segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Realmente, umas ovelhinhas e cabras na Corredoura davam mesmo muito jeito...

Um leitor e amigo enviou-me um mail, devidamente identificado, que a seguir transcrevo com todo o gosto. É um texto bem informado, bem escrito e bem disposto, coisa cada vez mais rara por estas paragens esquecidas. Ora façam o favor de ler:

"Bom dia caro Dr. Rebelo,
"Vosselência" porque mais velho que eu, lembrar-se-à que há uns anos atrás existiam nas entradas da cidade duas placas de boas-vindas. Uma era da Câmara Municipal (Tomar cidade jardim), outra do Banco Português do Atlântico (em tons de verde). Desapareceram todas, vá-se lá saber porquê. Foi-se o banco, foram-se as placas, foram-se os jardins e não tarda vai-se a câmara. Nem sei do que estão à espera para arrancar à fórmula um.
Vem isto a propósito dos jardins locais e do miserável estado em que se encontram. Parafraseando o sempre muito eloquente Prof. Marreiros, onde antes havia relva muito bem tratada, agora temos um "ervado/florado/trevado" !
Dizem por aí, ou mandam dizer, ou consta ou mandam fazer constar, que o estado a que chegaram os jardins tem a ver com a falta de pessoal e com as limitações impostas à sua contratação. Tem lógica. Se contratam pessoal a mais para os gabinetes, depois não o podem legalmente contratar para o terreno. Tanto mais que os candidatos também rareiam, que isto de trabalhar...
Sendo assim, não poderia Vexa sugerir à Câmara Municipal o melhor de dois mundos, a saber: Pediam aos nossos agricultores, que são cada vez menos por não aguentarem tanto peso fiscal, que trouxessem em cada dia de mercado semanal umas ovelhas e umas cabras, (além do´gado que já por aí há), para começar a dar cabo das ervas que grassam por todo o lado, começando de preferência pela Corredoura, designadamente debaixo dos bancos.
Assim, os cada vez mais pobres e sacrificados agricultores, beneficiavam porque não gastavam dinheiro em forragem para os ditos. A câmara beneficiava igualmente, não só em poupança com pessoal de limpeza, mas igualmente e sobretudo em prestígio turístico, porque ovelhas e cabras a pastar na rua principal de uma cidade, antiga capital templária e com um monumento Património da Humanidade, é coisa rara e nunca vista alhures. Os turistas não dariam descanso aos respectivos apetrechos de fotografia e vídeo.
A cidade que outrora brilhava, está hoje cinzenta, triste e com as ruas cheias de ervas. Então o pelouro dos parques e jardins não é da CDU, vulgo "comunas", que tudo fazem e bem feito? O daqui tresmalhou-se do rebanho?
Faça lá o obséquio de lhes dar uma toutiçada, que isto já passou dos limites.
Um grande abraço e boas toutiçadas,"

C.C."

domingo, 28 de fevereiro de 2016

Continuem assim e depois queixem-se!

Bastas vezes aqui tenho alertado para a evidente e acelerada decadência da cidade e do concelho. Os estabelecimentos e as empresas que fecham, a população que diminui a olhos vistos, a emigração que aumenta, os profissionais de turismo, sobretudo os operacionais, que são os motoristas e os guias, que boicotam Tomar sempre que possível... 
Tudo em vão, até agora. Quem lê e tem poder de decisão vai dizendo  que são apenas balelas, que não basta afirmar, escrever. Tem de haver provas. Como se estivéssemos num tribunal a julgar o autor destas linhas e todos os que ele -de boa fé e por uma boa causa- contesta e maltrata civilizadamente.
Os excelentíssimos eleitos que temos querem provas? Pois aqui vai uma, indesmentível:



Um dos principais operadores portugueses de turismo, PME de excelência, acaba de lançar um novo produto turístico. Um circuito em autocarro, denominado O nosso Portugal, que em 9 dias dá a volta ao país (ver ilustração), por 790€/pessoa. 
Surpresa das surpresas e certamente surpresa bem triste para quem ande mais arredado destas coisas, o dito circuito faculta a visita a localidades cuja vocação turística não é nada evidente, por óbvia falta de recursos, mas não passa por Tomar. 
A cidade gualdina, capital templária, com um monumento Património da humanidade, que é também o principal, o mais rico historicamente e o mais variado em arquitectura, de todos os monumentos do país, ficou de fora. Foi boicotada. Porque não faz parte do Nosso Portugal? Devido à má vontade daquele prestigiado operador nortenho de turismo? Claro que não!
Sucede apenas que, fartos de aturar as sequelas da incompetência dos políticos nabantinos e constatando que em Tomar se continua a perder sempre bastante tempo em vão, por falta de sinalização adequada, de estacionamento devidamente equipado, de ligação eficaz e rápida entre a urbe e o Convento e de horários adequados neste monumento, resolvem simplesmente evitar uma visita que é muitas vezes uma verdadeira encrenca. E o resultado aí está. Continuem assim, senhores autarcas e senhores políticos locais. E depois queixem-se que este mundo é injusto e cruel. 

sábado, 27 de fevereiro de 2016

Vem mesmo a propósito

Em relação à mensagem anterior, que pretende alertar para a crescente pobreza envergonhada e mendicidade encapotada, ambas provocadas bastas vezes pela mentalidade de pedinte e a atitude de mão estendida à caridade alheia, vem mesmo a propósito esta crónica da revista do Expresso de hoje, que copiei e publico com a devida vénia à autora e ao semanário:



Pobreza de espírito

Segundo Tomar na Rede, sob o título Há mais pobreza em Tomar, a presidente da Cáritas local, Célia Bonet, "refere que há situações de pobreza que já vão na terceira geração. São casos crónicos de famílias em que a Cáritas já apoiou os avós, os pais e agora apoiam os filhos." E por este caminho, acrescento eu, vão ter de apoiar os netos, os bisnetos e por aí adiante. Porquanto, no meu tosco entender, o que estas declarações revelam é um outro tipo de pobreza muito frequente por estas bandas. Gente com mentalidade de pedinte. Que vive permanentemente de mão estendida. Convencidos de que Deus tem lá muito para dar, só é preciso saber pedir. E como a Cáritas é uma organização católica de solidariedade social... Educação deficiente, quando a tiveram. Pobreza de espírito, em suma.
Estou a ser cruel, pensará o leitor. Quiçá assim seja. Mas julgo saber do que falo. A verdade é por vezes  muito incómoda, sem deixar contudo de ser a verdade.
Nasci pobre, muito pobre. Filho de mãe lavadeira, sem emprego fixo. Inteligente, mas analfabeta porque nunca frequentou uma escola. A partir dos nove anos fiquei sem paí. A minha mãe procurou criar-me "sem a vergonha do Mundo", nas suas palavras. Sem se prostituir, queria ela dizer. Foi ajudada episodicamente pela Cáritas da época. "As senhoras da igreja", na sua linguagem popular. Davam-lhe roupa usada, calçado e de quando em quando alguns géneros alimentares.
Mesmo assim, tive frio muitas vezes e passei fome com frequência. Comecei a trabalhar aos 11 anos, como moço de recados no Turismo, após ter sido forçado pelas circunstâncias a abandonar a escola Jácome Ratton. Mais tarde fui guarda-guia no Convento de Cristo.
Após a tropa emigrei, já bem consciente de que esta terra que amo, a minha querida Tomar natal, é madrinha para os forasteiros, mas madrasta para os seus filhos. Lá para as bandas de Paris ensinaram-me finalmente a ser livre, a respeitar sempre os outros e a nunca esquecer que Deus tem lá muito para dar, mas é imperativo trabalhar, estudar, batalhar, raciocinar, fazer planos para o futuro, ir em frente, que o caminho faz-se andando, a vida é movimento e o dinheiro não cai do céu aos trambolhões no fim de cada mês.
Singrei na vida. Fiz o meu percurso com êxito. Não precisei mais da ajuda de nenhuma organização caritativa. E agora o meu filho, magistrado, que nunca sofreu frio ou fome e estudou até onde quis também não. Portanto, no caso da minha família, ajudou a mãe, mas não o filho nem o neto. Posso por isso dizer, sabendo do que falo, que a Cáritas, a Misericórdia, a Cruz Vermelha e tantas outras organizações de solidariedade social, que respeito e admiro, são indispensáveis, mas têm falhado num ponto fulcral, que é afinal a causa de tudo na maior parte dos casos.
De acordo com um velho ditado chinês "Se deres um peixe a um homem, ele alimenta-se uma vez. Se lhe ensinares a pescar, ele vai alimentar-se toda a vida." Neste caso da pobreza de espírito nabantina, parece-me que as organizações de solidariedade social -a Cáritas e as outras- continuam a dar peixe, e felizmente que o fazem,  mas não ensinam ninguém a pescar. E sem isso, nunca mais vamos sair da cepa torta. Infelizmente.
Termino com um pensamento de Bertold Brecht, que dedico a todos aqueles que me acusam de ser demasiado agreste, ressentido: "Todos dizem que o rio é violento, porém ninguém fala das margens que o oprimem."

