,7%
9 - TOMAR.. ..............................72ª..............................;.......40.677..........................39,9%
10 - SALVATERRA ...................115ª....................................22.159..........................39,1%

Abstraindo megalomanias, partidarismos, amiguismos, incompetências e quejandos, o quadro das dificuldades orçamentais do municípios portugueses evidencia dois grandes grupos. À cabeça, porque de longe o mais numeroso, o daquelas autarquias já pequenas e cuja população vai diminuindo, o que forçosamente reduz as receitas, obrigando por conseguinte os eleitos a comprimir despesas ou a recorrer ao crédito. No quadro que integra o texto sobre as 35 autarquias com maior percentagem de despesas com pessoal, é bem visível esse grupos das câmaras pequenas, que engloba 26 municípios. Convém no entanto notar que a pouca população não explica tudo. O mais pequeno município do país, o do Corvo, nos Açores, tem apenas 430 habitantes e não faz parte da lista. Em contrapartida, o terceiro menos populoso -Barrancos- lá está, com os seus 1.834 habitantes e 51,4% de despesas com pessoal.
Na outra extremidade, aparecem nove municípios com mais de 40 mil habitantes cada, os quais tendem a padecer da maleita oposta. O aumento da população, que obriga a aumentar as despesas com pessoal. É o que acontece geralmente nos chamados concelhos dormitórios das grandes cidades. No quadro acima constata-se que é o caso do Seixal, da Moita, do Montijo e de Alenquer, em relação a Lisboa, bem como de Palmela e Sesimbra em relação a Setúbal.
Só depois surgem os casos "bicudos" que neste quadro são três: Funchal, Évora e Tomar. Deixo para os especialistas aqueles dois, passando a abordar mais em detalhe o caso tomarense.


A 130 quilómetros de Lisboa e a duas horas de comboio, Tomar não se pode considerar propriamente um dormitório da capital. Tão pouco é capital seja do que for. Salvo dos templários, que já por cá não andam há muito, o que é pena. Nestas condições, os 39,9% do orçamento municipal gastos com pessoal são um exagero. Não só porque a população está a diminuir muito consideravelmente, (mais de 3 mil pessoas nos últimos dez anos), mas também e sobretudo porque a nossa bela terra está sentada entre duas cadeiras. Não integra nem o grupo da população muito reduzida (por enquanto...), uma vez que o município que a segue na lista tem menos 18 mil habitantes, nem faz parte dos outros oito da cabeça, porque o mais próximo em termos populacionais é Alenquer, apesar de tudo com mais  3 mil habitantes.
Temos assim uma cidade bonita. monumental, mas cuja população vai procurando outras paragens, e que está sentada entre duas cadeiras. Ainda não é pequena, mas tão pouco é grande ou sequer média. A demonstrar isso mesmo está o seu isolamento  Os únicos municípios da região em situação semelhante são apenas dois: Alpiarça com 7.702 habitantes, e Sardoal, com 3.939 habitantes. Os vizinhos, Abrantes, Entroncamento, Ourém e Torres Novas são mais poupados. Não integram a lista. Por conseguinte, os problemas orçamentais tomarenses, resultantes do excesso de despesa com pessoal, só podem provir ou  de opções erradas, ou da falta de medidas corajosas e adequadas, uma vez que não se pode queixar de pouca população, e muito menos de excesso de habitantes. Falta de receitas? Com cada vez menos população, é difícil. 
Sabido como é que estar sentado entre duas cadeiras resulta em queda logo que arredam uma delas, é meu entendimento que os nossos eleitos -em vez de se lastimarem amiúde- deviam procurar quanto antes estudar e debater estas coisas, o que evitaria andar mais tarde a reboque dos acontecimentos. Mas também é verdade que na cidade não é hábito discutir este e outros assuntos. Pode provocar dissabores e cansa demasiado a cabeça.

domingo, 27 de novembro de 2016

Será da água do Nabão?

Será da água do Nabão? Ou, como já dizia o meu avô Joaquim Rebelo, "Santos da casa não fazem milagres, e os outros também não"? Seja como for, a verdade é que entre Abrantes e Tomar a distância é pequena, mas quanto a oposição a diferença é grande. Salvo no que se refere à crise, que por lá também não está para brincadeiras.
A interrogação sobre a água do Nabão impõe-se porque em Abrantes, nas margens do Tejo, a oposição PSD protesta, apesar da forte implantação do PS, que lidera a autarquia há mais de 20 anos, enquanto que em Tomar, pelo contrário, é o que se vê. Dado que a situação económica é praticamente a mesma, os costumes são os mesmos, o partido é o mesmo e o clima também é o mesmo, só a água do Nabão, sobretudo nesta fase de grande poluição vinda de Ourém, pode explicar uma tal diferença comportamental.

 Foto A. Costa

Lá, em Abrantes,  a oposição critica frontalmente e sem luvas, conforme se pode confirmar aqui. Enquanto isso, em Tomar, a oposição ou fala com punhos de renda, estilo Luís XV, ou mantém um prudente silêncio, ou fala para se ouvir, esperando que a oiçam para fins eleitorais. A tal "oposição construtiva", que nunca ninguém conseguiu explicar-me o que possa ser realmente. Ser conformista? Fazer o jeito a quem manifestamente governa mal?
Tudo me parece apontar para as pessoas. Porque são sempre as pessoas que fazem a diferença. Mas eu não queria ir por aí, porque então sou levado a citar uma frase célebre do presidente Abraham Lincoln, que nasceu em 1809 e foi assassinado em 1865. Apesar de demasiado agreste, bem ao meu estilo portanto, essa frase parece-me muito adequada ao actual momento político nabantino. (Sem ofensa, naturalmente. Estamos no domínio exclusivamente político.) Com as minhas antecipadas desculpas pela citação, ela aí vai: "Pecar pelo silêncio, quando se devia protestar, transforma homens em cobardes."
Aleija um bocado, não aleija?! Mesmo considerando que só enfia a carapuça quem quer. De qualquer forma, Lincoln era realmente bastante agreste. Só que, naquele tempo e naquele continente, sendo agreste mas certeiro e arteiro, chegava-se a presidente. E foi com políticos assim que os Estados Unidos são hoje aquilo que são. Mesmo após a escolha de Trump. Em contrapartida, Tomar...
Pelo que, com licença de quem me lê, passo à ironia fina: -Vivam os punhos de renda! Vivó conformismo! Vivá oposição construtiva! Porque assim os eleitores poderão lastimar-se com verdade que "A câmara não presta, mas a oposição também não é melhor". É a triste realidade. E mal por mal...
Resta-me adaptar o final da Balada da neve, de Augusto Gil:

                                               Que quem é pecador 
                                               Sofra tormentos enfim! 
                                               Mas aos tomarenses Senhor! 
                                               Porque lhes dais tanta dor?  
                                               Porque padecem assim?!

