segunda-feira, 26 de setembro de 2016

O logro da Levada

Aqui há uma década, um grupo de patuscos, uns de inteligência média, outros abaixo disso, tomando-se infelizmente por génios, pariram uma ideia para eles forçosamente genial. Resolveram desencadear o processo de recuperação dos Lagares da Ordem, da Central Eléctrica e da Moagem. Leu bem. Lagares, Central e Moagem. Para quê? Simples! Para aí instalar três museus, segundo uns; um museu polinucleado, segundo outros. Fundição, Electricidade e Moagem. Eis segundo eles as três mamelas do progresso turístico local. Ainda ninguém tivera antes tal ideia, nem no país nem no estrangeiro, o que só excitou ainda mais os ditos entusiastas. Algo original e muito grande em Tomar, uma terra tão pequenita! A megalomania, ou mania das grandezas, é uma maleita do foro psiquiátrico, raramente diagnosticada e para a qual não se conhece terapêutica eficaz.


A ideia louca foi fazendo o seu caminho e ninguém cuidou de estudar a coisa mais a fundo. O habitual neste país e nesta desgraçada terra. Até Jorge Sampaio, à época Presidente da República, se deixou enfeitiçar e veio visitar a moagem, apesar de ser geralmente considerado uma pessoa inteligente e de cultura. Não há ninguém que não erre. E Sampaio também foi fundador e militante do MES...
Quando mais tarde apareceu dinheiro europeu em catadupa, Paiva apressou-se a saltar para o barco dos patuscos. Candidatada a obra à la va vite, como quase tudo na época, o dinheiro veio e chegou-se ao total vergonhoso de seis milhões de euros. Seis milhões de euros para fazer uma  mini-ponte, um contentor a fingir de auditório, telhados novos, rebocar paredes e pouco mais. Foi um fartar vilanagem!
Agora com a obra concluída, patuscos e autarcas esbarraram na realidade. Mas não querem que se saiba. Usam o silêncio como arma de defesa. É por isso necessário e urgente denunciar o problema, antes que se venha a agravar singularmente. Não é por escondermos as coisas que elas deixam de existir.
Conforme sempre disse, é agora evidente que:
1 - A autarquia não tem nem nunca virá a ter recursos materiais para custear o equipamento indispensável dos museus a instalar;
2 - A autarquia não tem recursos humanos para instalar e manter em funcionamento os ditos museus;
3 - A autarquia já tem excesso de quadros médios e superiores, pelo que não dispõe de capacidade financeira nem legal para ir mais além;
4 - No seu estado actual, concluídas que foram as obras, nem a Fundição, nem a Central, nem a Moagem dispõem de condições de segurança ou de higiene para poderem receber visitantes, seja a que título for;
5 - Mesmo com mais obras, não se vê como seja possível remediar o enunciado no ponto anterior na Central e na Moagem.
6 - Entre outras carências, não existem planos para instalar estruturas de visita (corredores, corrimãos e plataformas), em conformidade com as normas europeias, sem as quais os almejados museus nunca poderão vir a funcionar legalmente.


Pela calada, já cientes do monumental logro em que também caíram, os autarcas em exercício vão procurando mobilar a manifesta inutilidade prática do pomposamente designado "Complexo da Levada", problema realmente bem complexo. Concertos de filarmónicas, Conjuntos de jazz, Feiras do livro, Colóquios, Conferências, Exposições, tudo serve para tentar enganar o Zé Nabâncio.
Com um elevado risco. Tudo aquilo carece ainda de licença de utilização. Parte da instalação eléctrica continua a ser  a das obras (ver foto infra). Não há extintores nem bocas de incêndio. O pó acumula-se por todo o lado. De tal forma que um participante naquela coisa sobre habitat se queixava com amargura de ter saído de lá com uma pieira persistente e quase afónico. Os autarcas podem andar a dormir, mas os  ácaros não dormem.


Reza um ditado popular que "não há duas sem três". A ASAE já selou o Mercado Municipal, por falta de condições de higiene. E multou a câmara em 80 mil euros, pelo funcionamento ilegal do Parque de Campismo, por não ter licença de utilização. Se um dia destes desembarcam ali pela Levada, durante uma dessas manifestações para tentar enganar os eleitores, temo que mandem selar tudo aquilo e voltem a multar a câmara.
Quem ousa brincar com Bruxelas, geralmente aleija-se. E a Levada foi até agora uma dispendiosa brincadeira de crianças grandes. Paga por todos nós. Como sempre. Porque o pilim vindo de Bruxelas foi para lá antes. É uma simples devolução parcial.
Aqui fica o aviso.

anfrarebelo@gmail.com


1 comentário:

  1. Na primeira série de Tomar a Dianteira, em 4 de Agosto de 2010, foi publicado, a propósito dos 6 milhões para os museus da Levada (e não só), um post muito oportuno com o seguinte título:

    "Arrota pelintra! Faz-te lorde".

    António Valdemar, hoje, no público, cita o escritor Virgílio Ferreira, que escreveu:
    "Há uma expressão popular que diz: 'Arrota pelintra!' Nós, da abundância, temos só o arroto.Usamos um vestuário espampanante, mas não usamos roupa interior, nem nos lavamos. E todavia estar a dizê-lo é colaborar ainda na nossa degradação. Nós não sabemos ter respeito por nós próprios - mas que fazer?"

    Julgo que encaixa no presente post.
    Digo eu.

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