domingo, 17 de julho de 2016

Crónica estival

 

É o verão, o calor, as férias, a sede... e pensar já cansa tanto em época normal, quanto mais agora, que é tempo de sorna e de cerveja ou tintol. Questão de idade. Estas linhas não pretendem convencer (e ainda menos converter) ninguém. Trata-se apenas de uma questão de higiene mental. Tenho necessidade de ir despejando a cabeça periodicamente. Isso mesmo: porque padeço de uma forma branda de logorreia. Escrito isto, aos factos.
Aqui pela terreola, as matérias a noticiar são tão raras que até o laborioso e honesto Gaio, do Tomar na rede, se viu forçado a noticiar um facto que praticamente só interessa aos próprios: "Bispo nomeia novos padres e diáconos". E este título, a bem dizer, até está errado. O bispo apenas colocou ou afectou padres e diáconos que já antes o eram e que por isso não precisavam de ser de novo nomeados...
Em tal deserto de eventos noticiáveis, se descontarmos as festarolas de aldeia, é imperativo continuar a ler jornais, tentando assim evitar o embrutecimento precoce, se ainda não for demasiado tarde. Na revista do Expresso desta semana, a sempre arguta e corajosa Clara Ferreira Alves continua cortando a direito: "O sector público é o sector que ninguém quer, ousa ou pretende reformular e redimensionar e que suga os ganhos de um contribuinte com rendimentos modestos. Rendimentos de pobreza são taxados a 14,5%".
Pois é. E são estes fundos sugados aos contribuintes -mesmo aos mais modestos- que vão depois, via orçamento de Estado ou da Câmara, alimentar os conhecidos sucessos locais, dos quais cumpre destacar a Festa dos Tabuleiros e a Festa Templária. Com os nefastos resultados reais que todos conhecemos.
Em tempos idos e de má memoria, dizia-se que a agricultura em Portugal (na época ainda artesanal), era a arte de empobrecer alegremente. Meio século volvido, perante os resultados que estão à vista de quem os saiba e queira ver, é legítimo concluir que em Tomar, organizar grandes festas é a arte de empobrecer e arruinar a cidade e o concelho inconscientemente. 
Como bem escreve Clara Ferreira Alves no texto antes citado, "A reforma do Estado foi um arremedo. Nas clientelas ninguém mexe." Portanto, vivam as festas tomarenses, que são todas estrondosos sucessos. E vivam as 35 horas na função pública. Conforme dizia uma amigo meu ali da zona de Évora, "Há vidas mais baratas, mas não são tão boas!".
Bons almoços, boas sestas e bons banhos para todos. Para caminhadas está muito calor. E para pensar então...

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