                                               E uma infinita tristeza
                                               Uma grande confusão
                                               Entra em mim e fica presa
                                               Vou de desencanto em estranheza
                                               Caminhando devagar pró caixão 

Tomar entre os 35 municípios portugueses que mais gastam com pessoal

       Percentagem gasta com pessoal em relação ao orçamento global de cada câmara
(Não inclui serviços municipalizados, nem empresas municipais)


           Concelho                         Situação em 2005                                 Situação em 2016

   1 - Mourão................................43,1%  -  PS...........................................55,4%  -  PS
   2 - Montijo................................43,0%  -  PS...........................................51,7%  -  PS
   3 - Barrancos............................43,0%  -  CDU........................................51,4%  - CDU
   4 - Alvito..................................48,2%  -   I..............................................50,5%  - CDU
   5 - Alcochete............................49,8%  -  CDU........................................48,5%  - CDU
   6 - Grândola.............................37,8%  -  PS............................................47,5%  - CDU
   7 - Alpiarça..............................38,9%  -  PS............................................47,0%  - CDU
   8 - F. do Alentejo.................... 38,7%  -  PS............................................46,1%  - PS
   9 - Redondo.............................38,7%  -   I...............................................45,5%  -  I
 10 - Moita do Ribatejo...............45,4%  -  CDU.........................................45,0%  - CDU
 11 - Sardoal................................54,4%  - PSD...........................................44,4%  - PSD
 12 - Alcácer do Sal....................40,8%  -  PS.............................................44,2% -  CDU
 13 - Vendas Novas.....................37,5%  - CDU..........................................43,7% - PS
 14 - Castelo de Vide..................43,2%  -  PSD..........................................43,7%  - PSD
 15 - Seixal.................................42,7%  -  CDU........................................43,4% - CDU
 16 - Alter do Chão....................30,2%  -  PSD..........................................43,0% - PSD
 17 - Palmela..............................41,7%  -  CDU.........................................43,0% - CDU
 18 - Terras de Bouro.................23,5%  -  PSD..........................................42,8% - PS
 19 - Tarouca..............................26,4%  -  PS.............................................42,8% - PSD
 20 - Monforte............................43,7%  - CDU..........................................42,6% - CDU
 21 - Avis....................................41,2%  - CDU.........................................42,4% - CDU
 22 - S. Pedro do Sul..................39,1%  - PSD...........................................41,9% - PS
 23 - Évora.................................31,6%  - PS..............................................4-1,9%  -CDU
 24 - Borba.................................35,7%  - PS..............................................41,6%  - I
 25 - Santiago do Cacém...........39,8%  - CDU...........................................41,6%  - CDU 
 26 - Funchal.............................34,0%  - PSD............................................41,5%  - PS/BE/MPT...
 27 - Sesimbra...........................40,3%  - CDU...........................................41,4% - CDU
 28 - Portel................................40,9% -  PS................................................41,1% - PS  
 29 - Resende............................31,4% -  PS................................................41,1%  - PS
 30 - Alenquer...........................23,7% -  PS................................................37,7%  - PS
 31 - Machico............................24,1% -  PSD.............................................40,6%  - PS
 32 - Santa Cruz das Flores.......18,2% -  xxx...............................................40,4% - PS
 33 - Ourique.............................45,9% -  PS................................................40,3% - PS
 34 - TOMAR...........................28,9% -PSD..............................................39,9% - PS/CDU
 35 - Salvaterra de Magos.........38,5% -  BE................................................39.1% - PS

Fonte: Anuário Financeiro dos Municípios Portugueses - 2015 e resultados eleitorais de 2005, 2013 e 2016. Peço desculpa, mas ainda não aprendi a fazer quadros estatísticos com os dados todos muito bem alinhados.

É um dos grandes problemas do país, da região e desta terra. Há pouco gosto pela leitura. E pelos números, ainda é pior. Depois queixam-se que a crise nunca mais nos larga. Ou somos nós que não conseguimos sair da crise, devido aos nossos péssimos hábitos?
Os dados acima, permitem visualizar a triste situação em que nos encontramos enquanto eleitores e contribuintes tomarenses. A nossa outrora orgulhosa e florescente urbe, integra agora o grupo dos desgraçadinhos. Os municípios que gastam mais de 39% das suas receitas totais para pagar aos funcionários.
São 35 concelhos (apenas 11,36% do total de 308 que conta o país), de importância variável, encabeçados por 4 que gastam mais de metade do que recebem só com vencimentos, não incluindo ainda assim os serviços municipalizados e as empresas municipais, onde existam. Esses 4 municípios em situação mais difícil são, por ordem decrescente da % de gastos com pessoal, Mourão (Alentejo), autarquia PS, 2.275 eleitores inscritos; Montijo (Setúbal), PS, 42.124 eleitores inscritos; Barrancos (Alentejo), CDU, 1.389 eleitores inscritos e Alvito (Alentejo), CDU, 1.935 eleitores inscritos. Exceptuando Montijo, são municípios que, mesmo como freguesias já ganhariam em se agrupar.
Comparando, Tomar encontra-se em 34º lugar, gastando 39,9% para pagar aos seus  funcionários, não incluindo os SMAS. Poderá não parecer exagerado, uma autarquia que entrega aos seus funcionários praticamente 40 euros de cada 100 que recebe. A verdade porém é que essa despesa tem vindo a aumentar muito acima da inflação. De tal forma que, em 2005, o município de Tomar gastava com as remunerações certas e permanentes + outros encargos anexos apenas 29,8%. Ou seja, essa despesa aumentou 11 pontos percentuais em apenas dez anos. Por este caminho, onde vamos parar?
Continuando a interpretar o quadro estatístico, parece-me muito significativo que nenhum concelho algarvio faça parte deste grupo de 35, que também integra apenas 4 municípios  situados acima do rio Mondego: Terras de Bouro (Braga), PS, 7.527 eleitores; Resende (Viseu), PS, 10.927 eleitores; Tarouca (Viseu), PSD, 7.822 eleitores e S. Pedro do Sul (Viseu), PS, 16.899 eleitores.
Outro dado de relevo, no meu entender, reside na inclusão nesta lista das três sedes das grandes ordens militares portuguesas: Avis (Avis), Cristo (Tomar)  e Santiago (Palmela). O que parece indicar que essas outrora opulentas organizações dinamizavam as regiões em que se inseriam, realidade que findou com a sua brusca extinção, em 1834, logo seguida da nacionalização e venda ao desbarato dos respectivos bens fundiários.
Para não alongar demasiado, vou directo ao que mais me preocupa. Neste grupo de 35 municípios, cujo futuro poderá ser tudo menos risonho, a manter-se a tendência verificada até aqui. há apenas dois da nossa igualha, em passado e em prestígio -Évora e Palmela. Todos os outros, ou são demasiado pequenos, ou demasiado recentes, não passando afinal de arrabaldes de cidades maiores. Tal é o caso designadamente do Montijo, a antiga Aldeia Galega, agora um dos dormitórios da capital.
Em termos partidários, este grupo dos financeiramente mais desgraçados integra 14 autarquias PS, 14 autarquias CDU, 3 autarquias PSD e 4 autarquias dirigidas por grupos de independentes.
Temos portanto 28 autarquias do Alentejo (17), Estremadura (5), Ribatejo (6), Madeira (2) e Açores (1) para apenas 4  a norte do Rio Mondego e nenhuma no Algarve. Porque será? Não haverá autarcas a confundir municípios com instituições de acesso ao emprego?
O que quero dizer com tudo isto? Apenas que há eleições lá para Outubro, o que dá tempo para ir pensando na vida. O resto, você já sabe e eu também, pelo que seria condenável perder tempo a enumerar evidências consensuais. Não lhe parece?
Apenas um propósito conclusivo. A velha ideia segundo a qual os contribuintes pagam tudo, já foi. Agora preferem calçar os patins logo que possível, rumando para paragens mais acolhedoras e confortáveis em termos de algibeira. Não é decerto por mero acaso que em Tomar  a população concelhia está a diminuir, à média de menos 300 eleitores/ano (aos quais se devem acrescentar  os descendentes menores, por isso mesmo ainda não inscritos nos cadernos eleitorais). Enquanto isso,  a de Ourém, por exemplo, vai subindo. Conforme reparou certamente, Ourém não está nesta lista dos desgraçados. O que a dispensa de ir carregando nos impostos, assim se tornando mais atractiva. Porque ninguém gosta que lhe vão ao bolso, sobretudo quando se trata de fazer face a evidentes erros de governação. Ou simples favores a amigos.