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Pensem lá um bocadinho por favor


A notícia é do Mirante. Aprovada por unanimidade uma proposta do PSD, para colocação de semáforos temporizados no cruzamento do Flecheiro. Para dar mais segurança aos peões e aos automobilistas, disseram os senhores autarcas. Com franqueza! Estão a tentar enganar quem?
Que se saiba, os atropelamentos de peões nunca ocorreram nas passadeiras com semáforos, temporizados ou não. Por conseguinte, esse argumento não colhe. É oco. Até porque o grande problema do cruzamento de Flecheiro não são os peões e respectiva segurança. São justamente os semáforos, que às horas de ponta provocam longas filas. Porque falta ali uma rotunda, que resolveria tudo. Simplesmente o presidente Paiva, vá-se lá saber por quê, preferiu uma obra atamancada. O cúmulo, para um engenheiro civil.


Reparem por favor na foto supra, com olhos de ver e cabeça para pensar? Não cabe ali uma rotunda, como esta da Ponte Nova?:


Pois expropriem, por utilidade pública, parte daqueles terrenos ainda sem construções. Ficará muito em conta. Não convém, porque são de gente amiga?
Nesse caso, se não cabe, façam uma como a dos bombeiros:


Também não dá?
Então arrisquem mais uma como aquela mini-vergonha da Várzea pequena, alvo de piadas dos condutores:


Basta olhar com atenção para a fotografia para perceber porquê.
E depois eu é que sou má língua e digo mal de tudo...

anfrarebelo@gmail.com

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Tomar consciência

Inopinadamente, a querela tomarense a propósito da péssima mudança de data da Festa Templária, arrastou-me até uma aparente repetição: tomar Tomar. Isto porque, em vez de se abrirem às críticas, os da Templanima afunilam, alambicam. À boa maneira tomarense. De tal forma que já íamos na terceira nona dos idos de Julho de 1190, sem todavia concordar com a data exacta em que o emir Mansor tentou, sem sucesso, tomar Tomar. Isso mesmo: tomar Tomar = conquistar Tomar.
Vai daí, discorri que Tomar a dianteira foi o primeiro blogue a usar o nome da cidade, mas depois vários outros se seguiram, felizmente. E a lista promete alargar-se...
Vejamos. Como pai da criança, escolhi Tomar a dianteira por três razões centrais, a saber: 1- Porque sempre gostei de liderar, de estar mais à frente, de tomar a dianteira; 2 - Porque, para agora estar aqui, teclando estas linhas, foi necessário que, há sete décadas, o meu progenitor resolvesse, ele também, tomar a dianteira, penetrar, gozar e ejacular. Dos milhões de espermatozoides que expeliu então, um conseguiu tomar a dianteira e fecundou um óvulo da minha mãe.  Aqui está o resultado, setenta e tantos anos mais tarde; 3 - Também sempre gostei muito (e continuo a gostar, na medida das minhas reduzidas capacidades), de tomar a dianteira.  Em qualquer posição. Sobretudo na dita do missionário.
Exposta a génese deste blogue, oxalá os mentores de Tomar na rede, Tomar à letra, Tomar opinião e por aí fora ousem fazer outro tanto. É tão divertido brincar com o campo semântico de cada palavra.
Por esta altura, os leitores mais apressados já estarão a pensar -Então e o tomar Tomar? Querem ver que o gajo está a ficar xéxé e se perdeu no raciocínio... Calma amigos! Por enquanto ainda vai tudo bem. Excepto a política local. Vamos lá então.
Após madura reflexão, dou o braço a torcer. E a mão à palmatória: Roberta Ferreira tem toda a razão, ao propor uma parada anual de gays e outros desviantes, que assim teriam ocasião de, por um dia, tomar Tomar.
Sim, porque se já temos Tomar a dianteira, Tomar na rede, Tomar à letra, Tomar nota, bem como o anunciado e mega Tomar opinião, porque não tomar o traseiro (para quem goste) ou tomar no traseiro (igualmente para quem aprecie)?
Chocado, caro leitor? Não é caso para tanto. Se pensar um bocadinho, chegará a uma conclusão que só abona a favor da proposta da Roberta Ferreiro, (nome suposto que invertido (salvo seja!) dá Roberto Ferreira = Palhaço Ferreira). A conclusão é esta: Somos a única cidade do país em que quem sai deixa Tomar atrás. Quer queira quer não. Como está a acontecer aos nabantinos, em matéria de política local. Se lutassem, talvez fosse possivel um dia viver em Tomar a dianteira. Assim, sem interesse, sem protesto, sem luta, nesta apagada e vil tristeza, deixam Tomar atrás. À cautela já fui comprar vaselina. Para aleijar menos...

anfrarebelo@gmail.com

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Celebrar o político artista é que era

No sempre interessante Tomar na rede, Roberta Ferreiro lançou uma ideia choque, para sairmos das ideias gastas. Propõe transformar Tomar num cidade amiga dos maricas e equiparados. Com cortejo LGBT a sair da Mata e monumental banho de espuma na Praça. É uma ideia no meu entender bem arriscada. Direi mais: Ainda bem que Roberta Ferreiro é nome suposto. Se não fora, creio bem que a sua integridade física não estaria assegurada.
O pessoal masculino cá do burgo (e até algum feminino...) considera-se cojonudo. Acham que os têm bem pesados e bem no sítio. Acham... Cá por mim, como gosto de caminhar por aí e não tenho seguro de vida, desejo um belo futuro à ideia da Roberta, mas proponho algo mais consensual.
No meu entender, a cidade daria um passo de gigante na boa direcção se passasse a organizar anualmente o Festival nacional dos políticos artistas. Coisa para dois/três dias, obviamente com comezainas, visitas ao Convento e muita conversa. Discursos, comunicações, comentários e conclusões. Com a devida cobertura das rádios e jornais locais, também com alguns artistas.
O discurso de inauguração seria naturalmente, para respeitar o protocolo, o da nossa simpática presidente, subordinado ao tema "Intrujar os eleitores, devolvendo IRS com uma dívida de 30 milhões às costas, e continuando a sorrir". Seguir-se-ia o malabarista Costa, com uma peça de oratória baralhadora: "Cobrar menos, gastar mais e reduzir o défice. O milagre da multiplicação dos euros".
Honrando o passado recente, o nosso ex-primeiro ministro laranja avançaria então com uma peça brilhante, da qual só o título já dá vontade de chorar: "Como perder ganhando" Portas seria o orador seguinte, para debitar o tema "Submarinos de águas turvas e demissões definitivas".
Após um almoço pantagruélico e para continuar no passado recente, a glória local paivina leria um papel intitulado "Como transformar um estádio num mero campo de treinos, sem desencadear a fúria dos cidadãos". Subiria então ao palco o actual líder da oposição laranja. Titulo da sua intervenção: "Crítica macia, suave e educada, para não ofender nem levantar ondas".
O discreto Rui Serrano, no seu estilo peculiar, dissertaria de seguida sobre "Como perder pelouros e continuar a sorrir", logo seguido por Pedro Marques, que oraria sobre "Como durar em política sem ideias e com pouco esforço". A fechar teríamos Hugo Cristóvão com um pedagógico "Como subir na política sem nunca se colocar em bicos de pés".
Da Assembleia Municipal viria então o bem conhecido e detestado Luís dorme com ela (Com a política, seus mal intencionados. Estavam a pensar o quê? A vida privada de cada um não diz respeito a ninguém.) Luis dorme com ela ensinar-nos-ia "Como presidir a uma câmara sem sequer ter sido candidato".
Procurando equilibrar as coisas, uma vez fortemente aplaudido o amigo Luís, o vereador da CDU, seu amigo, subiria à cena para ler uma peça subordinada ao título "Como restaurar em dois anos um mercado que levou ano e meio a construir, e ainda conseguir envenenar um executivo". Tudo naturalmente sindicado de véspera pelo PCP, que nunca brinca em serviço. Nem fora dele, de resto.
A encerrar os trabalhos, Ivo Santos viria dissertar sobre "Equilibrismo político pluripartidário" e o presidente da Assembleia Municipal limitar-se-ia a agradecer a presença e a participação de todos, já bem comido e bem bebido. O costume.
Era ou não era uma bela jogada política? De artistas para artistas!

