segunda-feira, 7 de março de 2016

Fala o presidente da Universidade de Stanford - Conclusão

A prioridade são os estudantes e não o conforto dos professores.



Visto daqui de França, parecem coisas mais fáceis de realizar em Silicon Valley...
Desengane-se É muito difícil! É preciso estar sempre a lembrar que a prioridade são os estudantes e não o conforto dos professores. Mesmo se compreendo perfeitamente que não é nada fácil mudar a  maneira de ensinar. Mas o mais importante é realmente essa capacidade dos nossos estudantes para aprenderam em novos domínios que actualmente não imaginamos sequer.

Trata-se portanto de "aprender a aprender" ao longo de toda a vida...
Sem dúvida. É o maior desafio dos nossos dias. Designadamente para encontrar um emprego. No meu tempo, sabia que teria três ou quatro empregos no máximo, durante toda a minha existência. Agora os jovens pensam mais em termos de carreira linear. Projectam-se  numa grande variedade de carreiras e irão trabalhar para 10 ou 15 patrões diferentes. Vão ser obrigados a colocar-se permanentemente em questão. O mundo avança tão depressa que nós somos aliás incapazes de lhes ensinar agora aquilo que têm de saber dentro de 10 anos.

Se mesmo assim fosse incitado a designar a principal evolução para o próximo decénio, qual seria?
O big data [em português megacentros de dados]. Porque se vai transformando na ferramenta central de ajuda à decisão numa quantidade de domínios.

O acesso a esses dados de massa e pessoais faculta um poder considerável a certas empresas privadas. Que contrapoder poderá a universidade opor-lhes?
Ensinar a ética aos seus estudantes. É o que estamos a fazer desde 2014, a partir do primeiro ano. Os nossos estudantes têm aulas sobre as questões éticas ligadas às suas especializações respectivas: engenharia, informática, medicina, economia, etc. Frequentam igualmente aulas de filosofia. O mundo torna-se cada vez mais complexo e rápido. Dar-lhes acesso a uma capacidade de pensar  para adoptar as melhores decisões, é fundamental antes de exercerem o poder que será o deles quando entrarem no mundo do trabalho, onde vão ser forçados a agir em tempo real. É portanto crucial facultar-lhes antes os bons reflexos.

A Universidade a opor-se a interesses privados ultrapoderosos. Não é uma simples utopia?
Podemos lutar. Explicar. Elaborar argumentação. Dizer o que está bem e o que não está. Não sei se vamos ganhar essa batalha. Mas temos o dever de combater até ao fim.

Entrevista conduzida por Laure Belot e Emmanuel Davidenkoff
Le Monde - Economie et Entreprise, 4/3/2016, página 5
Tradução e adaptação de António Rebelo

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