Actualização

Para confirmar, se necessário fosse, que o Município de Tomar tem excesso de funcionários, mas falta de trabalhadores, basta ler isto. 



sábado, 26 de novembro de 2016

À cautela, não será melhor ir à bruxa?

Os militantes do PS local, pelo menos os que ainda não desanimaram, estão agora de papinho cheio. Apesar das águas  agitadíssimas, conseguiram levar a barca a bom porto. À quarta tentativa, lá encontraram alguém para se integrar num cortejo fúnebre rumo a Marmelais, já em pleno andamento. Sara Costa, 7ª na lista PS e Mestre em Direito, aceitou sacrificar-se. (Sabendo ao que vai?). O que levou o presidente rosa, por acaso também Costa, a publicar um comunicado com a oração fúnebre a Rui Serrano e a certeza de que a nova vereadora "Vai reforçar a estabilidade na governação do Município de Tomar e que as suas competências são uma mais-valia para o futuro do concelho de Tomar."
Oxalá assim fosse, pois bem precisados estão os tomarenses, tanto de estabilidade na governação como de mais-valia, sobretudo na conta bancária. Infelizmente, vejo-me mais uma vez forçado a expressar as minhas dúvidas. Fundamentadas, como sempre. Neste caso graças ao Tomar na rede, de onde extraí a citação supra e onde consegui ler algumas linhas da tese da novel autarca.
A meu cepticismo baseia-se em duas ordens de factores. Por um lado, o tema da tese da nova vereadora e a sua citação inicial. Por outro lado, o estilo de escrita, que não é de todo do meu agrado. Mas gostos não se discutem.


Para um executivo autárquico minoritário sem coligação, acolher um novo elemento, cuja tese de mestrado em Direito versa sobre a morte assistida ou eutanásia, não será propriamente, julgo eu, do mais tranquilizador que há. Mormente quando a citação inicial, extraída de Immanuel Kant, reza assim: "Se vale a pena viver e se a morte faz parte da vida, então, morrer também vale a pena."  Quanto mais tarde melhor! Lagarto! Lagarto! Lagarto! Longe vá o agoiro!
No outro lado, no estilo de escrita, admito que a prosa até possa ser excelente, posto que de direito não pesco nada. Confesso porém que não consegui ir além  da introdução e de algumas linhas do resumo. Eis porquê: "Este presente trabalho versa sobre... ...O objectivo deste estudo, que resultou neste trabalho, consiste em perceber a influência que determinados fatores têm no privilegiamento deste tipo de homicídio."
"O homicídio a pedido da vítima comporta, um menor grau de ilicitude e consequentemente um menor desvalor da ação, ou seja uma culpa acentuadamente diminuída, devido ao consentimento prévio por parte da vítima onde renuncia à tutela penal da sua vida."
Sou franco: Prefiro o Eça, que era só bacharel em leis, mas por Coimbra. E escrevia bem.
Concluindo, no que concerne à anunciada estabilidade reforçada, e sobretudo à mais-valia, caso me chamasse Anabela Freitas e fosse confrontada com toda esta série de curiosos e algo sinistros presságios e coincidências, à cautela iria consultar uma bruxa competente. Tal como dizem os espanhóis, "Eu não acredito em bruxas, mas lá que as há, isso há!"

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Está na hora de avançar!

António Freitas
Acabei de ler n'O Templário a excelente e oportuna entrevista, de Fernando Silva, tomarense e técnico de turismo, na sua tese sobre a candidatura da Festa dos Tabuleiros a Património Cultural Imaterial da UNESCO. Relembro que na 11.ª reunião do Comité Intergovernamental para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), que decorre entre 28 de novembro e 02 de dezembro, em Adis Abeba, Portugal volta a ser contemplado certamente, com o Barro Negro de Bisalhães. O presidente da Câmara de Vila Real já afirmou que a classificação do processo de fabrico do barro preto de Bisalhães pela Unesco, dará um novo impulso a esta arte ancestral.
Esta foi a candidatura que o Estado português escolheu para representar o país, na sessão que  este ano se realiza na Etiópia. A Câmara de Vila Real avançou com a candidatura da olaria negra de Bisalhães à Unesco por ser uma atividade que está em vias de extinção.

Em março de 2015, o processo de confecção do barro negro de Bisalhães foi reconhecido como património cultural nacional.



Em Tomar marcamos passo. Continuamos nesta inércia de nada fazer, ou fazer que anda e não anda, e a Festa dos Tabuleiros nem é património cultural nacional, quanto mais da UNESCO!
Depois do Fado, do Cante, dos Chocalhos e do Barro Negro, não seria de pintarmos a nossa cara de preto, a cor deste barro, mas de vergonha, por tanta vaidade demonstrada nas últimas edições da Festa dos Tabuleiros? Por tantos contributos e tanta mais valia que o autor desta tese desenvolveu, tal como o professor Carlos Trincão, mas que alguns "donos da festa", teimam em não aceitar? Porque não criar uma Comissão que, juntamente com a presidente de câmara, que de verdade não tem com ela gente de grande mais valia, que consiga ser um pouco mais que vencimento ao fim do mês e que com vontade, bata à porta, sem passar por impecilhos que se atravessem pelo caminho e diga:  "Senhora presidente, vamos a isto; está na hora; vamos avançar!”
Pouco a pouco, os outros avançam e nós sem sairmos da zona de conforto... a esperar sentados. Continuamos na teimosia de não sabermos aproveitar as mais valias e contributos; que são dados de borla! 
Afinal quem tem interesse em que tudo fique na mesma como a lesma?

Câmara de Tomar já tem nova vereadora

Mesmo aqui bem longe, Tomar a dianteira já apurou que temos fumo branco. Após três recusas (Anabela Estanqueiro, Virgílio Saraiva e Rui Sant'Ovaia), todas por motivos profissionais, bem entendido, o PS Tomar lá conseguiu encontrar alguém para tomar posse e passar a arrecadar cerca de três mil euros mensais. Trata-se de Sara Costa, licenciada em Direito, que era a 7ª da lista.