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Errar é humano, teimar é burrice

Já aqui foi dito, por outras palavras, que todos os eventos que atraiam turistas fora da época alta são de apoiar. Pelo contrário, organizar eventos que geram custos orçamentais em plena época alta, é um erro crasso. Porque o acolhimento turístico nabantino é muito limitado. Donde resulta que, para além de determinada afluência, perdem todos. Os turistas porque são mal recebidos e mal servidos, a actividade turística local (hotéis, restaurantes, cafés...) porque não pode aproveitar. As coisas são o que são.
Isto a propósito da Festa Templária. Realizada em Maio é uma iniciativa a acarinhar, a melhorar, a difundir. Levada a efeito em Julho, representa duplo prejuízo. Deixa de contribuir para incentivar o turismo na época baixa e vem atravancar um período com muito turismo, por vezes até demasiado. Além de, a cada 4 anos, se encavalitar na Festa dos Tabuleiros, que como se sabe já esgota tudo num raio de 50 quilómetros. Assim sendo, qual a utilidade real da Festa Templária para o turismo local?
Em vez de agirem como cidadãos de um país aberto e democrático, onde tudo se pode e deve debater, dando o peito às balas, os visados pela minha crónica anterior resolveram actuar pela calada. Responderam lateralmente e sem dizerem a quem procuram canhestramente atacar.. Os leitores mais interessado nestas coisas, que queiram ler a dita prosa, devem ir a vamosporaqui.blogspot.com e clicar algures do lado direito em templanima.
De acordo com os génios autores da transferência da Festa templária de Maio para Julho, faltava ao evento qualquer coisa. Uma âncora, como usa dizer-se em mercadologia, "ciência" mais conhecida por marketing. E vai daí, descobriram o cerco do castelo pelas tropas do emir de Marrocos Iacub Al Mansor, em Julho de 1190.
Azar dos azares, nem aqui acertaram. Marcaram a dita festa para o segundo fim de semana de Julho, mas o emir só terá cercado o castelo a partir de 16, na melhor das hipóteses. Isto porque uma tropa de 900 pessoas + 400 cavalos + carroças + bestas de carga, não é propriamente um grupo de 50 turistas, que chega e começa logo a visita. Precisam de tempo para se instalarem, para dar de comer aos animais, para reconhecer o terreno. E só depois... Dado que o emir chegou a 13 de Julho...
Ainda segundo os referidos génios, trata-se de aproveitar como âncora não só o citado cerco, mas também uma lendária luta que dizem ter tido lugar junto à Porta da Almedina ou do Sangue. É altamente duvidoso que tenha havido, ali ou alhures, alguma luta com os árabes sitiantes. Que nem sequer terão tentado invadir a fortaleza templária mediante o habitual e prévio trabalho de sapa, devido ao alambor.


Em todo o caso, a lápide que refere o cerco reza apenas que "o mesmo rei tornou para a sua pátria com inumerável detrimento dos homens e das bestas." Portanto com grandes perdas em homens e em animais. Mas não menciona qualquer luta. O que permite supor não ter havido qualquer luta, mas apenas homens e animais vítimas de doenças provocadas pelos mosquitos e as águas salobras dos pântanos do rio Nabão. Porque, que eu saiba, as bestas de quatro patas não combatem. Pelo que, se houve perdas de bestas...
Em conclusão, errar é humano, mas teimar é burrice. Se a ideia é apenas e só aproveitar o tal cerco como âncora, então façam a festa em Julho mas na segunda quinzena. Para serem mais fiéis à história e para não prejudicarem a Festa Grande dos tomarenses.
Quanto ao tal combate lendário junto à Porta do sangue, pode ser celebrada, mesmo que nunca tenha tido lugar, que é o mais provável. Como disse o realizador John Ford, "Quando a lenda se sobrepõe à realidade, filme-se a lenda". 

anfrarebelo@gmail.com

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

O castelo data de 1160? Ou de 1130?

Pode parecer um dúvida de pacóvio, mas não é. Conforme se sabe,  quando há dúvidas em História, deve seguir-se o mesmo caminho que quando se tem sede -procurar as fontes. Foi o que fiz esta manhã, acicatado por aquela mudança da Festa Templário de Maio para Julho, que considero uma asneira. Será assunto para outro texto.
No que concerne à história e mais precisamente à história do castelo templário, que é também a história de Tomar, a única fonte coeva (que é como quem diz da época) e por isso incontroversa, é aquela lápide que está do lado direito da escadaria de acesso à Charola:

A lápide original, em latim

                                                     A actualização em português arcaico

A lápide que está à direita é apenas a actualização para português arcaico da original, que está à esquerda e em latim.
Vários historiadores locais e outros estudiosos da questão já foram confrontados com uma incongruência. A data indicada na dita actualização para o início da fundação do castelo é 1168. À boa maneira portuguesa, arranjou-se logo uma explicação algo bizarra. Escreveram ou disseram que deve ler-se 1160 porque 1198 menos os 38 anos da era de César para a de Cristo,.. mas o canteiro se calhar era analfabeto, entendeu mal e gravou mal.
Acabo de dar-me conta que tal justificação não passa afinal de balela nabantina. Mais uma. Em boa verdade, na lápide original, a que está em latim e com "algarismos romanos" a data é mesmo 1168. (O leitor fará o favor de clicar sobre a primeira foto, para ampliar. Já está? Então agora repare nas primeiras letras: E:M:C:L:X:V:III = Era de Mil cento sessenta e oito). O canteiro que cinzelou a inscrição da direita não cometeu portanto qualquer erro. E mais ainda. Uma vez que na mesma lápide original figura a data de 1228 para o cerco do Al Mansor, que se sabe ter ocorrido em 1190, por causa dos tais 38 anos a menos, devido à alteração de era, temos portanto que o início da edificação do castelo foi em 1 de Março de 1130, pois seria uma incongruência usar na mesma lápide duas eras diferentes, uma para o início da construção do castelo, outra para o cerco pelas tropas do Al Mansor. Ou estarei a ver mal?
Aqui fica a dúvida, ao cuidado dos historiadores encartados e outros especialistas locais, que não são nada poucos, mas em geral só aparecem quando já não são precisos...

Adenda:

O leitor Simon enviou um esclarecimento, dizendo que o X de 10 tem a perna que se vê à direita torcida e por isso vale 40. Por conseguinte, 1198. Andamos sempre a aprender. Nunca tinha ouvido ou lido tal coisa. É o que eu digo: aqui em Tomar e no país em geral arranjamos solução para tudo. Menos para o défice, que continua a crescer. Infelizmente.

anfrarebelo@gmail.com

domingo, 21 de fevereiro de 2016

PS Nabantino contra a corrente?

Mesmo com os seus defeitos, entre os quais avultam o rancor, o mau feitio e a carência de capacidade de encaixe, Luís Ferreira lá vai animando a política local. Procurando sempre levar a água ao seu moinho, como é natural.
Desta vez, porém, parece-me que se espalhou ao comprido. Os leitores julgarão, após leitura atenta.
No seu blogue vamosporaqui.blogspot.com, o ex-chefe de gabinete, agora funcionário administrativo destacado na secretaria de uma escola de Alpiarça, escreveu um longo texto, do qual reproduzo as partes que me parecem mais significativas:

"O PS foi para o Município para defender o concelho e os trabalhadores"

..."recordo aqui aquele que foi o primeiro despacho da presidente do município, nos dois anos estruturantes e marcantes desta gestão municipal.
Assim, recordando o primeiro despacho da gestão do PS em Tomar -de revogação do anterior despacho do horário de trabalho de 40 horas, foi um marco, um exemplo, e disse claramente ao que vinha.
(De notar que, para que tal fosse concretizado, não foi preciso nenhuma proposta dos ditos "donos" dos trabalhadores. Bastou o PS querer e fazer)"

Luís Ferreira, Vamos por aqui, 20/0272016 

Enquanto isto ocorre aqui em Tomar, em França, onde as 35 horas estão em vigor há 16 anos:


"Quem trabalha realmente 35 horas semanais?"

"A duração oficial do trabalho vai continuar a ser de 35 horas semanais? Poderá ser modulado nas empresas, mediante "acordos maioritários", declarou o ministro da economia Emmanuel Macron, em 22 de Janeiro, em declarações à margem do forum de Davos, na Suiça.
Em Setembro passado, uma sondagem publicada no jornal Libération, mostrou um país dividido em relação à duração do trabalho. Uma pequena maioria (52%) preferia continuar com as 35 horas semanais, enquanto 40% se declaravam dispostos a renunciar a esse limite."