A equipa inicial, quando ainda não havia sido sucessivamente acometida por lesões de diversa índole. Todas lamentáveis naturalmente, todavia umas mais do que outras. E o desafio ainda não acabou...

A pouco mais de um ano do fim do mandato, Tomar a dianteira considera que se trata em simultâneo da melhor escolha possível, porque praticamente já não havia mais ninguém, mas também da pessoa mais adequada. Com efeito, tendo em conta o estado manifestamente muito comatoso do executivo tomarense, nada mais conveniente que uma autarca que Sara doenças e quem sabe se feridas, mesmo profundas, ainda para mais na Costa. O que significa que, com um pouco mais de esforço, até pode passar a sarar também um pouco para o  interior. Na alma, por exemplo.
Tomar a  dianteira deseja à nova autarca executiva as facilidades possíveis, tendo em conta o contexto assaz complexo, bem como as maiores felicidades.
E se depender só deste blogue, pode ficar descansada. Em sentido figurado, lenha nas costas e água nos olhos nunca lhe hão-de faltar por culpa nossa. Basta que mereça. Embora Tomar a dianteira deteste e condene aquele aforismo que aconselha: "Bate todos os dias na tua mulher. Mesmo que não saibas porquê, ela sabe."

Tomar cidade de prodígios?

Um opinador caprichoso, pelos jeitos adepto do achismo, resolveu achar só agora que Tomar se está transformando numa cidade de prodígios. Com o natural respeito, parece-me um problema de hipermetropia (dificuldade para ver coisas próximas). Na verdade, há muito que a nossa querida cidade-aldeia alberga mais prodígios que qualquer outra no país. Excluindo naturalmente as grandes, que só devemos comparar o comparável. Há dúvidas a respeito?
Passo a desfiar o rol, que não é nada pequeno. O Convento de Cristo tem 8 claustros. Conhece algum outro que tenha tantos ou mais ? A célebre janela do mesmo conjunto monumental não dá para o exterior da construção, mas sim para o seu interior, o que muito desilude milhares de visitantes, que bem gostariam de poupar os 6 euritos da entrada. Conhece outro caso semelhante? O concelho alberga quatro bandas de música (Nabantina, Gualdim Pais, Paialvo e Pedreira). Indique outro com tal riqueza. Há na cidade duas rádios locais, dois semanários e um quinzenário. Mesmo assim, muitos tomarenses consideram-se mal informados. Mencione outra cidade pequena onde tal ocorra.
No domínio do desporto, só na cidade temos três clubes importantes (União, Sporting e Ginásio), mais não sei quantas agremiações desportivas mais modestas. Onde encontrar tal proliferação longe do concelho de Tomar?
Poderia continuar. Ir nomeadamente até ao perfil do Gualdim. Ou, melhor ainda, até ao único estádio da Península Ibérica transformado em campo de treinos, por mais do dobro do custo inicial do estádio, a preços constantes! Não o farei, para não enfastiar.
Na verdade, só mencionei tais prodígios para melhor destacar um facto recente que, tendo passado algo despercebido, me parece bem importante para o futuro de todos nós. Refiro-me à notícia sobre uma alegada sondagem, para ajudar na escolha do cabeça de lista PSD, publicada n'O Templário da semana passada.


Oito dias depois, sem que entretanto alguma outra fonte tenha confirmado ou desmentido a realização da mencionada sondagem, o mesmo semanário resolveu, muito acertadamente a meu ver, questionar os cinco alegados candidatos a candidatos, aos quais endereçou três perguntas bem simples: 1- Quer comentar a sondagem? 2 -  Concorda com todos os nomes mencionados? Será a sondagem a melhor maneira de escolher um cabeça de lista? (A redacção das perguntas não era exactamente esta, mas o conteúdo sim.)
João Tenreiro foi igual a si próprio. Medularmente  educado e respeitador. Não comenta nesta fase. O PSD está preocupado nesta fase com a oposição ao desgoverno PS/CDU. (Tem-se notado!). O PSD apresentará candidatos para ganhar, dentro dos prazos definidos pelo conselho nacional.
António Lourenço dos Santos foi também fiel aos seus princípios. Respondeu à americana, mas não à Trump, que diz tudo e o oposto: "Não comento".
Luís Boavida foi o mais detalhado. Achou que o deviam ter contactado previamente. Negou-se a fazer qualquer comentário sobre os outros nomes. Referiu haver partidos que recorrem a primárias para definir escolhas, o que lhe parece sinal de democraticidade. Concluiu avançando que, a haver sondagem, o resultado da mesma não terá qualquer influência no seu futuro. Político, deduzo eu.
José Delgado agradeceu as perguntas, às quais considerou não ser oportuno responder, em virtude de o processo estar a decorrer, remetendo-se à tranquilidade que a situação impõe.
A fechar, Lurdes Fernandes foi sucinta, mas bem clara. Disse que desconhecia totalmente tal matéria, pois soube só pelo jornal, abstendo-se por isso de emitir qualquer comentário.
Após o que, a interrogação surge naturalmente: Tomar está a tornar-se numa cidade de prodígios? Ou já é há muito uma cidade prodigiosa, centro de um concelho prodigioso, com gente geralmente prodigiosa?
Aceitam-se opiniões, desde que não sejam anónimas. Porque os anónimos não votam. Embora o voto se torne  depois  anónimo.

anfrarebelo@gmail.com

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

De tasca a café, assim vai a Assembleia, ó Zé!



Mário Cobra

O comum dos munícipes deve nutrir compreensível beneplácito por quantos descontraídos senhores deputados municipais, ao longo dos tempos, sempre participaram nas sessões da respectiva assembleia como se  estivessem num recreio. Isso mesmo - num recreio. Dirão “Vamos ali passar um bocado”. Soa bem. Vamos ali passar um bocado. As cadeiras são razoáveis, há água engarrafada nas mesas (antes das restrições havia), os pombos esvoaçam na praça pública. O costume, nestas descrições. Desabafo entre dentes dos deputados “Então, pá, acusam-nos do tu cá-tu lá, então, pá, queriam que levássemos isto a sério?”. Referem-se ao lamento expresso no “Tomar na rede”, que assim se transcreve Quem assistiu à última reunião da assembleia municipal de Tomar poderia pensar que, por vezes, estava a assistir a uma conversa de café”.
Rebuscando no arquivo das memórias, se agora parece um café, já foi em tempos acusada de parecer uma tasca, ó Zé!. Há c´anos, bons tempos que já não voltam, talvez por excesso de novas posturas de liberdades ao peito, um grupo de deputados municipais levava petisco para o recreio das nocturnas sessões da digníssima Assembleia Municipal. O garrafão de vinho caseiro, os enchidos de porco doméstico, o pão de fabrico próprio, que um dos deputados era padeiro. Enquanto os mais compenetrados parlamentares dissertavam retóricas sobre os alegados e chatos problemas do concelho, no gabinete anexo os mais descontraídos ferravam o dente no petisco, empinando tinto do bom, daquele ainda feito com uvas. Às tantas, uma bela noite, estranhou-se a falta de quórum para uma votação. Soou então a  pergunta incómoda: “Mas onde estão os deputados municipais?”. E logo a resposta, numa voz serena “Estão ali no gabinete ao lado, a encher a mula e a emborcar uns canecos”. Atente-se nesta subtileza de estratégia autárquica “Encher a mula e emborcar uns canecos”.


Chamados à pressa, ainda limpando os beiços, sentaram-se com ar compenetrado, ouvindo-se “Vamos lá então votar”, logo complementado com o gracejo de um deles “Vamos mas é arrotar”. Os folgazões acabavam por aprovar, mas sabiam lá bem o quê. Em vez de aprovar a proposta, preferiam aprovar a pinga.
Assumimos que o episódio foi por nós mais valorizado porque, enquanto representantes da comunicação social, nunca fomos convidados a proceder à cobertura jornalística do conluio, sempre discriminados neste entremeio gustativo. Lembras-te dessas farras, ó Zé? Sentados no espaço reservado à comunicação social, só os víamos passar, os senhores deputados. Intrigados, lá íamos comentando “Mas que raio, deu a vontade ao pessoal de irem todos ao mesmo tempo à casa de banho?”, “Será aperto de bexiga por meterem tanta água?”. Afinal eram apenas simples comezainas. Qual foi a solução para este esquema gastronómico nas sessões nocturnas? Isso mesmo, a sessão da assembleia passou a realizar-se na parte da tarde. Todos recordamos a anedota do presidente de um grande clube, ao marcar uma reunião de direcção para uma sexta-feira. A secretária perguntou:“Senhor presidente, sexta escreve-se com um ésse ou com um xis?" E o ilustre dirigente foi rápido na resposta: "Olha rapariga, é melhor marcar para sábado”.
Ainda nesse tempo das reuniões nocturnas, finda a avassaladora contenda ideológica, os deputados municipais das forças políticas do arco do poder dirigiam-se para um restaurante da zona, aí deglutindo à ceia a estimada senha de presença. Os deputados da CDU presume-se que não iam, por considerarem os repastos como desvios próprios de pequenos burgueses (pequenos consoante o tamanho do bife). O deputado do BE, esse não ia, por não lhe dar jeito comer sozinho.
Nessa época, em vez de “Vamos à assembleia” diziam “Vamos ao petisco”. Agora, em vez de “Vamos à assembleia” dirão “Então pá, logo vamos ao café”. Na hora dos mágicos lanches, quando o apetite também ataca o vizinho, comentam “Ó pá, agora ia um pastelinho”. Ou um beija-me depressa, ou uma fatia de Tomar, ou uma rodela de toucinho, mas daquele do céu, que o de porco faz engordar..
Por isso, de tasca a café, na Assembleia Municipal, houve ou não evolução, ó Zé? Pois houve sim senhor. Falta é o pão quente da Asseiceira, o tintol dos Casais ou os enchidos da Sabacheira. Por exemplo.

Porque concordo com quase tudo...

Porque sou visceralmente tomarense, nunca fui de rancores, quando está em jogo o futuro da minha amada terra. Embora nem sempre tenha concordado com as opções do PS local, quando liderado por Luís Ferreira, e muito menos com o a todos os títulos lamentável folhetim, que já dura pelo menos desde Janeiro de 2016, não posso deixar de concordar e até de aplaudir o texto seguinte do mesmo Luís Ferreira, que reproduzo com a devida vénia, do seu blogue vamosporaqui.blogspot.com
É meu entendimento que, a partir de agora, nada poderá voltar a ser como antes. Caso queira evitar vergonhas ainda maiores, Anabela Freitas apenas têm uma saída digna e elegante -demitir-se quanto antes. Porque já nem a eventual conferência de imprensa para explicar tudo a poderá salvar.

anfrarebelo@gmail.com

24.11.16


Demissão de Serrano - FAZER TUDO MAL FEITO


O estado maior socialista de Tomar – de Cristóvão à Anabela, deve estar por estas horas rejubilante de autossatisfação, pela demissão do anterior vice-presidente da Câmara, Serrano. É o roda bota fora perfeito, de quem não vê, porque não sabe, que a política não se escreve no curto prazo e que os fins não justificam, nunca, os meios usados. Serrano percebeu, tarde demais, ser a marioneta perfeita e útil, às mãos de quem nunca quis que a gestão da mudança, prometida e ainda por concretizar, fosse efetivamente implementada em Tomar.

Quem governa a medo e pelo medo, só pode esperar morrer pelo medo. A História não regista os fracos, mas sim os que com coragem apontam e fazem o caminho. E em Tomar, a estratégia seguida, afunda a comunidade nas contradições das incapacidades latentes e cada vez mais evidentes dos seus gestores públicos.
Serrano não era perfeito, mas era à entrada do mandato o único eleito, tirando eu próprio, que sabia da poda. Tinha uma visão diferente, tinha nível e pensava fora da caixa. Tudo características demasiado perigosas, numa macroestrutura avessa a pensar e a gerir com transparência e que, ao longo do tempo, demonstrou ser incapaz de liderar qualquer processo de afirmação de Tomar no contexto regional e/ou nacional. Tomar deixou de contar. Infelizmente.

No momento em que escrevo não sei quem substitui Serrano, nem isso importa. Agora, uma oportunidade se abre, para um de dois quadros do PS há muito preparados para o exercício de funções públicas: a advogada síndica da Câmara, Anabela Estanqueiro ou o atual chefe de gabinete, Dr. Virgílio Saraiva. Só a opção da promoção do atual chefe de gabinete não comporta riscos, para o envolvido ou para a organização. Anabela Estanqueiro é, há muitos anos, a sombra política de Anabela Freitas, nunca tendo sido por si apoiada no seu percurso político, por motivos óbvios. Participar na primeira linha de uma estratégia mal desenhada e com resultados demasiado incertos, seria hipotecar o futuro, porque ele precisa dos que sabem e contam.
Alguém imaginava, há apenas um ano atrás, que a gestão da autarquia de Tomar pudesse estar envolvida em tamanha confusão?

Pois. Alea iacta est (os dados estão lançados).

Sobre turismo, esse desconhecido

O turismo é uma das principais actividades económicas contemporâneas, sobretudo nos países desenvolvidos. Apesar disso, continua a ser pouco conhecido. A provar que assim é, aí estão as frequentes declarações equívocas dos governantes, ao abordarem essa área. Ainda recentemente, em pleno parlamento, se enaltecia o extraordinário e inesperado incremento do turismo estrangeiro em Portugal, como um dos componentes da nossa excelente prestação económica no 3º trimestre, deixando entender que isso se deve à acção do governo, o que não é de todo o caso.
Na verdade, o turismo estrangeiro cresceu bastante em Portugal, mas devido a factores conjunturais, que são bem conhecidos de todos os que se interessam pelo sector. Entre esses factores, avultam o receio de visitar os países muçulmanos, tradicionais receptores de turistas (Egipto, Líbano, Marrocos, Tunísia, Turquia, por exemplo) e sobretudo a insegurança nalguns países europeus, com relevo para a França. Primeiro país receptor de turistas, com mais de 80 milhões de visitantes anuais, a república gaulesa tem assistido com preocupação à redução do fluxo de turistas estrangeiros, na sequência dos atentados conhecidos de todos. Para se ter uma ideia mais precisa, de acordo com os mais recentes dados estatísticos disponíveis, em 2016 o fluxo turístico já diminuiu 12,7% em Paris e 11,8% na região do Loire. Nestas duas regiões, os visitantes japoneses foram menos 23% e os italianos, apesar de vizinhos, menos 22%, em relação a 2015.
Quanto aos países muçulmanos, em declarações ao Le Monde, o director de marketing da cadeia hoteleira turca The House Hotel referiu que "a nossa taxa de ocupação passou de 85% para 65%, apesar de entretanto termos reduzido os preços. E não somos dos mais atingidos. Em Fevereiro deste ano houve menos 10% de entradas de estrangeiros na Turquia."