Mas qual é efectivamente a duração da semana laboral nos diversos países europeus? E a duração das horas extraordinárias? O leitor fará o favor de ler e interpretar o quadro seguinte. A azul o horário oficial de trabalho hebdomadário. A amarelo as horas extraordinárias:


Temos assim Luis Ferreira, em nome do PS local, a vangloriar-se de uma medida decidida pela sua companheira, que no meu entender vai contra a corrente da história e é uma vergonha.
Vai contra a corrente da História porque em França, onde as 35 horas semanais vigoram desde 2000, tanto no sector público como no privado, o Presidente da República e o governo, que são do PS francês, procuram solucionar tanto quanto possível esse problema, sem desencadear a fúria dos sindicatos. Após 16 anos de prática, já terão percebido que afinal as 35 horas por semana são uma ratoeira para todos. Aumentam a despesa pública, retiram competitividade às empresas e não beneficiam os trabalhadores, obrigados a efectuar horas extraordinárias para compensar a perda de salário. Quando conseguem emprego, que os patrões não contratam ninguém só para 35 horas semanais. Demasiado oneroso, dizem.
A referida decisão de Anabela Freitas é também e sobretudo uma vergonha, numa câmara endividada até às orelhas, onde há funcionários excedentários, e numa terra com forte desemprego onde ninguém beneficia das 35 horas na actividade privada.
A referência desdenhosa do ex-chefe de gabinete aos "donos" dos trabalhadores mostra que toda esta sua arenga não passa afinal de mais um episódio lamentável da sua recente luta sem tréguas contra o vereador da CDU.
Por conseguinte, em conclusão, é meu entendimento que Ferreira se espalhou ao comprido e devia ter escrito, para citar as coisas pelos seus nomes verdadeiros: O PS foi para o município para receber benesses, proteger os funcionários do Império dos sentados e explorar os eleitores. Designadamente os consumidores de água, que a pagam bem mais cara que em Lisboa, apesar de ter a mesma origem e o mesmo fornecedor em alta.

anfrarebelo@gmail.com

sábado, 20 de fevereiro de 2016

O Mandanela está bem vivo

A inexistente ou fraca cultura política da generalidade dos tomarenses provoca situações insólitas. Sobretudo porque têm tendência a confundir os seus desejos com a realidade. Nessa senda, na recente salganhada camarária, apeado o Mandanela pelos seus filhos políticos e herdeiros ingratos,  pensaram que o assunto estava resolvido de uma vez por todos. Erro crasso.
O Mandanela tem os seus defeitos, como todos nós. No caso dele muito ampliados por ser um cabotino nato e um provocador político por prazer. Mas também tem muitas qualidades, a principal das quais é um bem muito raro por estas paragens -a inteligência. Algo que é inato, que não se pode adquirir durante a vida. Essa é que é essa! E o Mandanela sabe disso. Que é inteligente e que a malta em geral não o é.
Apeado do cavalo do poder pela sua companheira, pressionada pelos outros filhos políticos do Mandanela, o mártir tem agora a vida facilitada e um futuro político risonho à sua frente. Para já vai mandando mails aos funcionários, aos vereadores e aos membros da AM. Nesses escritos alerta para a influência cada vez maior do vereador comunista Bruno Graça e do ex-presidente Pedro Marques.
Penso que tem razão quanto àquele, mas erra completamente quanto ao vereador IpT, incapaz de controlar ou sequer condicionar o PSD local, pela simples razão que não tem qualquer visão estratégica.
Percebe-se o erro deliberado do Mandanela. Pretende passar a ideia de que os laranjas do executivo não passam afinal de meros verbos de encher, que deixam a querida presidente ir na onda do Bruno, um antigo marxista-leninista, agora integrado eleitoralmente nas hostes comunistas. Situação que, conforme o próprio Mandanela assinala, a breve trecho causará graves prejuízos ao município.
Resta esperar para ver. E constatar que afinal a notícia da morte política do Mandanela não passou de um exagero desses tais que confundem os seus desejos mais íntimos com a realidade envolvente. O ex-chefe de gabinete e principe transitoriamente com menos sorte sabe do ofício político. Por isso adoptou para já o célebre slogan político do Maio de 68, era ele uma criança: Ce n'est qu'un début, continuons le combat! Que é como quem diz  É só o início, vamos continuar a luta!
Isto promete!

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Queimar candidatos...

Tomar é um terra de gente pouco politizada e entranhadamente conservadora. Sempre foi. Não por acaso, escassas semanas antes do 25 de Abril, aquando do falhado golpe das Caldas, os militares insubmissos foram dominados e presos por outros militares... idos do tomarense Regimento de Infantaria 15. E desde que há eleições livres para a autarquia, sempre o vencedor tem sido um funcionário ou ex-funcionário público conservador, com a notável excepção do infeliz Corvêlo de Sousa, simples vítima das circunstâncias.
Compreende-se esta tendência generalizada para esperar tudo do estado e logo dos seus empregados, dantes servidores, agora na sua maior parte simples aproveitadores prepotentes. Mormente num concelho em que os eleitores/funcionários são largamente maioritários. Só que a crise iniciada em 2008 não há meio de acabar e a dívida pública não pára de aumentar, mesmo com os malabarismos do artista Costa. E os cidadãos eleitores andam positivamente acagaçados. Para usar uma frase de índole religiosa, não sabem a que santo rezar.
Neste ambiente de incerteza, nervosos e por isso inquietos, os mais ousados resolveram empreender uma fuga para a frente. Assim a fingir que são heróis. Pela primeira vez na história local, um autarca em exercício resolveu anunciar a sua recandidatura mais de 20 meses antes do previsto acto eleitoral. Passada a estranheza, Tomar na rede noticiou que Ivo Santos poderia ser o número dois dessa recandidatura. Surpresa e das grandes, um recente comentador destas lides, que assina José da Silva, um evidente nome suposto ou de empréstimo, foi mais longe. No mesmo blogue Tomar na rede tratou primeiro de assassinar politicamente a recandidata Anabela Freitas, traçou depois um perfil com foto do candidato ideal para a substituir como cabeça de lista da mãozinha e finalmente avançou a apoiar com entusiasmo o candidato que serviu de modelo para a foto do perfil.
É uma técnica conhecida, esta dos perfis à medida, que na política quase nunca dá bons resultados. Que o diga José da Silva, desculpem! José Vitorino, que assim foi designado numa primária interna do PS, feita à medida do seu perfil...e depois perdeu estrondosamente. Porque Roma não paga a traidores e nesse caso os eleitores tomarenses nunca se esqueceram que Vitorino fora antes autarca do PSD...
Desta vez o candidato a candidato até tem boas qualidades, o que aqui em Tomar nem sempre é uma vantagem. Trata-se do professor Ivo Santos, também empresário multifacetado, com algum sucesso. Infelizmente para ele, na minha pouco arguta opinião, esta sua proto-candidatura apenas serve para o queimar. Por um lado, porque o seu perfil foi relativamente mal traçado. Ninguém percebe por exemplo porque carga de água deve o futuro candidato ser da "nova geração", seja lá isso o que for. Por outro lado, lá está, porque Roma não paga a traidores. E o bom do Ivo já foi autarca eleito nas listas do PSD e depois cabeça de lista do CDS numa eleição seguinte. De forma que, surgir agora a encabeçar a lista PS só poderá ser um enterro de primeira classe.
De resto, tenho para mim que quem quisesse queimar simultaneamente a recandidatura da Anabela e a candidatura do Ivo, não procederia de outro modo. É só esperar pela confirmação.

anfrarebelo@gmail.com..

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Tomar, terra dos cinco Tês

Até agora esta santa terrinha tem sido conhecida como Tomar terra templária de turismo. Terra de quatro tês, portanto. Tenho porém a impressão que, pelo caminho que as coisas levam, não tardará muito para sermos conhecidos como a terra dos 5 Tês. Com o tê de TONTICE = coisa de tontos.
Refiro-me à Festa Templária. Alicerçada nas verbas de Bruxelas, a ADIRN -Associação para o Desenvolvimento Integrado do Ribatejo Norte, um organismo sediado alhures, resolveu organizar anualmente em Tomar uma Festa Templária. Naturalmente visando o desenvolvimento do turismo local, posto que este tipo de eventos nunca dá lucro por estas bandas. Com a colaboração de entidades locais, entre as quais o Município (câmara + juntas) e o IPT, a coisa foi marcada para Maio. Uma data excelente para fomentar o turismo fora de época, uma vez que contribui com um evento para alargar a "saison", uma das maiores dificuldades de todas a regiões turísticas europeias.
Porque na edição anterior a afluência não foi a esperada, ou por qualquer outra razão que me escapa, os mentores da Festa Templária conseguiram agora convencer a presidente da câmara e o IPT a mudar a dita festa para Julho. Percebe-se. Em Julho são as férias grandes,  estamos já em plena época alta, pelo que haverá sempre muito mais visitantes, o que melhorará os relatórios a enviar para Bruxelas, via Lisboa, justificando os euros gastos.
Para melhorar a coisa, até foram meticulosos. Escolheram o segundo fim de semana de Julho. E tanto a presidente da autarquia, que dá emprego a dois ou três técnicos superiores de turismo, como o representante do Politécnico, que tem um curso superior de turismo, que forma os ditos técnicos, acederam à ideia dos senhores da ADIRN. Nem ai nem ui. Ninguém se lembrou que no segundo fim de semana de Julho de 2019 temos também a Festa dos Tabuleiros. Assim, além de deixar de contribuir de forma eficaz para fomentar o turismo fora da estação alta, a Festa Templária vai encavalitar-se na tradicional festa grande dos tomarenses. Ou haverá também a intenção subjacente de inovar nessa área, levando alguns tabuleiros a cavalo?
É claro que será sempre possível emendar a coisa, dizendo agora que a Festa Templária será sempre no segundo fim de semana de Julho, salvo quando houver Festa dos Tabuleiros. Mas não passará de mais um remendo. De qualquer forma, mais tontice, menos tontice, praticamente já ninguém se rala, nesta terra cada vez mais dos 5 Tês.
Pobre da terra que tem tão pobre gente!