Como é evidente, estes milhões de visitantes, que renunciaram à visita a França ou aos países muçulmanos, terão optado por outros destinos. Com o que Portugal beneficiou bastante, nomeadamente devido à tradicional paz civil e à nossa tão apregoada hospitalidade, que todavia já terá conhecido dias melhores. Tudo isto é portanto positivo, sendo contudo imprudente embandeirar em arco, porquanto os motivos conjunturais apontados, sobre os quais os governantes portugueses não tiveram nem têm qualquer influência, vão decerto alterar-se mais cedo que tarde E então...
Outro tanto acontece em Tomar. Ainda recentemente, um membro do executivo referia, com evidente satisfação, que a noite tomarense estava cada vez melhor e que nunca houve tantos turistas em Tomar. O que é verdade. Havia porém um evidente subentendido: -Como podem ver, graças aos esforços do executivo camarário, do qual faço parte...
Está contudo equivocado o respeitável vereador. Naturalmente, se o turismo cresce no país, é normal que também haja um notório incremento de visitantes em Tomar. Sem que a autarquia seja vista ou achada no assunto. Na verdade, o executivo gastou em 2015 quase 250 mil euros, a fundo perdido, na Festa dos Tabuleiros mas, decorrido um ano,  os eventuais benefícios económicos daí resultantes não são assim muito evidentes.
No concreto, para usar uma expressão estilo PCP, em 2015 o Convento de Cristo terá vendido cerca de 250 mil bilhetes de entrada, que a 6 euros cada, proporcionaram uma receita bruta de um milhão e meio de euros. Que foi integralmente para o IGESPAR, em Lisboa. Também em 2015 e mesmo com entradas gratuitas, só a Sinagoga (com 50.303 visitantes, entre os quais 12.360 israelitas) e a Igreja de Santa Iria (38.839 visitantes) conseguiram ultrapassar a barra dos 10% dos visitantes do Convento. O que mostra bem o enorme fosso existente em termos de afluência, entre o nosso principal monumento, (mal) gerido a partir de Lisboa, e os outros. E também evidencia  porque se lastimam os comerciantes do centro histórico.
De acordo com dados fornecidos pela própria autarquia, (que por razões desconhecidas não incluem a Igreja de S. João), Santa Maria dos Olivais registou em 2015 22 mil visitantes, a igreja da Misericórdia 2.568 e o Museu dos fósforos cerca de 16 mil, entre os quais 2.800 estrangeiros.
Confirmando que a autarquia nabantina praticamente não tem nada a ver com o desenvolvimento do turismo local, o registo de visitantes do turismo municipal ficou-se em 2015, apesar da Festa dos Tabuleiros, pelos 13.801, dos quais apenas uma minoria de 5,493 eram portugueses. Ou seja, em palavras claras, o organismo que teoricamente é o dinamizador do turismo tomarense, apenas foi procurado em 2015, ano da Festa Grande de Tomar, por 5,52% dos visitantes que pagaram 6 euros para visitar o Convento de Cristo. Pior ainda, nesse total os portugueses foram só 2,19% em relação aos visitantes conventuais. Naturalmente devido à excelente sinalização turística e também por já saberem muito bem, de ouvir dizer, o que a casa gasta. A esmagadora maioria optou portanto pela conhecida expressão em emigrês-gaulês "chacun se desenrasca".

Agradeço a colaboração do leitor João Alcobia, que teve a amabilidade de me enviar os dados estatísticos municipais.

anfrarebelo@gmail.com


quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Ao que chegou o descrédito

De erro em erro, de entrevista em entrevista, de escrito em escrito, a simpática presidente Anabela Freitas vai-se enterrando politicamente, a um ritmo que nem eu, pessimista crónico, julgava possível. E a partir de agora o problema autárquico tomarense já não terá só duas vertentes essenciais. Às quezílias político-sentimentais com o seu ex-companheiro e às críticas mais ou menos fundamentadas do eleitorado, entre as quais as de Tomar a dianteira, veio agora juntar-se uma voz de peso. Do alto dos seus mais de 80 anos, o pai do ex-vereador Rui Serrano viu-se praticamente forçado a endereçar uma carta aberta a Anabela Freitas, face à passividade crónica dos tomarenses, que nela menciona em termos muito cordados.
Numa prosa infelizmente cada vez mais rara, o paí de Serrano lastima ter votado no PS em 2013, vaticina que os socialistas locais  não vencerão as próximas autárquicas e diz que a presidente se encontra na obrigação de explicar publicamente o seu diferendo com o agora ex-vereador, que convidara para a sua lista. Ou seja, solicita exactamente a mesma coisa que tem sido pedida neste blogue. Que se esclareça publicamente, de uma vez por todas, a causa ou as causas do prolongado, misterioso e, ao que tudo parece indicar, grave diferendo entre a presidente e o seu vice-presidente. Sob pena, se assim não vier a acontecer a curto prazo, de as pessoas começarem a pensar que há coisas muito graves a esconder, até mesmo em áreas menos óbvias, como por exemplo a eventual corrupção. Mas quem não deve, não teme.


Ao ponto a que as coisas chegaram, é minha opinião  que, nesta altura, apenas restam duas saídas possíveis a Anabela Freitas. Saídas dignas, entenda-se. A mais evidente, prática, segura e de resultado garantido, é seguir o exemplo do seu ex-vereador. Entregar a sua carta de demissão, alegando impedimentos de índole pessoal, regressar ao lugar de origem e remeter-se depois a um silêncio sepulcral. O executivo poderá então tornar oficial a situação de facto já prevalecente: manter-se em funções unicamente para ir despachando os assuntos correntes, até à tomada de posse dos novos titulares, saídos das autárquicas de 2017.
A outra solução parece-me bem mais complexa e perigosa, sendo porém praticamente indispensável caso a presidente queira mesmo recuperar o prestígio perdido, condição sine qua non para poder ir a votos com algumas hipóteses de sucesso. Falo de uma corajosa conferência de imprensa, sem limite de duração, de temas ou de participação. Vamos a ela, senhora presidente Anabela? Se for essa a sua opção, só lhe peço uma pequena atenção prévia para comigo. Marque o dito encontro com a informação para depois de 10 de Dezembro. Para eu também poder fazer umas perguntitas que me têm andado a bailar na cabeça...

Crenças e parecenças

Neste belo comentário, José Gaio opina que o vereador Rui Serrano se demitiu vítima da sua própria maneira de ser, ao ter recusado sistematicamente qualquer contacto com a comunidade jornalística. Sendo incontestável que todos os eleitos têm o dever de informar os eleitores sobre aquilo que pensam e/ou andam a fazer. Sendo igualmente ponto assente que o agora ex-vereador  sempre mostrou ser avesso à política-espectáculo, daí não resulta de modo algum, no meu entender, que essa tenha sido a causa da sua derrota política.


Na verdade, o mais recente bilhete íntimo de Luís Ferreira, que pode ser consultado aqui, parece mostrar o oposto. Com efeito, o ex-chefe do gabinete presidencial, que esteve directamente implicado na primeira dissidência pública de Serrano, é taxativo ao mencionar a ..."substituição daquele que não soubeste manter, nem aproveitar as capacidades que tinha..."  Donde é legítimo deduzir que Rui Serrano terá sido vítima de uma luta intestina na autarquia, em que os seus adversários venceram. Quem eram esses adversários? Quais os pomos de discórdia? Eis o que falta apurar, mas lá chegaremos com o tempo.
Por agora convém reter dois factos, que creio basilares: A - Becerra Vitorino, anterior cabeça de lista vencido, em 2009, não integrou a lista em 2013, tendo sido substituído ...por outro arquitecto. Porquê? B -  É a presidente Anabela Freitas que, desde Janeiro, tem o pelouro das obras particulares e urbanismo, de longe o mais complexo da câmara. Não lhe sendo conhecida qualquer experiência prévia nesse domínio muito sensível, e tendo em conta que o arquitecto Serrano, especialista nessa área, continuava a integrar o executivo, a pergunta impõe-se -Porquê? Também nesta matéria, as respostas tardarão decerto, mas não faltarão ao encontro com a história.
Por falar em história, Abraham Lincoln, presidente dos Estados Unidos que  viveu entre 1809 e 1865, tendo sido assassinado, afirmou um dia que "Quase todos os seres humanos são capazes de superar a adversidade. Mas, se se quiser pôr à prova o carácter de uma pessoa, dê-se-lhe poder." 
Um autêntico visionário, o presidente Lincoln...

As várzeas urbanas

Na próxima sexta-feira há tertúlia sobre a Várzea grande e a Feira.  Fui convidado. Não podendo comparecer por estar demasiado longe, segue-se o meu contributo. O que lá iria dizer se...
Os participantes anunciados merecem-me todo o respeito e auguram um evento farto em competência e em temas para debate. Ainda assim, parece-me prudente lembrar que, na Europa do norte, a dos tais malandros que andam sempre a esforçar-se para nos imporem injustas medidas de austeridade, mas que têm sempre os orçamentos deles sem défice, é uso dizer-se que integramos o Club Med, ou clube do blábláblá. Por alguma coisa será (rima, e é verdade). Tendo isso em conta, nada melhor que recordar os chamados essenciais. Sem eles, nada se pode perceber bem.
A Várzea grande e a sua irmã pequena, ambas espaços públicos, são o que resta da várzea ou terreno alagado e pantanoso que foi a baixa tomarense até ao início do século XV. Apesar de nomeado administrador da Ordem de Cristo à sua revelia, em 1420, o infante D. Henrique, que era meio inglês, convém não esquecer, não se deitou à sombra da bananeira. Se calhar porque ainda não houvera descobrimentos e por conseguinte ninguém sabia ainda o que eram bananas. E muito menos bananeiras, para dormir à sua sombra.
Certo, mesmo certo é que o senhor infante mandou regularizar com açudes o curso do Nabão, nessa época designado rio grande de Tomar, enxugar as várzeas, construir os Estaus, edificar a saboaria e os moinhos. Depois, mas só depois, lançou então, com as rendas da Ordem, o que veio a chamar-se mais tarde a epopeia dos descobrimentos, cujas caravelas ostentando nas velas a cruz da ordem, que as pagava, partiram de Lagos, até que o infante se finou, em 1460.
Seguiram-se tempos áureos, mas bem complexos para Tomar e para a Ordem de Cristo, senhora da terra, que passaram pela entrega do seu mestrado à coroa, pela reforma desastrosa de 1529 e pela aclamação de Filipe II de Espanha como rei de Portugal, porque era o herdeiro legítimo, uma vez que filho de Isabel de Portugal e portanto neto de D. Manuel I.
Durante o chamado domínio filipino ou espanhol, houve um processo célebre, lembrado pelo padrão e documentado naquele painel de azulejos do Camarinha, que orna a sala de audiências do tribunal. Tratava-se de saber a quem pertencia afinal a várzea. Pertencia à Ordem dos frades, como sucessora da Ordem de freires, cavaleiros e comendadores, por sua vez herdeiros dos templários, os donatários de origem.


O juiz entendeu de outro modo. Sentenciou que pertencia ao povo. Permitiu assim a construção do agora em parte abandonado Convento de S. Francisco, a primeira grande amputação do usual largo da feira anual. Estávamos no século XVII.
Passaram os séculos, a administração do concelho foi cedendo terrenos, sobretudo no século XIX, de tal forma que, no primeiro quartel do século XX,  entregou à companhia dos caminhos de ferro quase metade da primitiva várzea pública, conforme ainda hoje se pode ver. Culminando a obra, em meados do mesmo século, a câmara resolveu que o Palácio da Justiça tinha de ser ali. E assim estamos.
A sul, aquilo que resta da outrora bem espaçosa Várzea grande, que já não é muito. A norte, a sua irmã dita pequena, com um modesto jardinzito e, à ilharga, uma ridícula hipótese de rotunda, que não prestigia ninguém e a todos envergonha. Na costumeira indiferença quase geral...
Sabe-se que não sou arquitecto, nem engenheiro, nem urbanista. Assim, o que vou dizer não passa de uma opinião bárbara, com um único mérito -é deliberadamente fora de órbita, no sentido em que não obedece a qualquer formatação prévia. Por isso vale o que vale = muito pouco. Mas mesmo assim aqui fica.
Várzea grande e Feira grande são para mim coisas distintas e por isso separáveis. A feira tal como já a conhecemos, nunca mais voltará a acontecer. Os tempos mudaram. Parece-me haver apenas três coisas entranhadamente tomarenses a preservar e melhorar. Duas estão quase esquecidas. A outra vai sobrevivendo, apesar dos sucessivos erros. Refiro-me à Feira da passas, à Feira dos queijos e à Feira dos ovinos e caprinos.
A primeira, a das passas, que levou uma séria facada de Torres Novas, precisa por isso de urgente reformulação, tendo em conta os novos tempos. No meu entender, deve passar a realizar-se na Praça da República, em conjunto com a dos queijos, como já foi em tempos. Já a feira dos ovinos e caprinos, quer-me parecer que  ficaria bem no largo do Pelourinho, por causa da facilidade de transporte dos animais.
Quanto à Várzea grande, não a estraguem mais. Mexam-lhe o menos possível, por enquanto. Limitem-se a melhorar-lhe o piso, de preferência acabando com a poeira provocada pelo rodar dos veículos. Isto porque, conforme é geralmente ignorado, Tomar não tem procurado atrair turismo. Exactamente ao contrário. Tomar tem sido, e vai ser cada vez mais, assediada pelos turistas, perante as ilusões dos senhores autarcas, que cuidam ter alguma coisa a ver com isso. Não têm. Salvo quando, por defeito, impedem que esse fluxo enriquecedor seja ainda maior. Ou quando, com medidas erradas, como por exemplo o trânsito de autocarros na Estrada do Convento só em sentido ascendente, impedem que muitos grupos visitem o centro histórico.
Nestas condições, um dia virá em que os eleitos concelhios, quer queiram, quer não, terão de mudar a espingarda de ombro. E esse dia está cada vez mais próximo, porque é inevitável e se está a tornar inadiável. Quando acontecer, um bem pensado e articulado plano global de desenvolvimento turístico terá forçosamente, para ir longe, de ter uma cabeça (o Convento de Cristo) e duas asas (asa norte Baixa da Anunciada, asa sul Várzea grande como já foi). Até lá deixem o velho largo da feira, onde inclusivé já funcionou, até ao princípio do século XX, a Roda dos Enjeitados, em paz. Não compliquem ainda mais o que já não é nada simples.
Conforme dizia por vezes o saudoso António Cartaxo da Fonseca, que muito me honrou com a sua sincera e desinteressada amizade, "quando há mais de dois tomarenses juntos a discutir, o melhor é pôr-se a cavanir" (ir-se embora). Espero sinceramente que desta feita não seja o caso.
Desejo boa sorte e muita inspiração realista a todos os intervenientes.