Leitores de Tomar na rede

Afinal, o excelente blogue Tomar na rede, feito a partir de Zurique pelo incansável José Gaio, tem "apenas" entre 3 mil e 3 e quinhentos leitores diários. E não os mais de 30 mil que anteriormente aqui anunciei, por lapso evidente do qual peço desculpa. Foi o próprio director do blogue, profissional probo e eficaz, (ainda que com uma ideia de liberdade de expressão não totalmente coincidente com a minha), que acaba de me solicitar esta rectificação. Por conseguinte, repito: Por enquanto Tomar na rede não tem mais de 30 mil leitores diários. Mas é pena porque merecia.
Por falar em audiências, os 3 paquidermes locais nada publicaram ainda sobre difusão controlada. Exactamente como eu já esperava. Perante tal silêncio e tendo em conta que há agora em Tomar um vasto leque de blogues (Tomar na rede, Rádio Hertz, Rádio Cidade de Tomar, Cidade de Tomar, O Templário, Tomar à letra, Vamos por aqui, Algures aqui, aos quais se virá juntar no final do mês o já anunciado Tomar opinião), estou a pensar acabar de vez com Tomar a dianteira. Por ter pouca audiência e porque, afinal, em vez de me ajudar a despejar a cabeça, que eu o meu único objectivo, escrever enche-ma ainda mais.
Peço por isso aos meus poucos mas fiéis leitores que tenham a bondade de se pronunciar sobre a continuidade ou o fim deste blogue. Assinando por baixo, como é normal entre pessoas de boa companhia. Podem fazê-lo para anfrarebelo@gmail.com, com a certeza de que nada será publicado, sem o seu prévio consentimento.
Aceitem desde já a minha gratidão pela ajuda na decisão.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Quantos leitores? Quantos ouvintes?

Mesmo lá longe, no frio suiço de Zurique, ou se calhar por isso mesmo, Tomar na rede aceitou imediatamente o repto que aqui foi lançado a todos os órgãos de comunicação sobre Tomar. Fica-se assim a saber que há entre 33 e 35 mil consultas diárias de página no blogue dirigido por José Gaio e pouco mais de 150 aqui em Tomar a dianteira. Guardadas as proporções, a mesma diferença abissal que existe entre o Correio da manhã, com uma tiragem diária de 130 mil exemplares, e o Diário de Notícias, bem mais antigo, mas que se fica pelos 14 mil exemplares. Um pouco menos que o Público, outro jornal de qualidade que vende menos de 15 mil exemplares diários, apesar de ter duas edições, uma no Porto, outra em Lisboa.
Surpreendido perante estes dados, caro leitor? Não  é caso para tanto. Afinal estamos num país em que os dois jornais de maior difusão são A Bola e o Record. Já percebeu agora?
No que se refere à diferença oceânica entre Tomar na rede e Tomar a dianteira 3, há que ter em conta os seguintes factores: 1 - Tomar na rede é um blogue generalista, que publica tudo e de vários autores. Tomar a dianteira só publica crítica e notícias comentadas, de um só autor; 2 - Tomar na rede tem já dois ou três anos; Tomar a dianteira 3 tem apenas 3 meses; 3 - Tomar na rede publica notícias e outros textos de uma área alargada, que inclui todo o distrito de Santarém, enquanto que Tomar a dianteira se fica pelo comentário crítico sobre a cidade e o concelho; 4 - Tomar na rede anuncia festas e dá relevo às actividades desportivas, assuntos que Tomar nunca aborda por decisão do seu autor. 5 - Tomar na rede aceita e publica comentários, mesmo de qualidade muito duvidosa; Tomar a dianteira acabou com essa prática. E não está arrependido.
Concluindo, temos duas coisas do mesmo género, porém totalmente diferentes. Tomar na rede é um blogue generalista de grande difusão, cuja qualidade e regularidade honram o seu autor, o Dr. José Gaio, a quem aqui tiro o meu chapéu e felicito muito sinceramente pelo seu sucesso.
Tomar a dianteira é apenas aquilo que sempre quis ser -um blogue confidencial onde apenas se pode seguir o discurso crítico de um comentador, porventura fraco, porém frontal, sincero e descomprometido.
Óptimo seria que Cidade de Tomar, O Templário, Rádio Hertz e Tomar à letra se enchessem de coragem e dessem o peito às balas, anunciando as suas tiragens e audiências reais. Mas duvido muito que o venham a fazer. É mais cómodo e rentável em  termos de prestígio continuar a manter o actual estado de coisas. Que permite a alguns falar de cátedra, quando afinal poucos os ouvem ou lêem.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Uma infantilidade

A notícia vinha no Correio da Manhã de ontem. Alguns municípios  -91 entre os 308 existentes- vão devolver IRS aos contribuintes residentes fiscais, numa percentagem que varia de concelho para concelho. Percorri a lista e confesso ter ficado embasbacado. O município de Tomar vai devolver cerca de 150 mil euros!
Posso estar a ver mal, mas parece-me  uma infantilidade. Mais uma. Por um lado, porque entendo ser pouco ou nada racional estar a devolver parte dos impostos já cobrados, quando se sabe que a dívida municipal ultrapassa os 30 milhões de euros, o que implica encargos apreciáveis com juros. Alguns a 9%, como no caso do litígio com a ParqT. E já que mencionei o caso ParqT: Então a nossa simpática presidente decidiu deixar de pagar as prestações mensais, a que por decisão judicial o município está obrigado, alegando falta de disponibilidade orçamental, e agora resolve devolver impostos já cobrados? 
Por outro lado, sendo os tomarenses escandalosamente explorados nos preços da água que consomem + respectivas alcavalas, e não podendo mudar de fornecedor, dado o monopólio municipal de facto existente no concelho, não seria preferível baixar esses preços e taxas, em vez de andar a brincar aos concelhos ricos e generosos, distribuindo "rebuçados" só a alguns munícipes? Sim, porque os residentes concelhios que são realmente os mais necessitados nem sequer pagam IRS. Estão isentos. Por conseguinte não podem ser abrangidos pela devolução...daquilo que não pagaram. Mas podem beneficiar de eventuais reduções nos abusivos custos da água fornecida pelos SMAS.
Senhoras e senhores autarcas, por favor pareçam e sejam adultos competentes, dignos dos cargos que ocupam. Não desacreditem ainda mais a classe governante dos aviários partidários que temos. Deixem-se de reinações políticas, A conjuntura não está para isso. Se é que alguma vez esteve ou vai estar. 

Qual a audiência de Tomar a dianteira - 3 ?

À falta de tema mais interessante, eis alguns elementos estatísticos sobre este blogue. São dados incontestáveis porque facultados pela própria Google, portanto sem hipótese de maquilhagem. Todos os números se referem a visitas de página, ou seja ao total de pessoas que clicaram para ver determinado texto.

Consultas de página de ontem, 15/02/2016...................................................................156
Consultas de página nos últimos 30 dias................................................................... 3.325
Consultas de página desde o reinício do blogue, em 15/11/2015..................................6.846

TEXTOS MAIS CONSULTADOS

A lenta erosão da câmara nabantina, 05/01/2016.........................................................156
Uma história alarmante..., 11/02/2016........................................................................133 
Bronca em obra desembargada, 10/02/2016................................................................120

ORIGEM GEOGRÁFICA DOS VISITANTES

Portugal.......................................................6.259
Suiça..............................................................289
Estados Unidos...............................................78
Inglaterra.........................................................34
Polónia............................................................25 
Brasil...............................................................21
Andorra...........................................................10
Espanha...........................................................10
França................................................................6
Marrocos.......................................................... 6 

No meu entender, seria de todo o interesse que cada órgão de comunicação lido/ouvido na urbe publicasse de quando em vez as suas estatísticas. Bem sei que haveria surpresas bastante desagradáveis, mas as coisas são o que são. Escreveu A. Lincoln, presidente dos USA, que "É possível enganar algumas pessoas durante algum tempo, mas impossível enganar toda a gente durante toda a vida." Venham de lá essas audiências!                          .