terça-feira, 22 de novembro de 2016

Mais umas achegas e acabamos por perceber tudo

P.S. - E agora que vais ter novo vereador em substituição daquele que não soubeste manter, nem aproveitar as capacidades que tinha, aproveita e melhora a tua prestação como presidente, depois deste último ano - quase - perdido... Deixa de te fazer de vítima e procurares arranjar desculpas. Faz isso por Tomar e pela dignidade do trabalho que fizemos, em conjunto, durante mais de dez anos.
Autor da mensagem supra: Luís Ferreira, 22/11/2016, vamosporaqui.blogspot.com
Destinatário da mensagem: Anabela Freitas, presidente da Câmara municipal 
Tema: A renúncia do vereador Rui Serrano
Recomenda-se a leitura atenta das perguntas do 4º parágrafo do texto Uma renúncia enigmática.

Adenda de Tomar a dianteira

"Pode-se enganar toda a gente durante algum tempo. Pode-se até enganar algumas pessoas durante toda a vida. Mas não é possível enganar toda a gente para sempre." Abraham Lincoln

Uma renúncia enigmática

Conforme se pode ler aqui, Rui Serrano renunciou ontem, 21/11, ao seu lugar de vereador na Câmara Municipal de Tomar. Vice-presidente desde o início do actual mandato, entregou os pelouros uma primeira vez em Janeiro deste ano, na sequência de uma remodelação feita pela presidente que não lhe terá agradado. Voltaria a assumir alguns pelouros pouco tempo decorrido, mas entretanto a vice-presidência já fora entregue a Hugo Cristóvão.
Em Agosto passado, voltou a entregar os pelouros, tendo declarado então que não se revia na actual equipa dirigente, à qual não reconhecia credibilidade para gerir os destinos concelhios. Apesar disso, numa atitude algo estranha, resolveu manter-se como vereador, tendo até chegado a votar, conjuntamente com a oposição, a proposta que estabeleceu as reuniões hebdomadárias do executivo.
O sua inesperada demissão, formalizada por carta, justamente no dia do aniversário da presidente e sem qualquer explicação, permite pelo menos duas interpretações plausíveis:1- Ao manter-se como vereador, mas colocando de facto os seus camaradas em minoria, apesar da coligação com a CDU, Serrano esperava poder forçar a presidente a alterar significativamente a sua linha de. rumo. Tendo constatado a inviabilidade de tal esperança, resolveu demitir-se. 2 - Eventualmente encorajado pelos seus colegas da oposição, Serrano terá pensado ser possível constituir uma verdadeira força alternativa, susceptível de suster as políticas que considera erradas. Verificando na prática que afinal a actual oposição ao executivo não está virada para grandes sobressaltos, desesperou e resolveu abandonar.

Foto O Mirante

Trata-se assim de uma renúncia enigmática, tanto mais que o seu principal protagonista recusa de forma obstinada qualquer explicação. O que impede de saber, entre outras coisas, de quem foi afinal a ideia inicial da remodelação de Janeiro, que lhe retirou a vice-presidência e acabou conduzindo ao desfecho de hoje. De Anabela Freitas? De Luís Ferreira? De ambos? De Bruno Graça? A seu tempo se saberá. Quiçá em conjunto com a resposta a esta outra pergunta indispensável: Politicamente e desde 2013, quem mandava em quem no PS Tomar? Anabela Freitas queixou-se no local próprio de maus tratos psicológicos, tendo depois  declarado à comunicação social  que tinha inimigos e que estavam identificados.
Perante tais acusações, Luís Ferreira assumiu o papel de vítima, ao mesmo tempo que acusava a sua ex-companheira de estar a tentar vitimizar-se por razões eleitoralistas. Afinal em que ficamos? Quem é agredido? Quem é agressor?
Rui Serrano deverá ser substituído por um dos nomes seguintes da lista PS, o que não vai ser fácil. Respeitando a respectiva ordem, segue-se Anabela Estanqueiro, que só poderá assumir caso decida antes deixar de exercer como advogada síndica da autarquia. Não espantará se o vier a fazer, uma vez que o vencimento de vereadora a tempo inteiro é bem mais convidativo que o de síndica. Caso resolva não ir por aí, segue-se Virgílio Saraiva, que também não pode assumir por ser o actual chefe de gabinete da presidente Anabela Freitas. E chegamos à vez de Rui Sant-Ovaia, professor do Instituto Politécnico (ver foto). Como não conheço o senhor, solicitei algumas informações, tendo-me sido dito que se trata de um verdadeiro cavalheiro, que até passeia a cadelinha à noite. A ser assim, não me espantaria nada que também não aceitasse, um vez que, no meu humilde entendimento, nunca um verdadeiro cavalheiro ousará integrar-se num funeral já em andamento, quando ainda nem sequer teve tempo de fazer o nó na gravata preta.

Adenda

Recomendo a leitura integral de um comunicado socialista, de 17 Junho de 2013, que pode ser consultado aqui. Dele destaco este excelente naco de bela e clara prosa portuguesa. A demonstrar que as dificuldades da actual gestão socialista tomarense, tanto com a escrita  como para perceber a realidade, não começaram com a sua tomada de posse: "No quadro da preparação das próximas autárquicas... ...o tomarense Rui Serrano ... ...deixará de ser candidato a vereador em Abrantes, passando a integrar a equipa socialista candidata ao Município de Tomar, a qual beneficiará da experiência política e técnica, obtida num dos mais equilibrados e bem geridos Municípios da nossa região".
Lê-se e fica-se incrédulo. Abrantes, dos concelhos mais equilibrados e bem geridos da região? Governado pelo PS, entre 2001 e 2016, passou de 38.480 para 34.063 eleitores inscritos. Uma perda de 4.417. Se a boa gestão socialista continuar como até aqui, é só calcular quando passará a ser uma aldeia com muitas casas vazias, perdida no amplo e rico vale do Tejo. De forma equilibrada, claro!