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Cenas de caça...ao voto

Noticia a Rádio Hertz que o vereador Tenreiro voltou a interpelar a presidente Anabela, para que lhe forneça  informações sobre sucessivos subsídios a duas associações da casa -a dos bombeiros municipais e a da câmara e serviços municipalizados. Na minha óptica, trata-se apenas de mais uma cena de caça...ao voto.
Tenreiro tem eleições internas previstas para o mês que vem. O que o obriga a ir apresentando trabalho, levantando caça e tentando abatê-la. Sob pena de não conseguir a almejada reeleição A vida politico-partidária é assim. Por isso, com punhos de renda, para não espantar a caça, lá foi dizendo que até apoia também as ditas e meritórias associações, querendo porém saber qual o destino de sucessivos subsídios camarários.
Por seu lado, já na corrida para Outubro do próximo ano, a presidente vai procurando caçar votos na ampla reserva municipal. Usa para isso duas armas bem conhecidas e de eficácia comprovada: Os subsídios às colectividades concelhias e as cedências gratuitas do autocarro, numa indecente concorrência aos industriais do sector, que asseguram emprego e liquidam com língua de palma as suas obrigações fiscais.
É claro que nenhuma destas salganhadas -afinal apenas caça ao voto mal disfarçada- se distingue pela clareza de processos. Nem podia. Tal como acontece de resto com essa outra contestável prática dos presidentes de junta, que para caçar votos organizam anualmente várias excursões gratuitas com comezaina e bailarico, oficialmente só para a 3ª idade, mas afinal para quem apareça, desde que seja eleitor na freguesia...
Não havendo clareza de processos nem de intenções, é lógico que à presidente do executivo não interessa revelar detalhes. Pelo contrário. Lá diz o ditado que o segredo é a alma do negócio. Foi o que aconteceu mais uma vez. A simpática Anabela respondeu polidamente ao seu colega de executivo, mas negou de facto os elementos solicitados. Atitude particularmente grave nesta altura do mandato.
Como é comum dizer-se, à mulher de César não lhe basta ser séria. Tem de parecê-lo. E quando acaba de ser forçada a exilar o seu César, a coisa é ainda mais necessária. Resta agora saber se o vereador Tenreiro resolve ser duro, ou continuar tenrinho como até aqui. Se for duro e recto, apresentará na próxima reunião do executivo um pedido escrito, ao abrigo do disposto no artigo 5º da Lei 46/2007 - Lei do direito à informação. E aí a presidente não se pode refugiar em conversas de circunstância. Terá mesmo de fornecer os elementos solicitados, no prazo legalmente estipulado. Ou pelo menos facultá-los para consulta.
Caso o bom do João prefira continuar tenrinho, para não assustar prematuramente a caça nem ferir as conveniências do momento, então terei de ser eu a desencadear o processo. Indo até aos tribunais...administrativos se necessário for.
Aqui fica o repto. Sem qualquer ambiguidade, porque eu não ando na caça ao voto.  

domingo, 14 de fevereiro de 2016

Um barco à deriva e uma proposta para ornamentar

Se dúvidas houvesse sobre o facto da governança municipal não passar afinal de um barco à deriva em mar agitado, os factos aí estão para o confirmar. Numa semana, a imprensa local e nacional publicou anúncios da câmara sobre a revisão de planos de pormenor. Concretamente o do Mercado/Flecheiro e o do Núcleo Histórico. No caso daquele, trata-se de tentar resolver, legalizando-o, o escandaloso caso do novo Lar da Misericórdia, pronto há mais de dois anos mas ainda encerrado. Quanto ao outro, nada transpirou mas será decerto, como já vem sendo hábito, para endireitar mais uma ou outra aselhice anterior. E não tarda vamos ter mais planos de pormenor, como o da zona do Pingo doce, por exemplo. Para ir entretendo o pessoal, no quadro da política do faz de conta.
Tudo isto acontece numa altura em que a simpática presidente insiste na afirmação de que estão a trabalhar, mas cá fora ninguém vislumbra em quê. Sucede até que a revisão do PDM, iniciada já ninguém sabe bem quando, nunca mais é dada por concluída. Porquê? Porque o que nasce torto, tarde ou nunca se endireita? Se é o caso, tenham então a decência e a coragem de o dizer...
Neste ambiente de viagem sem rumo definido, de barco à deriva, os laranjas locais resolveram avançar agora com uma proposta para ornamentar. Assim, sem ponderarem devidamente a coisa. Pretendem uma paragem na zona do Mercado Municipal para os autocarros de turismo largarem e tomarem passageiros-turistas.
É uma estranha proposta, sem cabimento, digo eu, porque: 1 - Não me consta que o Mercado Municipal de Tomar tenha algum interesse especial para o turismo organizado, o único que chega de autocarro. É um mercado como o de Torres Novas, do Entroncamento, de Ourém e tantos outros...onde não me consta que haja locais de paragem para autocarros de turismo; 2 - Um autocarro de turismo não é a mesma coisa que um autocarro da carreira, que toma 2 ou 3 passageiros aqui e larga 1 ou 2 acolá.  O autocarro de turismo regra geral transporta 45/55 turistas, que embarcam e desembarcam em bloco em cada paragem, o que implica inevitavelmente uma imobilização entre 15 e 30 minutos. Digam-me por favor onde é que, na zona do mercado e às sextas-feiras, um autocarro parado durante mais de um quarto de hora não causa transtorno ao trânsito normal? 3 - Admitindo que algum guia ou motorista de turismo caísse na patetice de largar clientes para irem fazer compras ao mercado municipal, quanto tempo teriam de esperar depois pelos inevitáveis retardatários, estacionados naquela confusão das sextas-feiras?
Não, senhores autarcas laranjas. Assim não vão lá. Se presentemente os profissionais de turismo nem sabem bem como fazer quando vêm a Tomar, julgam que alguma vez vão levar  os clientes a visitar um mercado que não é especialmente apelativo para turistas? Ficam-se pelo Convento e já não é mau de todo, dadas as bem conhecidas limitações nabantinas. O resto são sonhos de quem nunca trabalhou em turismo nem viajou em circuitos turísticos. Especialistas de ideias gerais...

sábado, 13 de fevereiro de 2016

É uma experiência muito enriquecedora...

No passado dia 11 relatei e publiquei aqui fotos da minha caminhada até Carvalhos de Figueiredo, na freguesia urbana de Tomar. Procurei assim  alertar para os perigos evidentes dessa estrada. Onde não houve qualquer melhoramento nos últimos 15 anos, excepto o novo atravessamento da via férrea. Naturalmente, agi com a ideia subjacente de pedir soluções rápidas e eficazes aos detentores do poder. Apenas falei em passeios a título comparativo, dizendo que já foram feitos na Estrada de Coimbra e na de Leiria.
O blogue Tomar na rede teve a amabilidade de "linkar" o dito escrito, o que naturalmente ampliou e muito a sua audiência. Foi quanto bastou para que um prendado habitante da urbe, que cá não nasceu se é quem julgo, aproveitasse a aberta para usar da sua habitual logorreia. Exarou o corajoso anónimo este brilhante comentário no citado blogue, com direito a repetição de "Já agora", belo exemplo de grande destreza no uso da língua-mãe:"Já agora esse blogueiro queria passeios ao longo de qualquer estrada. Não tem noção do que diz. Os automobilistas é que obrigatoriamente por lei devem ser prudentes assim como os peões. Já agora porque não passeios com calçada portuguesa a ladear as autestradas?"
Tratando-se de quem penso, é costume lamentar-se da falta de "graveto". Esta sua elegante e polida prosa mostra, mais uma vez, que além do "graveto" lhe faltam outras coisas: inteligência, educação, boas maneiras, respeito pelos factos e pelos outros, recato, sentido da realidade. Mas em contrapartida denota excesso de prosápia, de paleio ornamental e sobretudo inveja, muita inveja! Ele sim, não tem a noção do que diz.
Noutra matéria de índole local, li na página da Rádio Hertz isto: "Autocarros de turismo podem ter local de "desembarque" na área do mercado municipal" Segue-se uma curta prosa sobre o tema, na qual o jornalista de serviço cita a dado passo um conhecido autarca laranja nabantino -"Temos de equacionar a colocação naquele local de um local de desembarque para deixar passageiros. Poderá ser uma valorização para aquilo que já existe."
Tenha piedade dos leitores, distinto senhor autarca! É muito local em semelhante localização. A fazer lembrar os velhos tempos dos seus avós. Do "Há sócios que são sócios e sócios que não são sócios...", de saudosa e tragicómica memória.
Visivelmente o senhor tem alguns problemas com a língua pátria. Acontece. Resta-lhe continuar a aprender...e ir pedindo que o ajudem nessa área. Não será o único. Nem é vergonha nenhuma.
Concluindo, neste sábado cinzento e chuvoso em que estava sem tema -É uma experiência muito enriquecedora partilhar da vida de uma urbe que conta com tais concidadãos. Respira-se cultura e conhecimento por todos os lados. Estou cada vez mais contente por aqui ter vindo ao mundo.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Uma história alarmante e triste numa dúzia de imagens

Como tinha de ir comprar um pequeno acessório a Carvalhos de Figueiredo, resolvi alterar o percurso da usual caminhada. Fui e regressei a pé. Não tive problemas. Confesso porém que me senti pouco tranquilo durante o trajecto, que considero muito perigoso. Passo a contar, apoiado nas fotos:

O primeiro sobressalto aconteceu aqui. Após alguns metros a matutar que é preciso ter muito pouco brio profissional para, em pleno século XXI, projectar e/ou aprovar um passeio com apenas 40 centímetros de largo numa área urbana, dei-me conta que simplesmente não havia mais passeio. No limite da cidade!

 Sem passeio, tinha três hipóteses: 1 - Ir pelo meio da erva...

 e pelos charcos, todo contente por estar caminhando no quilómetro 98 da estrada nacional 110, que nos liga a Coimbra, ou 2 -  Ir pelo meio da estrada.

Não tendo tendências suicidas nem masoquistas, optei pela 3ª hipótese. Atravessei a via, mas não me valeu de nada. Do lado oposto, o passeio termina em triângulo, mesmo antes da curva.

Continuei em frente, porém com o credo na boca. Não há valeta, não há passeio nem berma marcada. E também já não tenho idade para ir por cima do muro.

Mesmo onde se mantém a sinalização da berma, anterior às obras do viaduto ferroviário, continua a não haver valeta ou passeio.

Logo a seguir à Capela de S. Lourenço, a demonstrar que o desmazelo não acontece só com a estrada, eis o estado lamentável em que encontra o caminho que durante séculos permitiu à população o acesso ao rio. Até mandaram ou deixaram entulhar a margem.

Mais adiante, outra confirmação do miserável estado de toda aquela zona. Espaço há. Valeta e passeio é que não!

E quando há valeta, não há passeio, nem marcação de berma. Os peões que se desenrasquem!


Foi o que tive de fazer durante todo o percurso. Aqui, já de regresso, vinha mais tranquilo, porque caminhando pela valeta, mas afastado da faixa de rodagem. O que é bem mais seguro, numa curva com pouca visibilidade.

Afinal foi sol de pouca dura. Acabada a valeta, fui forçado a ir para a estrada novamente.

E, sem nenhuma sinalização das bermas, se tivesse sido atropelado, o culpado seria eu, por caminhar em plena faixa de rodagem. Ninguém diria então que não tivera outro recurso, por nem sequer haver bermas marcadas...

Perante tal miséria em plena cidade e na principal via de acesso, os senhores autarcas que temos conseguem dormir descansados? A senhora presidente continua a pensar que a criticam porque a câmara está a trabalhar, como declarou recentemente? Não será exactamente o oposto?
Aquele pequeno passeio na antiga Rua de Coimbra, onde agora a brigada da câmara anda toda entretida quando não chove, era mesmo prioritário em relação a esta desgraça calamitosa, que todos os dias põe em perigo vidas humanas? Tudo isto parece normal ao respeitável presidente da junta urbana, que até mora para as bandas de Carvalhos de Figueiredo?
Trata-se afinal da principal entrada em Tomar, para quem vem de Lisboa ou do sul. As outras duas entradas, a de Coimbra e a de Leiria-Ourém, já têm passeios há anos. Nesta estão há espera de quê? Que haja mortos a lamentar? 

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Uma agradável surpresa

Não assisti ao carnaval de Tomar. Sempre fui e continuo pouco dado a essas coisas de alegria a horas certas, previamente marcadas. E depois o tempo também não estava grande coisa. Ainda assim, quando passei pela praça da República, por volta das cinco da tarde, rumo à habitual caminhada, fiquei surpreendido com o tamanho e a exuberância dos carros alegóricos, pouco habituais em Tomar.

                                Foto Carlos Piedade Silva/Tomar na rede

Houve um que atraiu especialmente a minha atenção -uma excelente representação improvisada da Ponte de Londres. Intrigado, fui ver a que propósito aparecia semelhante alegoria no carnaval nabantino. Uma pequena tabuleta a preta e branco tirou-me logo as dúvidas: "Tomarenses em Londres por não existir noite em Tomar".
Só bastante mais tarde acabei por entender o sofisticadíssimo humor em 2º grau de tal indicação. Porque realmente está-se mesmo a ver. Há cada vez mais nabantinos em Londres, especialmente por não existir noite em Tomar. Na mesma senda, arriscaria até uma segunda hipótese. Para fugirem às incomodativas ofertas de emprego na cidade e no concelho, que são tantas e com remunerações tão tentadoras...
Crise? Qual crise? Realmente esta malta mais nova está-me a sair melhor que a encomenda. O que pode vir a augurar um futuro menos sombrio para o vale do Nabão. No mínimo sempre iremos rindo um bocado de forma requintada. Ou estarei a focar mal?

anfrarebelo@gmail.com

BRONCA EM OBRA DESEMBARGADA

Presidente assina praticamente de cruz
Fiscais maltratados
Presidente pede intervenção da PSP
Confinantes prejudicados dizem que se mantêm as causas do embargo

Com a devida vénia e os meus agradecimentos, reproduzo da página Net da Rádio Hertz:
Pedro Marques: "Pode ser coincidência ou não, mas neste período em que o vereador Serrano não esteve a exercer funções, aquela obra na Marquês de Pombal andou... E eu gostava de saber... Foi levantado o embargo? Há embargo? Foi licenciada ou não foi? Inclusivamente sei que a polícia passou lá,  porque houve uma altura em que os senhores espalharam areia no passeio e na estrada. Passeio e estrada eram local de obra. A situação com os prédios vizinhos foi acautelada ou não ? Gostava de saber, pois somos questionados na rua..."

Anabela Freitas: "Efectivamente o processo foi despachado por mim, porque me foi colocado como em condições para poder ser deferido. E as obras foram retomadas. No entanto, mandámos lá os fiscais porque para além do retomar da obra houve também uma licença de ocupação da via pública. E mesmo com esta licença, a obra tem que permitir que o cidadão transite no passeio. Ou seja, não pode ocupar da forma que ocupou. Foi por nossa iniciativa que chamámos a PSP, porque os fiscais estavam a ser maltratados."


                                Foto Rádio Hertz

Para um cidadão amante da boa democracia, como eu sou, este curto excerto de uma sessão do executivo camarário nabantino parece merecer alguns comentários.
Antes de mais, saudar a audácia de Pedro Marques, que desta vez ousou colocar o dedo na ferida. A tempo e a horas e no local próprio. Só lhe fica bem.
A seguir, reparar no estilo Anabela Freitas. Não respondeu directamente a nenhuma das questões colocadas pelo seu vereador. Preferiu as habituais indirectas. E esquivou o que não lhe convinha. Segundo afirmou "o processo foi despachado por mim porque me foi colocado como em condições de ser deferido." Noutros termos: assinou praticamente de cruz. Não procurou indagar qual ou quais as razões que levaram a poder ser ultrapassada a situação de embargo. Se o fez não o disse, o que para o caso vai dar no mesmo.
Porque o essencial, parece-me ser isto: Coincidência ou não, para usar os precisos termos do vereador Pedro Marques, enquanto o licenciamento de obras particulares esteve a cargo do vereador Serrano, o caso arrastou-se durante meses e meses, sem que se vislumbrasse uma solução. De repente, Serrano perde os seus pelouros, a presidente assume o do licenciamento de obras particulares e o processo é deferido sem mais delongas. É velocidade nada habitual e nitidamente excessiva para uma viatura tão antiga, pesada e cansada quanto a autarquia. A indiciar que poderá ter havido por ali algures algum aditivo especial, para  tornar mais eficaz o usual combustível e assim conseguir uma aceleração mais acentuada.
Calúnia? Nem pensar. Limito-me a raciocinar tendo em conta a velha sentença salazarista, segundo a qual, em política o que parece é. E neste curioso caso as aparências não iludem ninguèm. Considero o arquitecto Serrano uma pessoa íntegra e um profissional idóneo. Gostaria muito de dizer outro tanto de todos os restantes intervenientes neste processo, mas infelizmente não posso.
Resta o caso dos fiscais maltratados. É ponto assente que a sua reputação moral é das piores. Não falo dos actuais, que nem sequer sei quem são, mas de alguns dos seus antecessores de bem triste memória. Haverá aí alguma relação de causa a efeito? Regra geral, quando o dono da obra ou o empreiteiro respectivo têm de investir por debaixo da mesa para conseguirem trabalhar em paz, sentem-se logicamente com as costas quentes...porque julgam ter amigos bem colocados. Daí aos exageros de parte a parte...

Vamos ter mais um escândalo de grandes proporções?

Em semelhante contexto, se estivesse no lugar da nossa simpática presidente, nem hesitaria um minuto sequer. Para evitar novas trapalhadas e outras tranquibérnias que se anunciam, convocava os jornalistas para uma conferência de imprensa e, acompanhada pelos vereadores, procedia ao strip-tease total do projecto em causa. Após o que responderia directamente a TODAS as perguntas.
É porém plausível que Anabela Freitas não esteja em boa posição para o fazer, esse tal strip-tease informativo. Tomar a dianteira sabe, de fonte directa, que os confinantes prejudicados continuam sem ter acesso ao projecto inicial aprovado, ignoram qual o destino final do edifício e não sabem sequer qual a situação actual do processo. Aguardam a resposta camarária a duas cartas registadas com aviso de recepção, uma delas enviada há mais de um ano.
Tudo razões para que a eleita socialista  procure informar-se de forma detalhada, para depois transmitir aos restantes eleitos do executivo, à AM e aos eleitores. Tanto mais que, ao deferir o prosseguimento das obras, a câmara tornou-se cúmplice das ilegalidades antes ali cometidas, com todas as gravosas consequências daí resultantes...
Anuncia-se portanto mais um caso que pode muito bem vir a tornar-se escandaloso, à medida que se  forem aproximando as próximas autárquicas.

anfrarebelo@gmail.com

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

A passo de cágado

Segundo Tomar na rede, o Diário da República acaba de publicitar a fase de discussão pública do plano de pormenor do Mercado e do Flecheiro, cuja revisão foi decidida pelo executivo tomarense em Maio passado -há nove meses! Acrescenta a notícia que, uma vez aprovada e implementada esta nova legislação, vai ser possível legalizar finalmente o lar de idosos da Misericórdia nabantina, que está pronto mas fechado há dois anos!
É um perfeito retrato da triste realidade tomarense. Numa altura de profunda crise, eleitos e técnicos municipais continuam a brincar à legislação. Como em geral nunca trabalharam no privado, ignoram o que possam ser fins de mês difíceis.  Acham portanto natural que uma onerosa obra privada de utilidade pública aguarde há dois anos por uns simples papéis autorizando-a a funcionar. Mentalidades soviéticas no seu melhor.
Nas actuais circunstâncias, com eleitos e técnicos da área do urbanismo e obras particulares que não dão quaisquer garantias (salvo raras excepções), só um louco ou alguém muito mal informado arriscará investir um cêntimo sequer nesta desgraçada terra. E sem investimento não há emprego produtivo, sem emprego não há desenvolvimento e sem desenvolvimento a cidade e o concelho definham e esvaiem-se.
Mas funcionários camarários e eleitos continuarão a ir todas as manhãs tomar o seu café, ufanos, impávidos e serenos, como se não fosse nada com eles. Já Voltaire escreveu, no seu Candide ou o optimismo, perante as fogueiras e outros desmandos da santa inquisição, no meio das ruínas do terramoto de 1755, "vai tudo bem no melhor dos mundos possíveis." 
A passo de cágado, no caso tomarense. Decerto para a morte inevitável tardar um pouco mais. Conforme sentenciou já não me lembro qual dos nossos reis, no auge de uma batalha - "Morrer sim, mas devagar!" Há que reconhecer que os camaristas que temos, tanto os eleitos como os funcionários, fazem todos os possíveis para que assim seja. Respeitam portanto uma certa tradição. Por isso estamos tão bem e por este caminho estaremos cada vez melhor.

anfrarebelo@gmail.com

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Crise em Paris, devido aos atentados

"Por falta de clientes, o Pied de Cochon [célebre e muito concorrido restaurante parisiense] começou a encerrar à meia-noite e meia hora, às segundas, terças e quartas, a partir de 1 de Janeiro. Desde  a inauguração, em 1947, este restaurante  da zona dos Halles, bem conhecido pela sua sopa de cebola, estava aberto 24 horas por dia, 7 dias por semana.
Dados oficiais, dizem que os atentados provocaram um redução de 1% do PIB francês , no quarto trimestre, sobretudo nas áreas do alojamento e da restauração. Outro sector atingido e já antes com dificuldades, é o do turismo. Depois dos russos e dos chineses,, desde o final de 2014, [os atentados foram em Novembro], chegou a vez dos sul-coreanos e dos japoneses renunciarem também a uma estada na capital francesa.
Segundo o organismo de desenvolvimento turístico Atout France, a redução do total de turistas é da ordem dos 20%, em Paris e zonas limítrofes.Com forte preocupação da Air France, que avalia a redução do negócio na ordem dos 120 milhões de euros, metade do lucro conseguido em em 2015. 
Que fazer então para conseguir a retoma do turismo em Paris? Enquanto os grande armazéns continuam a insistir na abertura aos domingos, Atout France procura sossegar a clientela asiática, no que se refere às condições de segurança. Nesse sentido, associou-se à Air France, que recebeu em Janeiro uma delegação de operadores turísticos nipónicos, para procurar engendrar um plano de reconquista comercial.


E para procurar serenar mesmo estes turistas especiais do Arquipélago, dos quais quase metade já tinham renunciado a vir a França, as duas sociedades levaram-nos a visitar...o 36 Quai de Orfèvres, sede da polícia e da PJ". Muito conhecida graças ao fictício  Inspector Maigret, dos livros policiais de Georges Simenon. Mas é claro, creio eu, que não foi só nem principalmente por causa do Maigret que foram visitar um edifício em geral fechado ao público. Antes, no meu entender, além do resto, para verem as dezenas de salas e as centenas de écrãs... oficialmente só para vigiar o trânsito, bem entendido.

Juliette Garnier, com o serviço economia, Le Monde - Economie e Entreprise,, 07/08/Jan/2015
Tradução adaptação e resumo de A. Rebelo

Que tem tudo isto a ver com Tomar? O leitor dirá. Tendo em mente que "quando vires as barbas do vizinho a arder, põe as tuas de molho". mas também que o concelho de Tomar corresponde a apenas 1% da população de Paris/Ile de France. 
Dito isto, por estes lados a população diminuiu cerca de 3 mil pessoas nos últimos 10 anos, aumenta o desemprego, multiplicam-se as falências e os imóveis devolutos e as ruínas, algumas mascaradas com fotos, mantêm-se as usuais dificuldades na área do licenciamento, pagamos das águas mais caras do país, e por aí adiante. Mas não há crise, segundo os senhores eleitos. Dizem que é apenas invenção de alguns comentadores. A prova, acrescentam, é que nem os jornais impressos nem as rádios locais falam no assunto. O que me parece ser pouco abonatório para os citados. Entretanto tivemos direito a algumas "Cenas da vida conjugal", de Bergman, com laivos de "Mulheres à beira de um ataque de nervos", de Almodôvar. Aguardam-se as cenas dos filmes seguintes.
Em todo o caso e à cautela, se no âmbito da promoção do turismo local o executivo mandar vir algum grupo de viajantes estrangeiros de marca, aconselho que os deixam visitar o Convento sozinhos, para se poderem perder à vontade. E para verificarem que em matéria de segurança não existe absolutamente nada. Apesar daquilo ser património da humanidade.
Depois da antiga sede da Ordem de Cristo, é minha opinião que os devem deixar assistir a uma sessão da AM e outra do executivo. De seguida, virá mesmo a calhar a visita a um dos serviços instalados nos Paços do Concelho e a uma brigada municipal em serviço externo (que não seja a de recolha do lixo, pois esses trabalham a sério, visto que têm a comandá-los o ritmo do condutor e a extensão do giro).
Os forasteiros ficarão assim a saber, por observação directa, que não há pórticos de segurança em lado algum por evidente falta de utilidade. Com os trabalhadores e os eleitos da artarquia a funcionar em três andamentos (devagar, muito devagarinho e parados, tal como na tropa antes da guerra em África), têm todos muito tempo para observar em volta e detectar sem falhas qualquer candidato a terrorista. Ou estou a ver mal e os pórticos fazem mesmo falta?                                   

Se...

Para um jovem e simpático candidato laranja, que almeja voos mais altos:

Se consegues manter a calma
quando à tua volta todos a perdem
e te culpam por isso

Se consegues ter confiança em ti
quando todos de ti duvidam
e aceitas as suas dúvidas

Se consegues esperar sem te cansares da espera
ou caluniado não responderes com calúnias
ou odiado não dares espaço ao ódio
sem porém te fazeres demasiado bom
ou falares alardeando conhecimentos

Se consegues sonhar
sem fazeres dos sonhos teus mestres

Se consegues pensar
sem fazeres dos pensamentos teus objectivos

Se consegues encontrar-te com o Triunfo e a Derrota
e tratares esses dois impostores do mesmo modo

Se consegues suportar
a escuta das verdades que dizes
distorcidas pelos que te querem ver cair em armadilhas
ou encarar tudo aquilo por que lutaste na vida ficar destruído
e reconstruires tudo de novo
com instrumentos gastos pelo tempo

Se consegues num único passo arriscar tudo o que conquistaste
num lançamento de cara ou coroa,
perderes e recomeçares de novo
sem nunca suspirares por teres perdido

Se consegues constringir o teu coração os teus nervos e a tua força
para te servirem na tua vez
depois de já não existirem, 
e aguentares quando já nada tens em ti
a não ser a vontade que te impõe "Aguenta-te"

Se consegues falar para multidões
e manteres as tuas virtudes
ou andares entre reis e pobres e agires naturalmente

Se nem inimigos
nem amigos queridos 
te conseguirem ofender

Se todos podem contar contigo
mas ninguém em demasia

Se consegues preencher cada minuto
dando valor a todos os segundos que passam

Tua é a Terra e tudo o que nela existe
E mais ainda:
Tu serás um Homem, meu filho!

Rudyard Kipling, 30/12/1865 - 18/01/1936
Tradução de Vítor Vaz da Silva
Adaptação de A. Rebelo

Tu serás um Homem, meu filho! E poderás vir a ser um grande presidente da câmara, coisa que nunca houve por estas bandas desde o 25 de Abril. Caso reúnas em ti todos aqueles predicados implícitos neste poema de Kipling. Como arrisco afirmar que não será o caso, nem coisa parecida, insisto na minha ideia: Nada melhor que uma eleição primária aberta. Para que não restem dúvidas...

anfrarebelo@gmail.com